Limbo e Série D deficitária assombram surpresas do Paulista

Botafogo-SP está pelo 2º ano seguido nas quartas do Paulista Foto: Célio Messias / Gazeta Press

Botafogo-SP está pelo 2º ano seguido nas quartas do Paulista

Fora das três principais divisões do Campeonato Brasileiro, Penapolense, Botafogo-SP e Ituano conseguiram superar os principais fantasmas que assombram as equipes do interior de São Paulo para chegar às quartas de final do Paulista. Em tempos de discussões sobre o fim do formato atual dos Estaduais, os três times têm em comum um sentimento: conseguiram um lugar ao sol em meio a um calendário nacional que joga para escanteio os clubes menores do País - as possibilidade para o segundo semestre são uma Copa Paulista pouco atrativa ou uma Série D deficitária.

Seja na Série A1, na Série A2 ou na Série A3, as equipes do interior de São Paulo fora das primeiras três divisões do Brasileiro vivem os 12 meses do ano em função de apenas três, nos quais estão envoltas na disputa do Campeonato Paulista. A dura realidade serve para boa parte dos times menores da Série A1 atualmente: além dos cinco grandes, apenas Bragantino, Mogi Mirim, Oeste e Ponte Preta contam com um calendário fixo para todo 2014.

Quando entram em campo para o Campeonato Paulista, os clubes menores buscam também a sobrevivência para o resto do ano. As opções, entretanto, são limitadas e não dão otimismo para as equipes: o “limbo” da disputa da modesta e pouco atrativa Copa Paulista ou a perseguida disputa da Série D do Brasileiro, mas que em contrapartida traz déficits aos clubes.

Série D: deficitária, mas objetivo de todos os “pequenos”

Todos os times da principal divisão do Campeonato Paulista começam o ano com uma certeza: terão, além da disputa da Série A1, a possibilidade de participarem da Copa Paulista, competição bem mais modesta promovida pela Federação Paulista de Futebol (FPF) durante o segundo semestre. O torneio, contudo, é pouco atrativo para os clubes.

POSIÇÃO SOBRE O BOM SENSO É TÍMIDA, MAS DE APOIO

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A vida das equipes pequenas do interior paulista pode ser radicalmente mudada nos próximos anos, caso as propostas do Bom Senso FC sejam acatadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A mudança completa do formato dos Estaduais, que perderia a importância com a ausência dos grandes, provavelmente causaria grande impacto aos “pequenos”. A posição dos clubes do interior envolvidos na reta final do Paulista são de apoio, mas tímidos e baseados em lugares-comuns.

“Acho que é válido, temos que evoluir. É chegado o momento de se conversar um pouco, os dois lados têm que parar de conversar sozinhos. mas sou a favor das ideias, gosto delas. Não temo o fim do Estadual, acho difícil eles acabarem pela importância que têm, então acho que seria ruim para o Estado de São Paulo. Mas se acabarem, o Botafogo vai continuar existindo”, disse o presidente da equipe de Ribeirão Preto, Gustavo Assed.

Gerente de futebol do Penapolense, Paulo de Carvalho, que tem vivido na pele a experiência em um clube do interior após ter passagem pelo Santos, segue a linha de raciocínio do botafoguense.

“Eu acho que toda boa ideia que venha para dar melhorias ao futebol brasileiro tem que ser escutada e discutida. Desde que seja um bom senso de todos, eu acredito que tem muito a evoluir. Então desde que traga propostas benéficas e seja consenso de todos, eu acho que tem tudo para ir para frente”, afirmou Carvalho. 

As possibilidades de recursos para a Copa Paulista são escassas – patrocinadores e parceiros focam seus recursos na disputa do Estadual, que tem cobertura maior dos órgãos de comunicação. Os próprios clubes não enxergam grande vantagem em se preparar para a competição, já que apenas o campeão é beneficiado com uma vaga na Copa do Brasil da temporada seguinte.

Sem recursos para o torneio, muitas das equipes das três primeiras divisões do Campeonato Paulista optam por não disputar o torneio e deixam as equipes em atividade apenas nas categorias de base. Outras ainda participam da Copa Paulista com equipes com elencos enxutos e usam-na apenas como teste para o próximo ano – o consequente nível baixo da competição diminui ainda mais o interesse dos torcedores.

Com isso, o foco dos pequenos do Paulista passa a ser a classificação para a Série D do Brasileiro, vaga dada apenas às duas melhores equipes do interior ao fim do torneio – Botafogo-SP, Penapolense e Ituano disputam ainda as vagas deste ano e dependem só de uma classificação para a semifinal da A1. Engana-se, todavia, quem pensa que a Série D traga alívio aos cofres dos clubes. Pelo contrário: o déficit é grande.

“Não tem segredo, não dá R$ 10 mil de receita liquida”, reclama o presidente do Botafogo-SP Gustavo Assed, eliminado na primeira fase do torneio em 2013, que diz ter tido perdas de cerca de R$ 1 milhão com a disputa de apenas oito jogos da primeira fase do torneio. “A gente tinha 15 dias para se preparar e sem condições financeiras. A gente paga o preço. Não existem milagres, existe sorte”, complementou ao Terra.

O Penapolense, outro clube classificado para a Série D via Paulista em 2013, reclama das mesmas perdas – segundo o gerente de futebol Paulo de Carvalho, são semelhantes às registradas pelo Botafogo-SP. A única forma da disputa da Série D, que não possui direitos de TV como o Campeonato Paulista, se tornar rentável, para Carvalho, é com o acesso para a Série C.

“A Série D não traz recurso financeiro nenhum para o clube e para manter um time do mesmo nível do Paulista na Série D é impossível. A Série D nos deu prejuízo. Ela vale apenas quando você sobe, qualquer coisa além disso deixa ela deficitária. Até porque quando você sobe, tem um calendário anual”, comentou o gerente de futebol ao Terra.

Pouco tempo de preparação dos paulistas também é problema

Como os classificados para a Série D do Brasileiro só são definidos após o Campeonato Paulista, as equipes que conseguem o direito de disputar a competição sofrem com o curto período para se preparar devidamente para o torneio. Sem a certeza de que realmente vão disputar o torneio, muitos dos clubes fazem contratos curtos com atletas e perdem os jogadores após o Paulista.

“Minha grande dificuldade é montar um elenco para desmontar alguns meses depois. Não posso amarrar um jogador com contrato longo se não tenho calendário. Temos todas essas dificuldades. É importantíssima a vaga para Série D para ter a chance de disputar e aí sim colocar o máximo de esforço para subir pra Série C para estar com uma agenda anual. Aí vai facilitar muito na montagem do nosso time”, disse ao Terra Juninho Paulista, presidente do Ituano.

Botafogo-SP e Penapolense colocaram parte da culpa pela campanha fraca na Série D – ambos foram eliminados na primeira fase do torneio – na curta preparação. O time de Ribeirão Preto disse ter “15 dias” para planejar o elenco, enquanto o clube de Penápolis priorizou o empréstimo dos destaques da campanha do Campeonato Paulista para times maiores e, com isso, não obteve o mesmo sucesso na urgente contratação de um novo elenco. 

Terra

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