Futebol, cachaça e inclusão: o São Paulo Crystal na primeira Copinha

(Foto: Reprodução)


Futebol e cachaça são duas coisas que fazem parte do cotidiano de muitos brasileiros. E um empresário paraibano as uniu de uma maneira intrínseca, quase umbilical, ao fundar um time na pequena Cruz do Espírito Santo, região metropolitana de João Pessoa. E terra do São Paulo Crystal, que estreou na Copinha nesta quinta-feira com um empate por 1 a 1 com o Taboão da Serra. Um resultado honroso para um clube tem só três anos de existência.

Na cidade, terra natal do poeta Augusto dos Anjos, há também o Engenho São Paulo, maior produtor de cachaça artesanal do país, comandado por Múcio Fernandes. Em 2015, ele comprou o Lucena, time já filiado na Federação Paraibana, e mudou o nome do clube: São Paulo Crystal é um dos produtos que ele vende no Engenho. O projeto, que começou com a ideia de inclusão social e com escolinhas, aos poucos vai ganhando corpo.

- Atendemos um total de 200 garotos em cinco categorias: sub-11, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20. Fornecemos lanche da tarde para todos os que vão treinar, o que é um diferencial na região. E fazemos também acompanhamento escolar das notas, da frequência dos meninos. É um investimento alto, mas pouco a pouco vamos crescendo - diz Múcio, que é flamenguista e por vezes frequentava o Maracanã.

Múcio é um sujeito tranquilo, cuja personalidade contrasta com o mundo tenso do futebol. A conversa fácil recai sempre sobre cachaça, e com paixão ele discorre sempre sobre a produção da bebida que produz (e afirma apreciar com moderação).

O projeto começou como social, para "dar uma ocupação à cabeça dos garotos". E aos poucos vem ganhando corpo. Nos profissionais, o time disputou a segunda divisão do Campeonato Paraibano e terminou na terceira colocação. No sub-20, foi vice-campeão, perdendo a final por 4 a 1 para o Botafogo-PB. A vaga na Copinha estava garantida.

O jogo

Antes da partida, o clima era de festa no estádio Vereador José Ferez, em Taboão da Serra. Duas caixas de som criavam o clima tocando sambas consagrados em volume alto. A torcida compareceu em massa e cumpriu seu papel. Antes do jogo, fogos de artifício foram soltados. Todo um ambiente de pressão que era novidade para os jogadores do São Paulo Crystal, e o técnico do time, Cezar Wellington, focou no tema na preleção.

- É com estádio cheio que o jogador mostra a sua capacidade. É nessa hora que quem é bom cresce - disse o técnico aos seus jogadores.

Funcionou. O Taboão da Serra, com um time muito mais forte fisicamente, pressionou desde o início com jogadas aéreas. Abriu o placar, com o atacante Pablo. Mas logo tomou o empate, com o atacante Lucas, cobrando pênalti (veja o gol no vídeo acima) e saindo para comemorar com um pedido de silêncio para a torcida, que não perdoou.

- Êêêêê, tem um palhaço querendo aparecer! E vai morrer!

Ficou só na ameaça, claro. Assim como o placar ficou em 1 a 1 até o final. Os paraibanos seguraram a equipe da casa com um misto de sorte, organização e uma defesaça do goleiro Richard no fim do jogo. Tiveram também chances de ganhar, mas não aproveitaram. No fim, o clima era de vitória para os paraibanos.

- Jogamos contra um time bom, nos portamos muito bem e mostramos nosso trabalho - disse Cezar Wellington, que é também coordenador da base.

Centroavante "da casa", volante local

Por ironia do destino, Lucas, centroavante do São Paulo Crystal, é nascido em Taboão da Serra. Mas fala com o sotaque paraibano, arretado, inconfundível. O pai, que é de João Pessoa, o levou de volta à terra natal quando ainda era criança.

- Meu pai queria criar os filhos em um lugar mais tranquilo, por isso voltamos para a Paraíba. Mas depois retornamos a Taboão da Serra - conta o centroavante de 19 anos, que acenou para a família na hora de comemorar o gol.

Outro destaque da equipe foi o volante Adriel, que mostrou muita disposição no meio-campo. Nascido em 1999 e capaz de jogar em pelo menos quatro posições (além de primeiro e segundo volante, ele atua nas duas laterais). Natural da cidade de Cruz do Espírito Santo, ele começou na escolinha do time, chegou a treinar no Santa Cruz e tem um sonho bem simples, comum à maioria dos jogadores da Copinha: dar uma vida melhor para a família através do futebol.

Globo Esporte

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