Austrália se esquiva do rótulo de "encrenqueira" dos Jogos do Rio

(Foto: AFP PHOTO / Vanderlei Almeida)


Graças aos embates com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e com o Comitê Rio-2016, amplamente divulgados pela mídia, a delegação australiana conquistou um papel de protagonismo nos Jogos Olímpicos antes mesmo da cerimônia de abertura.

Agora, porém, dirigentes da Austrália buscam pôr “panos quentes” na animosidade criada, mas enfrentam dificuldade.

A delegação é bombardeada com perguntas de jornalistas, ou opiniões de compatriotas presentes às sessões, que têm como principal alvo a Vila Olímpica e a organização dos Jogos.

“[Os brasileiros] estão nos chamando de “Equipe Canguru”. Não acha isso ofensivo? O que vai fazer a respeito?”, perguntaram a Kitty Chiller, chefe de missão da Austrália, no último sábado (30).

Kitty disse não se importar, e ouviu outra provocação:

“E então, os ‘cangurus’ irão dormir tranquilos hoje?”

Uma outra pessoa, presente à entrevista, protestou.

“É inaceitável [o episódio do início de incêndio no prédio], poderia ter resultado em uma tragédia, muitas mortes.”

Neste domingo (31), Kitty ouviu inúmeras questões sobre sua satisfação com as instalações olímpicas da Rio-2016. Em todas as oportunidades, respondeu que estava satisfeita.

Seus colegas dirigentes também haviam adotado mesma postura no sábado (30) ao responder questões sobre a vila.

Apesar de tentar driblar questões envolvendo a Vila Olímpica, Kitty deixou escapar que alertou outros cinco presidentes de comitês nacionais para verificar se há lixo em seus prédios, que poderia pegar fogo se alguém jogasse bituca de cigarro.

Ela se referia a provável causa do início de incêndio na tarde da sexta-feira (29), que fez a Austrália comunicar ao Comitê Rio-2016 que deixaria a Vila Olímpica se não houvesse um aumento do efetivo do Corpo de Bombeiros no local. Um laptop e camisetas da delegação foram furtados durante a confusão.

Logo em sua chegada à Vila Olímpica, domingo passado, os australianos deixaram claro que “abririam a boca” em relação a qualquer problema de estrutura que detectassem na vila.

Na inauguração da Vila, no domingo passado (24), os australianos trocaram a vila por um hotel e emitiram comunicado em que dizia haver cheiro de gás no prédio, vazamento de água e defeitos na eletricidade. Entre outros problemas encontrados havia banheiros bloqueados, escadas escuras, andares sujos, necessitando de “limpeza profunda”.

Em resposta, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarou que considerava legítimas as reclamações e que colocaria até cangurus na porta dos australianos para que eles se “sentissem em casa”.

O diretor de comunicação australiano, Mike Tancred, rebateu: "Não precisamos de cangurus, precisamos de encanadores para dar conta dos vários lagos que encontramos nos apartamentos".

Já Kitty disse que essa é a quinta Olimpíada e ela nunca vira uma vila em condições tão ruins.

O histórico de críticas da Austrália ao Brasil teve início bem antes de a delegação desembarcar na Vila Olímpica. Em abril de 2014, John Coates, presidente do Comitê Olímpico Australiano e vice-presidente do COI, afirmou que o Rio experimentava o pior avanço de trabalhos pré-Olimpíada de todos os tempos, embora quatro meses depois tenha dito que já estava satisfeito com o ritmo das obras.

Posteriormente, no início do ano passado, um relatório assinado por Kitty, apontava para a falta de estrutura esportiva de qualidade oferecida pelo Rio. A aclimatação da equipe gerava preocupações.

O relatório apontava ainda que a participação da Austrália em eventos-teste seria limitada porque muitas dessas competições seriam abertas apenas a brasileiros e que para muitas modalidades o Rio seria um ambiente pouco familiar por terem sido pouco testados em eventos de grande porte.

UOL Esporte

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