Novo técnico do Inter não quer ser herói e vê Série A como título de Copa

(Foto: Marinho Saldanha/UOL)


Apresentado pelo Internacional, o técnico Lisca discursou forte sobre a permanência do clube na Série A em sua primeira entrevista no comando da equipe. O treinador classificou a permanência na primeira divisão como "uma conquista de Copa do Mundo" e negou-se a aceitar o posto de 'herói' em caso de sucesso. 

"Estou chegando nas últimas três rodadas. Tenho uma responsabilidade grande com o resultado que vier. Queremos ficar na Série A e acreditamos nisso. Vamos trabalhar diuturnamente. Não acredito em herói no futebol. Trabalhamos em conjunto e não vim buscar ser herói. Fui convocado pelo presidente Vitório e pelo presidente Carvalho. É um desafio e uma honra muito grande ser lembrado em um momento difícil e encarregado dessa responsabilidade", explicou. 

Lisca tem 44 anos e começou sua carreira como técnico no Internacional. Depois de rodar por uma série de clubes, voltou ao Colorado para os três últimos jogos do Brasileirão. Na zona de rebaixamento com 39 pontos, o clube gaúcho pega Cruzeiro, Corinthians e Fluminense na reta final da competição. 

"Pela situação que se apresenta, temos a mesma pontuação do Vitória. E, com a derrota, o Sport também está na briga. O Figueirense também veio para a briga e é outro que pode sonhar e almejar esta permanência na Série A. Está na nossa mão. Temos um gol de diferença para o Vitória e é contornável. Nosso grupo é qualificado, boas opções, e agora uma nova filosofia e uma maneira de trabalhar. Quando chega um técnico, a conta é zerada em todos os aspectos", disse o treinador.

"Precisamos disso e vamos jogo a jogo. Contamos com o apoio da nossa torcida, que ontem apoiou. É um novo momento e preciso do torcedor. Estou aqui e acredito muito. Valorizo muito essa oportunidade e clamo pelo torcedor. É muito importante que todos sintam carinho neste momento difícil. Será muito mais fácil junto com o torcedor. Mostrando o que já fez neste campeonato. Não é agora o Lisca, Fernando, Vitório, Ibsen, é o Inter. Independente de qualquer coisa é o Inter", continuou.

Lisca já iniciará imediatamente seu trabalho no Inter. À tarde, comandará um treinamento para os suplentes visando a partida diante do Corinthians, na segunda-feira (21). 

"Temos que saber transformar o limão numa limonada. Jogar o jogo difícil. Hoje para nós será um grande título, uma grande conquista ficar na Série A. É obrigação? É. Mas, para nós do dia a dia, será como uma conquista de Copa do Mundo permanecer na Série A. E vamos passar isso para os jogadores", afirmou Lisca. 

"Não vou falar quais são os defeitos e problemas do Inter. Tenho minha avaliação mas vou me preservar o máximo possível. Não vou avaliar publicamente. Internamente com os jogadores, sim", finalizou. 

Confira demais pontos importantes da coletiva de Lisca:

Esperava ser contratado?
O presidente me acompanha, puxa minha orelha, comenta os jogos, temos uma relação muito forte. Já tínhamos falado mas não era a ideia dele de trocar e o que gostam. Mas as circunstâncias caminham muitas vezes para o que não se quer. Foi atípico. Eu esperava ou não? Depois que terminou o jogo, ele falou que o Celso não ficaria, eu: opa. Já tivemos muitas especulações, e a coisa não tinha encaminhado. Desta vez ele me convocou, conversamos, o acerto foi rápido. Minha vontade de aproveitar essa oportunidade é muito grande. 

Exemplo em fuga do rebaixamento do Ceará
No Ceará tinha nove rodadas, tivemos 15 dias de trabalho sem rodada. Era diferente. Cheguei sozinho, desconhecido, desacreditado. Sem a unidade que o clube busca, essa integração com o torcedor. Tive que comandar todo processo que a direção faz aqui. É bem diferente. O tempo de trabalho, a necessidade é diferente. De oito tínhamos que ganhar seis e empatar um, foi exatamente o que aconteceu. Aqui precisamos fazer mais que o Vitória e o Figueirense. Quem sabe beliscar o Sport. É pensar jogo a jogo. Não adianta se preocupar com os outros. Temos que pensar em nós mesmos. Fazendo 45 pontos acho que dificilmente caímos. 

Lisca Doido
O apelido veio do Juventude, que adaptou o grito de 'Papo Doido' para Lisca Doido. Foi pelo momento, a dificuldade, e a entrega que tivemos. Me dediquei muito por pequenas conquistas, o Juventude não tinha série aquele tempo, nem mesmo Série D, a torcida me identificou este prazer, esta identificação, e acabou que se criou isso. E foi no jogo da final contra o Inter, do Gauchão. O Náutico era parecido, fomentei isso, o Náutico sofrendo, tempo sem vencer do Sport, sem finais... Sentimos a necessidade de puxar o processo. E lá no Ceará foi diferente, tinha conquista de Estadual, e eles me jogaram essa responsabilidade, criaram uma música, e quando voltei de um jogo tinha isso. Estádio de 25 mil pessoas cantando Lisca Doido. Mas é doido de apaixonado. Doido de feliz pelo que faz, doido pelo trabalho. Lá no nordeste a imprensa gosta disso, lá eles adoram o personagem. Então, aqui todos me conhecem, acho que isso não vai acontecer.

Ser representante da torcida no reservado
O torcedor do Inter me conhece, de outros trabalhos e carnavais. A maioria de vocês (imprensa) é daqui e me conhece, como eles me conhecem. É assim, nossos familiares amigos e parentes são colorados ou gremistas, aqui é difícil. Vocês não imaginam como está minha família, todos munto muito felizes e motivados acreditando muito. Estou muito feliz pela oportunidade que estou tendo, orgulhoso de todo meu esforço e caminhada. Não caio de para-quedas. Comecei lá nas escolinhas, passei por todas as categorias e agora o profissional. São 3 jogos, mas vou dar minha vida nestes três jogos. Vou viver de manhã, tarde e noite, vou almoçar e jantar Inter, adversários, vou fazer de tudo, deixar tudo que tenho e isso que eu quero que o torcedor e os jogadores façam. Vejam que aqui tem um cara que vai organizar e aproveitar, viver cada momento dando tudo. Um cara que sabe a dificuldade e responsabilidade, e vou me dedicar 100%  e por tudo que eu sei e aprendi nestes três jogos. 

Como o Inter vai jogar?
Todo treinador quer equilíbrio. Ataque agressivo e defesa sólida. Nunca dizem o que começa, defende ou ataca primeiro? É tudo muito integrado. Tem que saber quando pega a bola o que fazer e quando perde a bola o que vai fazer. Uma coisa está ligada a outra e temos que ter isso bem claro. Pretendo um Inter mais agressivo, que alguns jogadores possam nos dar profundidade, mostrar movimentação, o que queremos, sincronizar movimentos ofensivos, meu estilo é esse. Minha metodologia é toda integrada dentro do treinamento. Se eu tiver cinco ou dois minutos vou aproveitar. Não terei muito tempo, eu sei, mas vou aproveitar. Você só curte a vida quando aceita a morte. Vamos curtir a vida, fazer de tudo para evitar esta tragédia que seria a queda para a Série B. E queremos uma reorganização sem passar por isso. 

Elenco
Temos que trocar o eu pelo nós. Se jogará A B ou C, os jogadores precisam é dar força para o companheiro e imbuídos pelo objetivo. Todos serão importantes. Vou ter os dias para sentir os jogadores, a postura, como procede, como se apresenta nos treinos, como está, falar com médicos fisiologia, departamento físico. 

UOL Esporte

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