Justiça americana condena José Maria Marin a quatro anos de prisão

(Foto: Reuters)


A juíza Pamela Chen, da Corte Federal do Brooklyn, no Distrito Leste de Nova York, condenou José Maria Marin, de 86 anos, a quatro anos de prisão pelos crimes cometidos na época em que foi presidente da CBF, entre 2012 e 2015.

Além disso, Marin teve US$ 3,35 milhões (R$ 13,6 milhões) imediatamente confiscados e vai ter que pagar multa de US$ 1,2 milhão (R$ 4,9 milhões). No dia 20 de novembro, haverá outra audiência para discutir o valor que ele terá de restituir à Fifa e à Conmebol. A partir desta data, o cartola brasileiro terá duas semanas para recorrer da decisão.

A defesa de José Maria Marin declarou, logo após a sentença, que vai fazer a apelação. Ela acredita ainda que vai reduzir 13 meses da pena pelo tempo em que ele já ficou preso e mais sete meses por bom comportamento. Ou seja, os advogados esperam que o ex-presidente da CBF cumpra mais 28 meses de prisão (dois anos e quatro meses).

- Tendo em vista a redução de bom comportamento que, na prática, significa sete meses e tirando o tempo que ele já cumpriu na Suíça e aqui (nos EUA), ele terá que cumprir teoricamente mais 28 meses - explicou Julio Barbosa, um dos advogados.

A decisão da juíza Pamela Chen contraria o memorando de sentença enviado à Corte pela Procuradoria do Ministério Público dos Estados Unidos, que pedia não menos que 10 anos de prisão.

Marin chora e interrompe julgamento

A juíza abriu o julgamento sugerindo sete anos de prisão. A defesa do ex-presidente da CBF usou como argumento principalmente a idade do réu, lembrando que a média de idade dos prisioneiros nos Estados Unidos é de 36 anos - Marin tem 86.

José Maria Marin, então, foi chamado para dar sua palavra. Foi a primeira vez que ele falou sobre o caso desde que as investigações começaram. Em seu depoimento, citou principalmente a esposa, Neusa Marin, de 79 anos. E chorou copiosamente.

- Jesus carregou uma cruz. Eu carrego duas, a minha e a da minha mulher - declarou ele, antes de ir às lágrimas.

A reação de Marin fugiu do script do julgamento. Em determinado momento, sequer o tradutor que estava ao seu lado conseguiu acompanhá-lo. É por isso que a juíza se viu obrigada a conceder um intervalo de 10 minutos. Logo depois, a sessão foi retomada.

Outro tecla batida pela defesa de Marin foi a mudança de prisão. Ele está atualmente preso na penitenciária MDC no Brooklyn, famosa pelas más condições dadas aos prisioneiros. O pedido é para que ele fosse transferido para o Centro Correcional do Vale do Moshannon Valley CI, uma prisão federal para homens localizada em Philipsburg, na Pensilvânia. Embora não tenha o poder de mudá-lo de local, a juíza não mostrou objeção quanto à súplica.

A juíza Pamela Chen, por fim, emitiu suas considerações finais rebatendo todos os pontos da defesa, exceto o da idade do réu - ela reconheceu que Marin é um senhor de idade e que, portanto, não pode ser tratado como um prisioneiro comum. No entanto, disse não acreditar nas justificativas de que o brasileiro não sabia dos crimes que estava cometendo e afirmou que ele tinha, sim, consciência de que "coordenava um sistema de corrupção".

Entenda o caso

Há exatamente oito meses, em dezembro de 2017, José Maria Marin foi considerado, na mesma corte, culpado de seis dos sete crimes pelos quais foi acusado pela promotoria da Justiça americana. São eles: organização criminosa (1x), fraude bancária (3x) e lavagem de dinheiro (2x). Eles estão ligados a Copa Libertadores da América, Copa do Brasil e Copa América e cometidos entre os anos 2012 e 2015, período em que Marin foi presidente da CBF. Na mesma ocasião, no fim do ano passado, o cartola foi absolvido de acusação de lavagem de dinheiro relativa à Copa do Brasil.

Marin não esteve sozinho. Nesse mesmo julgamento, o júri popular formado na corte, em Nova York, também condenou o ex-presidente da CONMEBOL e da Associação Paraguaia de Futebol Juan Angel Napout por organização criminosa e fraude bancária.

Tanto Napout quanto Marin foram, no dia 22 de dezembro de 2017, para a prisão no Brooklyn. Segundo a promotoria, Marin recebeu ao todo U$ 6,5 milhões de propina de empresas de marketing esportivo para assinar contratos de direitos comerciais de competições de futebol na América do Sul.

Os advogados de Marin argumentaram que deveria ter sido considerado tempo em que o ex-presidente da CBF ficou preso, por isso, pediram a liberação dele imediatamente. Marin está detido na penitenciária do Brooklyn desde a sua condenação no final de dezembro passado.

A investigação feita pela justiça americana se tornou pública em maio de 2015, quando José Maria Marin e mais cinco dirigentes de futebol de outros países foram presos em um hotel na Suíça. À época, o dirigente brasileiro aceitou ser extraditado para os Estados Unidos e ficou de 2015 a dezembro de 2017 em prisão domiciliar, em seu apartamento de luxo, no prédio Trump Tower, em uma das áreas mais caras de Nova York.

Ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero (que foi suspenso pela FIFA) também foram denunciados pela justiça americana por receber propina e cometer os mesmos crimes pelos quais Marin foi condenado. Mas como o Brasil, por lei, não extradita seus cidadãos, eles não são julgados em Nova York.

Globo Esporte

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