Assustado, Nuzman foi acordado por delegado da PF: "De novo, de novo?"

(Foto: Reprodução)


Quando os agentes da Polícia Federal bateram na porta da residência de Carlos Arthur Nuzman por volta das 6 horas da manhã desta quinta-feira, o dirigente ainda não estava acordado ou sequer suspeitava que uma nova visita, desta vez com o pedido de prisão temporária, estava a caminho. Recebido pelo mordomo, o delegado Antônio Beaubrun foi até o quarto e ele mesmo acordou Nuzman. Procedimento comum da PF para que não ocorra nenhuma destruição de prova, um policial sempre acompanha o acusado. Segundo o próprio delegado, não houve resistência, mas o presidente do Comitê Olímpico do Brasil ficou assustado e perguntou: "De novo, de novo?".

Os agentes deram um tempo para Nuzman acordar e se vestir e fizeram buscas no local. Desta vez encontraram novas provas que comprovam a suspeita do envolvimento de Nuzman na compra de votos da eleição do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016 como e-mails trocados com Papa Massata Diack e planilhas de custos e contabilidade do próprio dirigente. Em seguida, às 8h27, encaminharam Nuzman para a sede da PF no Centro do Rio de Janeiro para depoimento.

- Ele (Nuzman) ficou um pouco assustado, por ser a segunda vez que a Polícia Federal cumpre um mandado de busca. Conseguimos alguns elementos ainda de provas, que são os e-mails, as contas do Papa Massata Diack, e-mails de solicitação do senegalês, que vão ser bastante úteis para a nova fase da operação. A gente também conseguiu apurar algumas planilhas de custo de contabilidade do próprio Nuzman que servem para fazer um paralelo sobre a evolução patrimonial dele, sobre os gastos dele, o quanto ele recebia e quanto ele tinha de gastos mensais - contou Beaubrun.

Enquanto Nuzman era aguardado na sede da Polícia Federal, agentes também cumpriam mandado de busca e apreensão em Ipanema, Zona Sul do Rio, no apartamento do ex-vice presidente do COB André Richer. Segundo informações fornacidas pela PF, foram encontrados sete revólveres, munição, dez relógios de ouro e uma quantia em dinheiro. Richer não vive no apartamento, que estava vazio.
- Foi encontrado em um outro endereço ligado a ele mais de R$ 95 mil reais em espécie, em um endereço ligado a ele, 5 mil dólares, 10 relógios de luxo e sete armas e munições. Vamos fazer o levantamento (das armas) porque isso foi de outra equipe. Vamos apurar se são armas de registro ou não.

Entenda o caso

Presidente do Comitê Olímpico do Brasil há 22 anos e presidente do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman foi preso na manhã desta quinta-feira, no Rio de Janeiro, em novo desdobramento da Operação Unfair Play (traduzida pela PF como Jogo-Sujo), que por sua vez é um braço da Operação Lava-Jato. Nuzman é investigado por supostamente intermediar a compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional na eleição que definiu o Rio como sede olímpica. Leonardo Gryner, diretor-geral de operações da Rio 2016 e considerado o braço direito de Nuzman também foi detido.

Segundo a investigação do Ministério Público Brasileiro, realizada em colaboração com a Justiça da França, Nuzman foi o principal elo entre o empresário Arthur Soares, parceiro do ex-governador Sérgio Cabral em operações ilícitas e atualmente foragido, e Papa Massata Diack, filho do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack.

Além de ser membro votante do COI, Lamine era figura extremamente influente, sobretudo entre membros africanos, que costumam votar em bloco. Pelo montante (cerca de US$ 2 milhões) transferido por uma empresa de Arthur Soares a empresas dos Diack, acredita-se que Papa e Lamine intermediaram também o pagamento da propina a outros membros votantes.

O envolvimento de Nuzman no esquema veio à tona em 5 de setembro. Na ocasião foram expedidos mandados de prisão para Arthur Soares, mais conhecido como “Rei Arthur”, e a sócia dele no Grupo Facility, Eliane Pereira Cavalcanti. Arthur é considerado foragido, e acredita-se que ele esteja nos Estados Unidos, enquanto Eliane está detida desde então. O trio teve cerca de R$ 1 bilhão em bens bloqueados pela Justiça, e Nuzman foi levado à sede da PF para depor. Ele preferiu não se manifestar.

À época Nuzman teve sua residência, em um bairro nobre da Zona Sul do Rio, vasculhada por agentes da PF. Foram apreendidos R$ 480 mil em cinco moedas diferentes, além de documentos e objetos. Dentre eles estava uma chave que acredita-se ser de um banco Suíço no qual Nuzman guardaria 16 barras de ouro estimadas em R$ 2 milhões. Estas barras e os R$ 480 mil foram declarados no Imposto de Renda de Nuzman, através de uma retificação, 15 dias após a operação da PF. O MPF acreditou tratar-se de uma manobra para “conferir aparência de transparência e licitude a bens que estavam ocultos”.

Também foram descobertos e-mails de 2009 nos quais Papa Massata Diack cobra Nuzman por pagamentos pendentes. A eleição alvo da investigação ocorreu em outubro daquele ano, em Copenhague, na Dinamarca. O Rio de Janeiro superou Chicago, Tóquio e Madri, vencendo a cidade espanhola na rodada final por 66 votos a 32.

Globo Esporte

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