Colchões, telas de segurança e asfalto novo: tudo contra o perigo no ciclismo

(Foto: Cleber Akamine)


Colchões enrolados em postes e árvores, telas beirando abismos e asfalto novo em trechos anteriormente de terra. A série de adaptações no trajeto que será utilizado na prova de ciclismo de estrada, neste sábado (masculino) e domingo (feminino), nos Jogos do Rio, é um claro sinal de risco de acidentes e mostra a preocupação do Comitê Rio 2016 em garantir a integridade física dos atletas.

A reportagem do GloboEsporte.com fez o percurso desenhado para a competição. Com largada em Copacabana, passando pelas praias de Ipanema, Leblon, Barra e Recreio, os atletas olímpicos terão os maiores desafios nas voltas em Grumari e na Vista Chinesa, totalizando a busca pelo ouro no 240km para os homens e 138km para as mulheres.

Além da quilometragem – considerada alta, já que as etapas do Tour de France, Volta da Espanha e Giro da Itália têm, em média, praticamente metade da distância –, os trechos com subidas íngremes, descidas sinuosas e curvas fechadas com alto grau de exigência técnica deixam a prova aberta. Há favoritos, mas a possibilidade de surpresas é considerável, assim como ocorreu em Londres 2012, com a vitória do cazaque Alexander Vinokourov, à frente do colombiano Rigoberto Uran e do favorito britânico Mark Cavendish, que nem subiu ao pódio.

Na maior parte da orla carioca, grades de proteção foram instaladas para evitar o trânsito de pedestres. Em trechos de menor circulação de pessoas, como em Grumari e na Vista Chinesa, a segurança será reforçada, o trânsito bloqueado e a movimentação do público bastante restrita para evitar riscos, já que as bicicletas chegam a atingir 80km/h em determinadas vias.

Durante o trajeto percorrido pela reportagem, não foram observados pontos com buracos ou irregularidades capazes de provocar acidentes. Trechos com paralelepípedos não assustam os competidores, pois a maioria tem a vivência da tradicional prova Paris-Roubaix, disputada em terrenos acidentados, com pedras, areia, lama e buracos.

As adaptações que mais chamam a atenção durante o percurso visam à segurança dos atletas. Na Vista Chinesa, principalmente nas descidas, colchonetes foram amarrados em postes e árvores. Reformas no asfalto, como a retirada de lombadas, e telas beirando abismos e curvas acentuadas também entraram no trajeto. Em Grumari, um trecho que anteriormente era terra, foi asfaltado. O local quase foi palco de um acidente nesta quarta-feira, quando um ciclista polonês por pouco não atropela um gari.

Para o ciclista brasileiro Murilo Fischer, que participa de sua quinta olimpíada, trata-se de uma prova dura, com vantagem aos atletas que estão em equipes menores, caso do Brasil, com dois inscritos. Mesmo com subidas duras e descidas técnicas, ele acredita que o italiano Vincenzo Nibali, o britânico Chris Froome, o espanhol Alejandro Valverde e os colombianos Jarlinson Pantano e Rigoberto Uran são os favoritos.

– O ciclismo é um esporte coletivo com resultado individual. Olimpíada é difícil taticamente porque tem quilometragem alta. É um percurso muito seletivo, com 4.500m de elevação. Tem favoritos. O Froome, o Nibali, que se preparou para essa prova, a Espanha com o Valverde, que tem uma equipe muito forte. Mas a Grã-Bretanha era favorita em Londres, e quem levou foi o Cazaquistão – comentou Murilo Fischer, que se despede das olimpíadas no Rio de Janeiro.

Morando na Itália há 15 anos, o ciclista acredita que em Tóquio 2020 ele estará representando o Brasil, mas na direção técnica.

– Para um brasileiro chegar no nível profissional é muito difícil. Sabemos que o ciclismo é um esporte europeu, embora a Colômbia tenha tradição. Sonhei com o Tour de France aos 14 anos e hoje me sinto realizado por tudo o que consegui. Continuar competindo em alto nível por 13, 14 anos, para quem entende, é algo muito gratificante. É uma realização.

Além de Murilo Fischer, Kleber Ramos representa o Brasil entre os homens, com largada às 9h30. Flavia Oliveira e Clemilda Fernandes, no domingo, 12h15, são as representantes no feminino da Rio 2016.

Contrarrelógio

Além da modalidade estrada, a Rio 2016 terá as provas de contrarrelógio na quarta-feira. Embora as bicicletas e boa parte dos competidores sejam os mesmos, é possível notar algumas diferenças. A começar pela disposição dos atletas durante o trajeto e distância que será percorrida.

No contrarrelógio, as largadas são individuais. Ou seja, não há estratégia de equipe e utilização do vácuo para economia de energia. Com distâncias mais curtas, 54,5km masculino e 29,8km feminino, os competidores vão sair do Pontal um a um, em intervalos regulares, e seguirão sentido Serra de Grumari – o mesmo percurso usado no ciclismo estrada –, sendo duas voltas para os homens e uma para as mulheres.

Como os ciclistas andam sozinhos, o formato da bicicleta e a posição do ciclista são desenhados para a menor obstrução possível do vento. Os capacetes são diferentes (conhecido como "gota", pelo formato), boa parte utiliza uma roda fechada atrás (para que haja menos atrito do ar), além do clip acoplado no guidão, para que os atletas possam debruçar e, assim, diminuir o rastro de ar.

Após a chegada de todos os atletas, a organização contabiliza os melhores tempos, e os três melhores garantem as medalhas olímpicas. A prova feminina começa às 8h30, e a masculina, às 10h.

Globo Esporte

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