Em entrevista, Diego Hypolito conta que achava que acusações contra ex-técnico eram “fofoca”

(Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

Por Nicholas Araujo
Redação Blog do Esporte


Após as denúncias de abuso sexual contra o treinador de ginástica artística Fernando de Carvalho Lopes, o ginasta Diego Hypolito, que treinou com Lopes em 2014, se pronunciou sobre o assunto. Diego disse que achava que as acusações eram fofoca e rixa com outros treinadores. Agora, quatro anos depois de sua chegada a São Bernardo do Campo e uma prata olímpica em mãos, Diego ainda tem dificuldades de encarar os fatos.

Diego chegou para treinar em São Bernardo a convite de Fernando. Viu no técnico a chance de recuperar a melhor forma. “Eu precisava de um motivador, e o Fernando era isso no treino”, conta em entrevista ao Globo Esporte. Mesmo com o afastamento do treinador, Diego não acreditou nas conversas de outros ginastas.

“Eu achava que era um telefone sem fio, que era fofoca. Na minha carreira, eu tive muitos críticos no meio do esporte e fui supervalorizado pela nação, por pessoas que realmente tinham importância para mim. E isso me fazia pensar que era a mesma coisa. Ele era um bom treinador. Então, por ele ser um bom treinador... se você for pensar, é muito difícil de acreditar. Hoje em dia não acredito que não seja real. É totalmente o oposto. Depois de tudo, muita gente começou a ter coragem de falar. (...) Hoje em dia, por tantas pessoas que me falaram, eu não acredito que seja uma rixa contra. Eu acredito que alguma coisa existe. Não é possível. É muita gente, é impressionante. Eu não fazia ideia. São muitas crianças. É chocante, disse.

Os boatos, para Diego, eram uma forma de atingir o treinador às vésperas dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

“Os treinadores não gostavam do Fernando. Eu sempre achava que não gostavam, era uma coisa que vinha na minha cabeça e eu sempre comentava com o Caio (Souza, outro ginasta que foi contratado pelo ASA de São Bernardo). Eu achava que não aceitavam o Fernando por ele ser treinador do vôlei. Eu achava que o Fernando estava sendo sacaneado, que ninguém queria que ele fosse para os Jogos Olímpicos. Eu tinha certeza, na minha cabeça, que só queriam sacanear ele por causa dos Jogos Olímpicos e eu não podia fazer nada. Na época, eu pensei: ‘Coitado, não vai para os Jogos Olímpicos’.

Diego Hypolito (Foto: RICARDO BUFOLIN / CBG)

Com o avanço nas denúncias, Diego disse que se viu obrigado a se posicionar e encarar as fofocas como realidade.

“Eu estava meio que fugindo, não estava me posicionando. Se eu, sendo a pessoa que sou, sendo formador de opinião na minha modalidade e no esporte, preciso pegar e mostrar que o certo é o certo e o errado, errado. É uma situação muito delicada, fere muito a imagem da modalidade. Eu tenho muito medo das coisas futuras que vão acontecer na modalidade. Os fatos precisam ser apurados. Ver se 100% é real. Na nossa cabeça, sempre vem uma dúvida. Não aconteceu comigo. Então, os fatos têm de ser apurados. Porque a gente também espera uma resposta disso tudo”.

O caso

Fernando de Carvalho Lopes é acusado de abusos sexuais de jovens atletas da equipe de ginástica artística de São Bernardo. O número de denúncias aumentou após uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, revelar mais de 40 acusações contra Lopes nos últimos 15 anos.

Um comentário em uma postagem nas redes sociais sobre o caso do treinador Larry Nassar, o ginasta Petrix Barbosa deu início no Brasil a uma investigação de quase quatro meses e que entrevistou mais de 80 pessoas, onde 42 delas alegaram ter sido vítimas de algum tipo de abuso físico, moral ou sexual de Lopes, técnico que fez carreira no Mesc (Movimento de Expansão Social Católica).

“O que mais fazia comigo era todo dia tentar molestar, esse sufoco, essa pressão psicológica para um moleque de 10 anos. Banho junto, espiar. Dormir na cama comigo quando eu não queria. Já acordei com ele, não sei quantas vezes, com a mão na minha calça e eu conseguia tirar e dormir porque eu não ficava parado. Teve gente que não conseguiu ter as mesmas reações que eu. E eu não quero que aconteça mais”, disse Petrix Barbosa.

(Foto: Ricardo Bufolin)

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