Natação do Brasil fica sem pódio após 12 anos e teme 2020 ainda pior

(Foto: Flávio Florido/Exemplus/COB)


A natação do Brasil fechou a Rio-2016 sem passar pelo pódio, algo que não acontecia para a equipe nacional em Olimpíadas desde Atenas-2004. A ausência de medalhas, contudo, não é a única coincidência entre a realidade do país nas duas edições dos Jogos. Com o fim de uma geração e sem resultados para sustentar essa transição, a modalidade se vê mais uma vez em crise de referências. Sem grandes nomes para conduzir o próximo ciclo, os brasileiros iniciam com perspectiva ainda mais pessimista o quadriênio que os levará a Tóquio-2020.

A questão é exatamente a que se apresentou à natação nacional em 2004. Àquela altura, nomes como Gustavo Borges e Fernando Scherer, dois dos mais vitoriosos da história do país no esporte, haviam deixado as piscinas. A geração que viajou para Atenas conseguiu classificação para cinco finais, algo que só havia acontecido em Atlanta-1996, mas não chegou ao pódio.

Naturalmente, a falta de vitórias criou uma pressão extra para a geração que estava surgindo e que teve de assumir protagonismo precoce. Era o grupo liderado por nomes como Cesar Cielo, 29, Thiago Pereira, 30, Felipe França, 29, e Joanna Maranhão, 29, nadadores forjados à base de cobrança pelo período de seca anterior a eles.

A tal geração que teve de aplacar o fracasso da transição anterior chegou ao fim em 2016. Cesar Cielo foi durante anos o melhor nadador de provas rápidas do país, mas não conseguiu sequer classificação para o Rio de Janeiro. Thiago Pereira esteve nos Jogos Olímpicos e avisou que seguirá nadando depois isso, mas é pouco provável que consiga carregar por mais quatro anos a condição de soberano nacional no nado medley. O mesmo vale para Felipe França, atualmente o expoente local no nado peito, outro que já afirmou ter planos para Tóquio-2020.

Pensar na longevidade de nomes como Cielo, Thiago e Felipe é ainda mais complicado se o contexto for considerado. O japonês Kosuke Hagino, um dos principais novatos no nado medley, tem 21 anos. Adam Peaty, que tem assombrado o mundo no nado peito, é da mesma idade. Kyle Chalmers, australiano que venceu os 100 m livre da Rio-2016, é ainda mais novo (tem 18). Existe uma geração se afirmando no planeta, emplacando tempos cada vez mais baixos, e nenhum desses novos nomes é brasileiro.

“A conclusão que a gente chega é que a gente criou as oportunidades e teve chances de ganhar medalhas, mas não conseguiu realizar, infelizmente. É preciso avaliar o porquê disso e trabalhar em cima. Tem muita coisa envolvida, e aí é preciso pegar o programa de cada atleta para entender o que aconteceu”, disse Alberto Silva, o Albertinho, técnico chefe da equipe masculina de natação do Brasil.

A Rio-2016 já apresentou uma nova geração de nadadores brasileiros. Foram 20 novatos entre os 33 atletas que representaram o país nas piscinas, mas nomes como Brandonn Almeida (19) e Matheus Santana (20), que já registraram recordes mundiais na categoria júnior, simplesmente não conseguiram se afirmar entre os adultos.

Para 2020, o processo de amadurecimento desses garotos terá de ser acelerado se o Brasil quiser voltar ao pódio na natação. O país conseguiu oito finais na Rio-2016, algo inédito na modalidade, mas faltam perspectivas para esse salto entre isso e o pódio olímpico.

“Colocando pelos medalhistas, pode ser que a gente chegue a Tóquio sem referências. Não sei quanto tempo esses caras vão contribuir e não sei se eles vão ter motivação e resultado. Se eles participarem do processo, ajuda. A experiência de ter vivido uma Olimpíada é importante. A molecada é impetuosa, mas ao mesmo tempo sente o baque”, avisou Albertinho.

A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) já começou a discutir o que fazer para tentar amenizar a falta de referências entre os nadadores mais jovens. Existem possibilidades em diferentes estágios de debate, e a lista inclui ações como criar uma seletiva olímpica única para que os atletas estejam mais afeiçoados à pressão.

O primeiro passo, porém, vai ser uma reunião com clubes. A ideia da CBDA é discutir metodologia de trabalho e tentar criar parâmetros no espaço em que os atletas passam a maior parte da temporada. A entidade vive momento financeiro complicado, e é provável que as medidas mais urgentes sigam esse padrão: conversa, discussão e menos investimento.

O ciclo que levou a natação do Brasil a 2016 terminou sem medalhas. O ciclo que culminará com Tóquio-2020 começa ainda pior: sem referências, sem dinheiro e com pressão.

UOL Esporte

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