Pivô de disputa histórica, clube mais antigo do Uruguai ressurge no profissionalismo

(Foto: Felipe Schmidt)


Esqueça Peñarol e Nacional. A temporada 2018 do futebol do Uruguai terá, pela primeira vez na história, a presença de seu clube mais antigo. O Albion, fundado em 1891, disputará a segunda divisão da liga nacional. Para isso, após 126 anos no amadorismo, se profissionalizou.

O Albion é considerado o decano do futebol uruguaio. É o fiel da balança numa eterna briga entre Peñarol e Nacional, que disputam o título de mais antigo do país. Isso porque o Albion, em sua centenária história, enfrentou momentos difíceis e nunca se profissionalizou. Seu auge foi ainda na era amadora, quando admitia apenas ingleses em sua equipe.

O curioso é que a sobrevivência do Albion tem muito a ver com o Nacional. A ligação entre os dois clubes é histórica. Tanto que o atual presidente do Decano é Leonardo Blanco, filho de Cacho Blanco, campeão mundial e da Libertadores com o Bolso em 1971 e 1980.

- O Nacional, por muito tempo, manteve o Albion. O impediu de desaparecer e ajudava financeiramente. Isso para evitar que o Peñarol se intitulasse o clube mais antigo. Enquanto existir, o Albion será sempre o pioneiro – disse Ariel Longo, treinador e historiador do futebol uruguaio.

Explica-se: o Albion foi fundado em 1º de junho de 1891. Em 28 de setembro do mesmo ano, surgiu o Central Uruguay Railway Cricket Club, o CURCC, que, em 1913, mudaria o nome para Peñarol. O Nacional nasceu em 1899. Daí a importância do Albion na disputa histórica – foi através de jogadores do clube que se fundaram o Nacional e o Montevidéu Wanderers.

- Sempre existiu um laço afetivo entre as diretorias. Em toda a história, os dirigentes do Albion eram torcedores do Nacional. E hoje é o mesmo. Minha família está vinculada historicamente ao Nacional. Mas o Nacional, como clube, não participa do Albion. Sim, parte das pessoas do Nacional estão atentas ao que acontece conosco. Há uma relação estreita com a coordenação esportiva, os técnicos da base. Mas não passa disso. O Nacional já tem suficientes problemas internos – explicou Leonardo Blanco.

O faz-tudo

Blanco foi quem deu início ao projeto atual do Albion. O clube perdeu protagonismo ainda na primeira década dos anos 1900 e, a partir daí, confinou-se no amadorismo. Em 2013, Blanco assumiu uma instituição que estava a ponto de desaparecer.

No início, era técnico, gerente, roupeiro... Tudo. Hoje, dedica-se apenas à gestão, com apoio de sua irmã, Arantxa, que é vice-presidente. O pai deles, Cacho Blanco, segue como dirigente do Nacional.

O grande pulo aconteceu no ano passado, quando o Albion foi promovido para a segunda divisão e, enfim, pôde se profissionalizar.

Leonardo afirma que o orçamento para esta primeira temporada ronda os 600 mil dólares (cerca de R$ 2 milhões) - em média, o salário de um jogador do elenco profissional é de mil dólares por mês (aproximadamente R$ 3,2 mil). O presidente negocia com um clube argentino um investimento que possa ajudar a manter o Albion.

Apesar do progresso, ainda há muito trabalho. Atualmente, o Albion treina num campo universitário alugado. Não tem estádio para jogar: a tendência é que mande suas partidas no Parque José Nasazzi, do Bella Vista, da terceira divisão.

A antiga sede está abandonada e com pessoas morando lá – tanto que muitos pertences, como troféus e documentos, estão guardados no Nacional. O processo para recuperá-la levará anos, e a ideia é utilizá-la para desenvolver a base.

- Queremos formar jogadores de futebol que sejam boas pessoas. E que algum chegue a ser um jogador de elite - disse Juan Alvarez, gerente de relações institucionais do Albion.

- Queremos ter uma infraestrutura própria que possa fortalecer o projeto. Temos o terreno, é uma região de Montevidéu em que o governo trabalhando muito na recuperação, e o Albion está envolvido nisso. Mas vai demorar alguns anos. Nosso futuro está na base. Queremos captar jogadores e desenvolvê-los para que gerem fundos próprios que sustentem o clube – completou Leonardo.

No atual elenco do Albion, há uma mistura de jovens da base com jogadores que têm experiência na primeira divisão, mas ainda não vingaram. Não há veteranos nem famosos: o mais conhecido é Leandro Fernández, irmão de Sebastián Fernández, que atua no... Nacional.

A estreia do Albion na segunda divisão – e no profissionalismo – está marcada para o primeiro fim de semana de março.

Globo Esporte

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