Musa do tênis brasileiro pausa carreira para voltar a estudar

Ao invés de passar as manhãs na escola, fazer seus deveres à tarde e vez ou outra encontrar os amigos à noite - como uma garota de classe média faria na adolescência -, Flávia Borges vivia uma rotina diferente. Disposta a se tornar uma tenista profissional, a menina nascida em Campinas, no interior de São Paulo, abandonou os estudos aos 14 anos e passou a se dedicar "24 horas" ao esporte.

A decisão mostrava resultado: Flávia Borges conseguia resultados expressivos e ganhava alguns pontos no ranking da WTA. Ela também foi campeã em simples e duplas do Campeonato Brasileiro juvenil de 2009, além de ter sido eleita a musa da competição. Mas, em decorrência da falta de apoio para a modalidade no País, ela decidiu interromper a carreira no início de 2010, com 18 anos, e retomar os estudos escolares.

E quanto ao tênis? Sem treinar, ela ainda não sabe se voltará às quadras na metade do ano que vem, quando concluir o Ensino Médio. "Voltei a estudar e, com isso, não tenho mais tempo", contou Flávia Borges em entrevista ao Terra. Ela chegou a ocupar a colocação de número 76 do ranking juvenil da Federação Internacional de Tênis (ITF) e o posto 883 da WTA em 2007, ainda com 16 anos.

"Pode ser que eu volte mais para a frente, quando terminar o colegial. Mas não estou treinando", acrescentou Flávia, jogadora canhota de fundo de quadra admiradora da garra da russa Maria Sharapova, do estilo de jogo da sérvia Ana Ivanovic e da belga Kim Clijsters, mas fã incondicional do suíço Roger Federer.

Antes de voltar a estudar, Flávia treinava em dois períodos: das 8 às 12h e, depois, das 15 às 18h. Nesse intervalo, além de almoçar, fazia musculação. Ao final dos treinamentos, ainda realizava sessões de fisioterapia, alongamento e postura. "Se você quer chegar lá tem que ser assim", explicou a tenista, que havia deixado o colégio com 14 anos.

A decisão de retornar ao Ensino Médio partiu dela própria no final de 2009, quando disputava torneios na América Latina da ITF em Lima (Peru), La Serena e Santiago (Chile). "Eu tinha 18 anos e vi que precisava terminar o colegial, pois você não vai vencer na vida se não estudar. Ainda não sei o que quero, mas gosto bastante de jornalismo, turismo e diplomacia", contou a tenista, que começou no esporte aos seis anos.

Outro motivo crucial para a decisão de Flávia foi a situação do tênis feminino brasileiro: atualmente, a melhor representante do País é Maria Fernanda Alves, na colocação número 287 do ranking da WTA. Além disso, são poucos os torneios para mulheres organizados no Brasil e o apoio, muito pequeno em relação a outros esportes e, até mesmo, à categoria masculina.

"É difícil mesmo porque não temos apoio. Contamos com apenas dois futures no Brasil para as mulheres, não há incentivo a não ser para o futebol", reclamou a jovem atleta, que contou com alguns patrocínios para fazer suas viagens por América Latina e Estados Unidos, onde disputou a chave de até 14 anos do Orange Bowl, o principal torneio juvenil.

"Só que era muito caro viajar: ainda tinha hospedagem, alimentação... Quem sabe se eu teria continuado se tivesse mais apoio", questionou.

Para disputar torneios de tênis em outros países, Flávia contou com a ajuda financeira dos pais e dos avós e com o apoio do tio e técnico Marcelo Campos. Os familiares ainda lamentam a aposentadoria temporária da jovem, mas ela insiste em dizer que tomou a decisão correta.

"Eles sempre apostaram em mim desde pequena, foram quem me colocaram no tênis. Quando eu parei eles ficaram tristes e até hoje comentam... mas depois eu resolvo", disse. Ricardo Mello, tenista número 89 do mundo e amigo de Marcelo Campos, nunca chegou a conversar muito com Flávia, mas também acreditava no potencial da menina.

Flávia Borges, todavia, ainda guarda na retina o título de um torneio na Bolívia em 2008, o melhor momento da carreira. A maior frustração ela também não esquece: não ter disputado o Mundial juvenil em nenhuma das quatro tentativas na busca por uma vaga no Sul-Americano.

Se vai voltar ao tênis ou não quando concluir o Ensino Médio a jovem de Campinas ainda não sabe. Outro caminho que ela admite é repetir os passos de outros jovens talentos do País como Henrique Cunha e Jennifer Widjaja: usar o tênis para conseguir uma bolsa de estudos em alguma universidade dos EUA. A irmã mais velha de Flávia, Cláudia Borges, já seguiu esse rumo.

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