Conmebol acusa Banco do Brasil de acobertar desvios milionários no Paraguai

(Foto: Reuters)

Por Globo Esporte


A Conmebol acusa o Banco do Brasil de ocultar das autoridades do Paraguai uma série de operações financeiras "insólitas" realizadas por Nicolas Leoz, que presidiu a entidade entre 1986 e 2013 e há dois anos está em prisão domiciliar, enquanto luta para não ser extraditado aos EUA. O banco, por sua vez, rebateu as acusações e disse, por meio de nota, que "refuta, veementemente, qualquer ilação de que tenha mantido conduta em desacordo com as normas bancárias".

A acusação foi formalizada pela Conmebol num documento entregue nesta semana ao Ministério Público do Paraguai. A entidade pede que o MP Paraguaio investigue desvios de US$ 129 milhões de seus cofres entre os anos 2000 e 2015. A Conmebol pretende recuperar o dinheiro.

Segundo documentos aos quais o GloboEsporte.com teve acesso, o dinheiro foi transferido de uma conta da Conmebol no Banco do Brasil, no Paraguai, para outras contas do Banco do Brasil no Paraguai e no Panamá. Também houve depósitos feitos numa conta do Brasilian American Merchant Bank, subsidiária do Banco do Brasil nas Ilhas Cayman.

Segundo a Conmebol, o Banco do Brasil deveria ter alertado as autoridades paraguaias especializadas em lavagem de dinheiro. Procurado, o banco respondeu por meio de sua assessoria de imprensa:

– O Banco do Brasil esclarece que prestou todas as informações solicitadas pelas autoridades paraguaias. O Banco do Brasil reafirma que cumpre integralmente as legislações locais e internacionais referentes a movimentações financeiras e refuta, veementemente, qualquer ilação de que tenha mantido conduta em desacordo com as normas bancárias no que se refere às movimentações do cliente citado na reportagem.

Na denúncia entregue ao MP do Paraguai, os advogados da Conmebol, Daniel Mendonca e Osvaldo Granada escrevem:

– Os delitos mencionados [...] requerem a participação efetiva de bancos operantes na República do Paraguai, com grave violação de obrigações previstas na legislação relativa à legitimação ou lavagem de dinheiro ou bens [...] Resulta chamativo, em particular, que o Banco do Brasil não tenha reportado como suspeitas para a Secretaria de Prevenção de Lavagem de Dinheiro semelhante volume de operações insólitas e sem fundamento razoável.

De acordo com as planilhas da confederação, entre os anos 2000 e 2005 foram transferidos US$ 10,42 milhões da conta da Conmebol para uma conta pessoal de Leoz em Assunção. Em 2005, o cartola abriu uma empresa chamada NL Stevia SA, para a qual desviou US$ 16,52 milhões até 2009.

Paralelamente a isso, foram transferidos outros US$ 28 milhões para as contas nas Ilhas Cayman, mais US$ 1 milhão para uma conta do BB no Panamá e ainda outros US$ 4,28 milhões para "contas não identificadas" no Banco do Brasil.

A Conmebol também pediu ao Ministério Público do Paraguai que investigue pagamentos no valor de US$ 68,44 milhões feitos a empresas envolvidas no "caso Fifa", que explodiu em 2015 e levou par a cadeia dezenas de pessoas entre empresários de marketing esportivo e dirigentes.

Além de Leoz, a entidade acusa de desvios os ex-presidentes Eugenio Figueredo (2013-2014) e Juan Angel Napout (2014-2015). O advogado de Nicolas Leoz não foi encontrado para comentar o assunto. Em outras ocasiões, a defesa do cartola paraguaio afirmou que ele era inocente.

Eugenio Figueredo está em prisão domiciliar no Uruguai, onde confessou crimes de corrupção no futebol. Juan Angel Napout está em prisão domiciliar nos Estados Unidos, onde será julgado em novembro de 2017. Ele se diz inocente, motivo pelo qual não colabora com autoridades americanas.

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