Reconhecendo terreno: brasileiros fazem primeiros treinos no Rio de Janeiro

(Foto: Márcio Rodrigues/CPB/MPIX)


A maior expectativa é sem dúvida para o início dos Jogos Paralímpicos, mas parte da ansiedade girava em torno da chegada à cidade-sede e da chance de conhecer os principais ambientes de treino e competição. Esta quinta-feira (01.09), então, foi dia de “reconhecer o terreno” para atletas de modalidades como halterofilismo e basquete em cadeiras de rodas. Os halterofilistas vão competir no Pavilhão 2 do Riocentro, mas os bancos e barras montados na área de treinos no Pavilhão 5 são os mesmos, e os atletas começam a criar familiaridade com os componentes.

“Queria que chegasse logo este treino para sentir o espaço, o clima. O pessoal realmente precisa treinar neste banco, que vai ser o da competição, e esta barra tem uma velocidade mais rápida. Adaptando-se a essa situação, não vai ter surpresa na competição”, disse o técnico da equipe, Valdecir Lopes.

Evânio da Silva (-88kg) gostou da barra e do banco. O baiano tem como melhor marca 201kg, e nesta quinta levantou 205kg, Ele agora está aprimorando o movimento para se superar no dia da competição. “Melhorei muito nos últimos três meses, acho que uns 20% a mais. Melhorei na força, na técnica, estamos fazendo um treino diferente, com mais foco. Minha categoria é muito difícil, mas quero fazer o melhor da minha vida nos Jogos”, disse.

Para Valdecir, o primeiro pódio brasileiro em Jogos Paralímpicos no halterofilismo é possível. A principal aposta é Márcia Menezes (-86kg). Enquanto ela treinava, Val deixava um olho na atleta e outro na chinesa Fengmei Li, uma das grandes adversarias de Márcia.

“O tempo todo estava observando o desfecho do treino da chinesa, a preocupação dela. Vi que ela terminou e ficou olhando o treino da Márcia. Eu fico o tempo todo rastreando os adversários dos atletas. Temos as marcas de todos os principais concorrentes de Londres pra cá”, contou o treinador.

O jogo das pedidas

O papel do técnico também é fundamental na competição. Cada halterofilista pode fazer três tentativas. Aí entra a estratégia que, muitas vezes, ganha a disputa. “Você pode pedir até sete quilos acima da pedida real, porque pela regra você pode baixar até sete quilos ali na hora. É um jogo de estratégia que a regra permite. E você tem que estar atento para saber quanto o seu adversário fez ou quanto vai fazer. A gente tem direito de mudar a primeira e a terceira pedidas. A segunda tentativa, que é a decisiva em 90% dos eventos, não pode mudar. Depois que você acabou de fazer a primeira, você tem um minuto para dizer o peso da segunda.  É o treinador que diz. Eu saio exausto psicologicamente. Eu não aceito errar nisso como treinador”, explicou Valdecir.

Enquanto ele se prepara para o “jogo das pedidas”, os atletas treinam pesado, buscando fazer história diante da torcida anfitriã. Márcia mal pode esperar. “A gente trabalha com metas sempre. Eu me mudei para Itu para me preparar para o  Mundial de 2014. Desde então foram sete missões e a única atleta que trouxe medalha em todas fui eu. A expectativa para o Rio é brigar pelo pódio”, disse.

Emoção à flor da pele

No Parque dos Atletas, área oficial de treinamento das equipes, o basquete em cadeira de rodas do Brasil teve o primeiro contato oficial com os Jogos Paralímpicos. Embora não seja o ambiente de competição em si, atletas e comissão técnica valorizaram a experiência, principalmente pelo aspecto emocional.

“Sentimos as meninas bem mais eufóricas após a entrada na Vila e o primeiro treino”, comentou Martoni Sampaio, técnico da seleção feminina. “A palavra é entusiasmo. É um estímulo bom, o pessoal está com as emoções bem à flor da pele. Mas a gente não pode deixar isso virar uma euforia descontrolada”, alertou o treinador.

Uma das principais jogadoras da equipe, Lia esteve com a seleção na última edição dos Jogos, em Londres, e não escondeu a emoção com o primeiro contato com os Jogos em casa. “Estou maravilhada. A Vila é encantadora, a quadra é boa e a gente já está com muita ansiedade para estar nos jogos. Estamos bem empolgadas. A recepção foi muito boa”, disse a atleta.

Na seleção masculina, o ambiente foi parecido. O treino terminou com muita descontração em uma atividade de arremessos, deixando transparecer a felicidade de todos por enfim estar vivendo a Paralimpíada em casa.

“Na hora que eu entrei aqui senti uma energia muito boa”, afirmou o pivô Leandro. “Estou na Paralimpíada. Chegou a hora. É muito forte a emoção de estar representando o Brasil no nosso país”, destacou o atleta.

Para o técnico Tiago Frank, o primeiro treino serviu justamente para acabar com a ansiedade dos atletas, que não viam a hora de entrar em quadra. “Foi para quebrar o gelo. Ontem já foi um dia bastante intenso, de novidades. Muitos estão aqui pela primeira vez, mas a atmosfera é diferente. A gente procurou deixar os atletas se soltarem e se encontrarem. A quadra representa muito o palco dos Jogos em termos de piso e contraste de linhas. É importante esse espaço nessa reta final”, valorizou Frank.

Brasil 2016

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