Adversário desiste e Murray vira número um do mundo sem entrar em quadra

(Foto: Miguel Medina/AFP Photo)


Andy Murray não precisou nem entrar em quadra para se tornar o número um do circuito mundial de tênis. O adversário, Milos Raonic, desistiu e ele garantiu lugar na final do Master 1000 de Paris, obtendo os pontos necessários para se tornar o líder do ranking.

Murray conseguiu o improvável em 2016, superar o sérvio Novak Djokovic, que sobrou nas últimas duas temporadas. Até Roland Garros, a rotina foi de vitórias para o ex-número um, que parecia ter uma marcha a mais do que o restante do circuito. Faltava apenas vencer o Grand Slam do saibro, o que ocorreu neste ano. Mas ao invés de tranquilidade, o título gerou perda de foco.

Alheio a tudo isso, Murray engrenou no circuito e agora ostenta uma série de 20 vitórias consecutivas. A partir de Roland Garros, Murray enfileirou cinco títulos, incluindo as Olimpíadas do Rio de Janeiro e Wimbledon. Neste domingo, ele tenta a cereja do bolo na final do Master de Paris diante de John Isner. 

A campanha que rendeu a liderança do circuito ocorreu com o escocês mantendo as características de seu jogo que incluem uma devolução muito boa, saque eficiente, sólido jogo de fundo de quadra com golpes de qualidade no forehand e backhand e um preparo físico invejável. A liderança do ranking também coroa a reedição da parceria com Ivan Lendl. Com ele como técnico, o atleta obteve o primeiro Grand Slam da carreira no US Open de 2012.

Depois de um período separado, a dupla se reencontrou neste ano e os resultados apareceram. O treinador tem êxito porque consegue fortalecer a parte mental de Murray. Desde que apareceu no circuito, o jogador é considerado um talento. Ainda assim, penou para conseguir o primeiro título de Grand Slam.

O tenista criou fama como um jogador sem sangue nas veias e que reclamava demais de si, dando a entender que era o maior adversário dele mesmo. A postura defensiva em excesso em muitas partidas gerou críticas por não tentar bolas vencedoras e preferir ganhar no erro do adversário. Desta forma, jogava um tênis menos vistoso e passava mais tempo em quadra.

Derrota que mudou a imagem

Murray começou a cativar o público britânico quando perdeu a final de Wimbledon para Roger Federer em 2012. Um atleta do país que inventou o tênis não ganhava o torneio mais tradicional do mundo havia 76. A esperança morreu na praia naquela ocasião e Murray mostrou o tamanho da dor no discurso da cerimônia de entrega de troféus. Emocionado, fez longas pausas para recuperar o fôlego, conter as lágrimas e não chorar copiosamente. A mãe assista da tribuna e a expressão entregava o coração partido.

Este tipo de cena num esporte que costuma não demonstrar as emoções conquistou o público que se emocionou junto. No ano seguinte, finalmente conseguiu acabar com o jejum depois de 77 anos de seca. Agora, ele se tornou o primeiro britânico a liderar o ranking mundial de tênis.

Murray também se destaca por assumir posições. Enquanto Djokovic precisou dar explicações por dizer que os homens deveriam receber maior premiação do que as mulheres, o escocês defendeu valores iguais. Ele ainda apoiou o voto pela independência da Escócia em relação ao Reino Unido num plebiscito realizado em 2014 e fez questão de usar "kilt" no casamento.

Na cerimônia, nada de fazer social com o restante do circuito. A lista de convidados não tinha Federer, Nadal e Djokovic. O casamento parou a pequena Dunblane, cidade natal do tenista que tem cerca de 10 mil habitantes. As vitrines das lojas foram enfeitadas com mensagens de felicitações ao casal.

Massacre na escola

Durante a infância, Murray passou por um episódio traumático, o massacre de Dunblane. Em 1996, um ex-chefe de escoteiros invadiu o ginásio da escola primária da cidade e matou 16 crianças e um professor antes de cometer suicídio.

Murray e a turma dele estavam caminhando em direção ao ginásio quando os disparos começaram. Os professores agiram rápido, fizeram o caminho inverso e buscaram refúgio. O massacre chocou o Reino Unido e provocou uma alteração drástica da lei de porte de arma no país. Com raras exceções, é proibido britânicos portarem ou manterem armas de fogo em casa.

Separados por sete dias

Murray e Djokovic se conhecem de longa data. O britânico nasceu em 15 de maio de 1987, exatamente uma semana antes do sérvio. Ambos se enfrentaram desde a infância em campeonatos na Europa. Eles também têm estilo de jogo parecidos.

A diferença fica no que cada um fez na carreira até o momento. Djokovic conquistou 12 Grand Slams, levantou troféu nos quatro majors e ameaça o recorde de 17 triunfos de Roger Federer. Murray tem currículo mais modesto e venceu três Grand Slams.

No confronto pessoal, Djokovic é muito superior e lidera por 24 a 10. De qualquer maneira, Murray é o melhor no momento e o ranking reflete isso. Ele fez a escalada até o topo e agora enfrenta a máxima de que se manter na liderança é mais difícil do que chegar até lá.

A ponta do ranking está ameaçada no ATP Finals que começa em 13 de novembro. Com a volta de Nadal e Federer, afastados por lesão, o ano que vem promete e todos estarão correndo atrás de Murray.

UOL Esporte

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