Zanetti quer ginástica vitoriosa como o judô e mais popular que basquete














Arthur Zanetti é daquelas pessoas que entrou para as enciclopédias do esporte. Seu feito? Foi o primeiro atleta brasileiro a ganhar a medalha de ouro olímpica (Londres-2012) na ginástica artística. Mas o verbete com o nome dele ainda não tem versão definitiva. Hoje, Zanetti é um dos melhores do mundo nas argolas, mas o futuro lhe reserva novas conquistas.

Ele também acredita que as próximas gerações serão ainda mais vitoriosas, e colocarão a ginástica no hall dos esportes que mais ganham medalhas para o Brasil. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Zanetti  fala da expectativa para os Jogos Olímpicos do Rio (2016) e do sonho de pela primeira vez ver o Brasil competir no masculino por equipes.


UOL Esporte: Tua maior marca até o momento foi na Olimpíada de Londres? Quais lembranças você tem?
Arthur Zanetti: Dois flashes que eu lembro muito bem: quando saiu a nota e na hora do pódio, quando o hino começou a tocar. Você está na competição e acaba não enxergando nada. Simplesmente tá tudo escuro na minha mente. Quando fui para o pódio deu para ver o ginásio lotado e bastante pontos de brasileiros acompanhando.

UOL Esporte: Você consegue chegar a este nível de concentração e não olhar mais nada num ginásio lotado?
Arthur Zanetti: Sim, consigo até mesmo não ouvir ninguém, nem ver. Fica tudo preto e a única coisa que enxergo é argola, colchões e alguma luz que tem ao redor. Isso começou quando passei a participar de campeonatos internacionais em 2006. Conforme você vai competindo, vai trabalhando parte psicológica e elimina fatores externos.

UOL Esporte: Teus resultados trouxeram atenção para a ginástica. Em que nível acredita que ela pode chegar?
Arthur Zanetti: Acredito que no Brasil pode ser um dos esportes mais praticados. Primeiro é o futebol e depois o vôlei. Acredito que a ginástica deve ficar entre o vôlei e o basquete. Vamos ultrapassar o basquete um pouquinho...

UOL Esporte: E em matéria de resultados em Olimpíadas você crê que pode igualar o judô, com bons resultados e muitos praticantes?
Arthur Zanetti: Acredito. Pode acontecer com essa nova geração que tá vindo e, futuramente, teremos novos campeões mundiais e olímpicos. Para ser campeão olímpico leva de 10 a 12 anos. Vamos colher os frutos de hoje na próxima década.

UOL Esporte: Em que você se baseia para ter tanto otimismo?
Arthur Zanetti: A cada ano que passa a ginástica vem evoluindo bastante. Agora é o meu momento, mas os novos atletas que estão surgindo vão ser até um pouco melhor do que nós por vários fatores. A estrutura do Brasil, pelo menos em questão de aparelhagem, está muito boa. A gente começou com aparelhos nacionais e hoje tem criança começando com aparelhos usados em mundial. A visibilidade da ginástica cresceu muito e isso vai trazer mais patrocínio.

UOL Esporte: Quando você começou a competir internacionalmente aos 16 anos já estava no nível dos melhores do mundo?
Arthur Zanetti: A gente sempre acha que tá um pouquinho atrás. Mesmo pegando um pódio, sempre acha que os outros estão um pouco melhor. Esqueço que sou campeão olímpico e campeão mundial, esqueço tudo isso porque acaba interferindo. Faço o meu melhor.

UOL Esporte: Mas depois de ganhar na Olimpíada você deve ser mais visado pelos adversários?
Arthur Zanetti: Sim. Você é olhado de maneira diferente principalmente nos treinamentos. Quando faz um elemento ou fazendo rotina sempre tem alguém olhando, algumas vezes filmam.

UOL Esporte: Qual a expectativa para 2016?
Arthur Zanetti: Pretendo estar na equipe e conseguir uma vaga principalmente por equipe. Feito que a ginástica masculina nunca conseguiu. Estamos em um caminho certo, nível técnico de todos os atletas é elevadíssimo.

UOL Esporte: Você é um cara que entrou para o almanaque do esporte brasileiro ao ganhar o primeiro ouro da ginástica. Como é fazer história?
Arthur Zanetti: Isso são coisas que pessoas mais velhas que foram medalhistas falam sempre: o primeira vai ser lembrado. Podem passar 30, 50 anos, quando pegar algum livro vai estar escrito primeiro medalhista olímpico da ginástica. Essas pessoas falando de você... Ficamos orgulhosos.

UOL Esporte: Houve uma mudança no regulamento que restringe a posição de vela (apoiado na argola com as pernas para cima). Como isto influenciou sua performance?
Arthur Zanetti: A série ficou mais rápida porque antes parava na vela três, quatro segundos. Hoje, a  Federação Internacional fez uma mudança no código e não pode parar. Se quiser fazer mais dificuldade vai precisar mais resistência também. Chega ao final da série e acaba não sendo tão perfeito. Tem que manter uma regularidade boa para chegar ao final da série bem, com resistência e tônus muscular para fazer saída cravada.

UOL Esporte: Como você reagiu a alteração? Vai arriscar o ser conservador?
Arthur Zanetti: A gente sempre trabalha pensando bastante. Às vezes não vale a pena jogar tudo para o ar. Tem que saber planejar, se organizar.

UOL Esporte: Com maior exigência física imagino que você esta malhando mais, certo?
Arthur Zanetti: (Estou) Treinando um pouco mais porque é difícil ter mais resistência, principalmente em argolas, que é força pura. Treinar mais 30 minutos quase todos os dias. Juntando na semana é carga horária um pouco maior.

UOL Esporte: Você atuou no movimento que cobrava da prefeitura de São Caetano do Sul (SP) salários atrasados de atletas. Ficou alguma mágoa?
Arthur Zanetti:  Briga tem em qualquer lugar, até nas famílias. E aqui em São Caetano eu considero a minha família. Nós temos tristezas, alegrias, discussão, mas como sempre em uma boa família tá tudo certo.

UOL Esporte: Mudou a maneira como você é visto na cidade?
Arthur Zanetti: Nossa imagem deixa bem claro que a gente é bem tranquilo e briga pelo melhor para o esporte do Brasil e principalmente a ginástica. 

UOL Esporte: Até agora só falamos de trabalho. Quando e como você se diverte?
Arthur Zanetti:  Sábado a tarde e domingo. Meu divertir é ficar com a namorada, sair jantar, cinema. Nada de ficar até tarde proque isso vai me prejudicar. Férias gosto de viajar. Natal fico com a minha família e Ano-Novo gosto ir outro lugar. Gosto muito de praia e me apaixonei por Florianópolis, fui há três anos. 

UOL Esporte: Você se sente tocado por Deus?
Arthur Zanetti: Não digo tocado por Deus, mas posso dizer que fico bem feliz porque algumas vezes você não tem uma noção do que fez. Mas quando você para, pensa... pô, do mundo todo eu sou o melhor no que eu faço você até se sente um pouco especial.

UOL Esporte: Especial?

Arthur Zanetti: Falar a verdade, não. Todo mundo é especial.

UOL Esporte

Comentários