"Transparência da Rio-2016 é péssima", diz chefe de fiscalização dos Jogos

(Foto: Taís Vilela/UOL)


“Péssima”. Assim o procurador da República Leandro Mitidieri, coordenador do grupo de trabalho do MPF (Ministério Público Federal) voltado à fiscalização da Olimpíada, qualifica a transparência do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio-2016.

Mitidieri é um dos responsáveis pela ação que barra a injeção de dinheiro público no órgão. O repasse, que pode chegar a R$ 270 milhões, é tido pelos organizadores dos Jogos Rio-2016 como essencial para a realização da Paraolimpíada, que começa no dia 7.

Em entrevista ao UOL Esporte, Mitidieri contestou que essa ajuda financeira seja primordial para os Jogos Paralímpicos. Lembrou ainda que nenhuma dúvida estaria pairando sobre a Paraolimpíada caso o Comitê Rio-2016 adotasse uma medida simples: divulgasse todas as suas contas.

“A liminar da Justiça tem uma condição simplória: para receber recursos públicos, o Comitê Rio-2016 tem que abrir as contas”, explicou Mitidieri. “O comitê não compreendeu que, ao realizar um evento público, com recursos públicos, é preciso prestar contas. Sua transparência é péssima.”

Justiça veta repasses
A liminar sobre a qual se referiu o procurador foi concedida na última sexta-feira (12) pela Justiça Federal, a pedido do MPF. Após procuradores do grupo de trabalho de Mitiediri abrirem um processo contra o Comitê Rio-2016, a prefeitura e o governo federal, a Justiça entendeu que os Jogos do Rio não pode receber recursos púbicos enquanto os organizadores do evento não divulgarem efetivamente quanto estão ganhando para realizar a Olimpíada e a Paraolimpíada.

Para Mitiediri, a imposição é correta. Ainda mais porque, sem contas divulgadas, é impossível saber se é mesmo necessário que o governo assuma mais contas olímpicas colocando dinheiro no Comitê Rio-2016, um órgão privado. “Precisamos saber o dinheiro que entrou com os ingressos, contratos de patrocínio e outros. É preciso saber efetivamente o que entrou para saber se há realmente déficit [falta de dinheiro]”, afirmou o procurador, demonstrando apoio à decisão judicial.

Contas olímpicas bilionárias
O procurador lembrou que o Comitê Rio-2016 anunciou em 2014 que gastaria R$ 7 bilhões com os Jogos do Rio. Após dois anos, esse valor foi reajustado: R$ 7,4 bilhões.

Até dias atrás, organizadores da Olimpíada e Paraolimpíada afirmavam não precisariam de dinheiro púbico para pagar essa conta. Diziam que a venda de ingressos e patrocínios seria suficiente para levantar o necessário para os Jogos.

Paraolimpíada em risco?
Desde o início do mês, entretanto, a situação mudou. Hoje, fontes do Comitê Rio-2016 admitem que precisam de recursos públicos. Ressaltam que, sem o apoio, a Paraolimpíada está em risco.

Mitiediri não crê nesse discurso. Para ele, não passa de pressão do comitê e de governo em cima do Judiciário. Ele cita números para ratificar que haverá Paraolimpíada com ou sem recursos públicos no Comitê Organizador da Rio-2016.

“Dizer que não haverá Paraolimpíada é um argumento do tipo catastrófico para tentar influenciar as decisões dos órgãos judiciais”, afirmou o procurador. “Não dá para dizer isso porque a ajuda prometida é de apenas 4% do orçamento do comitê [R$ 270 milhões dos R$ 7,4 bilhões do orçamento].”

Comitê Rio-2016 recorre
O Comitê Organizador da Rio-2016 recorreu da liminar judicial que impede o investimento público no órgão na segunda-feira (15). No mesmo dia, a Justiça decidiu negar o recurso.

Por conta da batalha judicial sobre as contas olímpicas, o Comitê Organizador não tem falado sobre suas finanças. Mario Andrada, diretor de Comunicação do órgão, já declarou que elas são mais transparentes do que de empresas privadas brasileiras.

Prefeitura do Rio e governo federal também estudam recursos contra a decisão liminar para pode investir no comitê. Paes, na segunda, disse que a ajuda do município à Paraolimpíada pode chegar a R$ 150 milhões.

UOL Esporte

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