Veteranos têm novas duplas para Brasil retomar hegemonia no vôlei de praia















Aquele velho cenário, com Estados Unidos e Brasil dividindo as medalhas nas competições mais importantes (Olimpíada inclusa) é coisa do passado. O momento do vôlei de praia é de um leque cada vez maior de países, principalmente da Europa, apresentando duplas competitivas. O problema disso tudo: nas contas do Brasil para chegar ao top10 da Olimpíada do Rio, a modalidade precisa garantir pelo menos três medalhas.

"Os países que não tinham tanta tradição vieram ao Brasil ou buscaram técnicos brasileiros para aprender e evoluir, há cinco, oito, dez anos. E aprenderam. Os italianos (Nicolai e Pupo) são treinados pelo Paulão, os alemães passavam o verão aqui no Rio de Janeiro no início dos anos 2000. O mesmo acontecia com suíços e tantos outros", explica Emanuel, o veterano do vôlei de praia brasileiro.

Aos 41 anos, ele tomou uma decisão corajosa: trocou de parceiro pela segunda vez em oito meses e retomou a dupla com Ricardo, que está com 39 anos. A parceria com Alison foi desfeita no fim do ano passado, para o que "Mamute" voltasse a morar e treinar no Espírito Santo, com Bruno Schmidt. A Emanuel sobrou Pedro Solberg, mas a parceria não deu resultado.

"Conversei com o Ricardo sobre a possibilidade e o interesse dele em voltarmos a jogar juntos. Tudo foi muito rápido. Conversei com o Pedro sobre o nosso time que, apesar do ambiente bom, dos treinos excelentes, não estávamos rendendo o que esperávamos, os resultados não estavam acontecendo, e concordamos que aquele era o momento de tentarmos coisas novas. Ricardo falou com o Álvaro (Filho) também e ficou tudo bem. Começamos a treinar dois dias depois", conta Emanuel.

Ricardo e Emanuel jogaram juntos por oito anos, foram campeões olímpicos em Atenas/2004 e nunca deixaram de ser amigos. Em um momento em que a CBV cobrou definições para o ciclo olímpico, tentando pôr fim à salada de duplas, acabou falando mais alto a possibilidade de uma parceria em que não havia dúvidas sobre a tal "química" que faltou a Pedro e Emanuel, atletas com perfis e idade muito diferentes.

A troca, ao que parece, acabou sendo boa para todo mundo. Pedro Solberg e Álvaro Filho, que ficaram "solteiros", resolveram se unir e ganharam o Grand Slam da Polônia, no fim de agosto. Ricardo e Emanuel estrearam na primeira etapa do Circuito Banco do Brasil e foram campeões logo de casa.

Meninas

No feminino, a situação é muito parecida. Se há quatro anos o Brasil, com Juliana/Larissa e Talita/Maria Elisa só não venceu quatro etapas do Circuito Mundial, perdendo somente para EUA e China, hoje em dia o cenário é muito mais equilibrado. Só na atual temporada, já fizeram finais duplas de Alemanha, República Tcheca, Rússia e Espanha. Exceto um Open, de menor relevância, o Brasil estava sem títulos até Larissa finalmente anunciar: estava de volta.

Maior campeã da história do Circuito, ela havia se aposentado, ao fim de 2012, para tentar se tornar mãe. Mas as duas gravidezes acabaram interrompidas e ela decidiu deixar o sonho mais para frente. Enquanto todos esperavam a retomada de Larissa/Juliana, a cearense surpreendeu e se uniu à melhor jogadora brasileira do momento, Talita.

Talita já havia demonstrado interesse em jogar com Larissa quando esta voltasse, mas também apostava que a escolha seria por Juliana. Quando recebeu o telefonema com a oferta de uma nova dupla, balançou. A parceria com Taiana havia rendido o título do Circuito Mundial do ano passado, mas já não estava mais dando resultado. "A partir do momento em que cria-se a dúvida, eu não estava mais 100%", explica Talita, justificando o rompimento com Taiana.

A oferta era tão boa que Talita deixou o marido (Renato, técnico de Pedro/Álvaro) no Rio e partiu para treinar em Fortaleza, onde Larissa mora com a esposa Lili (que retoma a parceira com Rebecca esta semana). Antes que elas estreassem, Taiana se juntou de última hora com a então quase desconhecida Fernanda Berti e venceu o Grand Slam da Holanda. A partir dali, tudo voltaria ao normal.

Uma dupla brasileira (Ágatha/Bárbara) fez final contra Ross/Walsh nos EUA, o pódio na Áustria foi todo brasileiro e Talita/Larissa ganhou a segunda etapa consecutiva na Polônia. "Quando subi no pódio foi uma sensação dentro de mim que eu não posso nem explicar. Foi muito bacana. Terceira etapa e eu já estava em primeiro. Pensei: 'Nasci para isso mesmo'. Aí na Polônia, de novo. Tomei a decisão certa. Tinha que ter voltado mesmo. Estou feliz com a escolha que eu fiz", diz Larissa, encantada consigo mesma, com o vôlei de praia e com Talita. A parceria deu a tal "química" e elas venceram também a primeira etapa do Circuito Banco do Brasil, há uma semana.

Larissa faz questão de afirmar que o momento é de retomar a rotina, aproveitar o vôlei de praia, treinar muito, mas não esconde a determinação que tanto marcou sua carreira. "Vou me preparar para ganhar. Com a Juliana não perdia para ninguém, só para a (norte-americana Kerri) Walsh. Vou colocar em prática tudo que aprendi. Voltei pra ganhar mais do que perdi. Vou ter que abdicar de muita coisa. Viver 120% para o vôlei, mas quero ser campeã olímpica", confessa.

A CBV ainda não anunciou oficialmente, mas os atletas já sabem os critérios para uma vaga olímpica. E, diferente do imaginado, uma dupla em cada naipe irá ao Rio por escolha da confederação – hoje, o departamento é liderado pelo ex-jogador Franco, assessorado por Pará e Shelda.

Nos últimos anos, muita coisa foi tentada. No começo do ano passado, foi montada uma "seleção brasileira", com uma comissão técnica formando as duplas para a temporada internacional ao seu bem entender. Juliana fez críticas públicas ao formato e foi cortada, ficando de fora de todo o Circuito Mundial.

No começo desta temporada, a comissão permanente foi mantida, mas cada atleta escolhia sua dupla, que podia ou não ser convocada. No meio do ano, tudo mudou de novo. Os técnicos (Marcos Miranda e Letícia Pessoa) foram dispensados e agora a CBV paga para cada dupla levar seu treinador às etapas do Circuito, oferecendo fisioterapeuta, estatística e coordenador que são compartilhados entre as duplas – há, porém, quem leve os próprios profissionais.

Franco assumiu o vôlei de praia e tudo mudou de novo para 2015. O Brasil leva quatro duplas por etapa do Circuito Mundial e terão direito à convocação a melhor dupla da temporada 2014 (Alison/Bruno Schmidt no masculino, Juliana/Maria Elisa ou Ágatha/Bárbara Seixas no feminino), mais as duas duplas melhores colocadas na temporada 2014/2015 do Circuito Banco do Brasil, que vai para a segunda de previstas 10 etapas. A quarta parceria será convidada a critério da CBV.

Na Olimpíada, o Brasil tem garantida uma dupla em cada naipe, por ser país sede, e tudo leva a crer que conseguirá outra vaga pelo ranking olímpico do Circuito Mundial. A dupla que terminar na frente este ranking vai aos Jogos. A vaga por convite será distribuída a partir de escolha técnica da CBV. 

UOL Esporte

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