Sem surpresas: Real passeia em Abu Dhabi, e Europa amplia soberania sobre a América do Sul

(Foto: Reuters)


Antes do Mundial de Clubes, diante da temporada irregular do Real Madrid, foi falado, até mesmo na imprensa espanhola, que essa seria a grande chance de quebrar a soberania europeia na competição. Dentro de campo, não foi o que se viu. Com sete gols marcados em dois jogos, o time espanhol passeou pelos Emirados Árabes e, em momento algum, viu o inédito tricampeonato ameaçado. De quebra, reforçou o que já se sabia: a disparidade dos times do Velho Continente para o restante do mundo.

Com a vitória por 4 a 1 sobre o Al Ain neste sábado em Abu Dhabi, o time merengue ampliou, por exemplo, a vantagem de títulos da Europa sobre a América do Sul: são 32 conquistas de seu continente, sete delas apenas do Real Madrid, contra 26 de brasileiros, argentinos e uruguaios.

Os números consolidam também uma mudança de paradigma. Afinal, da primeira edição, em 1960, até 1994, foram 20 títulos sul-americanos contra 13 dos europeus. A partir de 1995, o Velho Continente, que naquela época começou a se abrir mais para jogadores estrangeiros com a Lei Bosman, virou o jogo e conquistou 19 das últimas 25 taças disputadas.

O melhor momento dos sul-americanos foi entre 1977 e 1984, quando Boca, Olímpia, Nacional, Flamengo, Peñarol, Grêmio e Independiente emplacarem sete títulos seguidos, até a Juventus voltar a levar o troféu para o Velho Continente em 1985. Mas as coisas mudaram bastante desde então. A partir da vitória do Milan, em 2007, os europeus levaram 11 das 12 taças disputadas - Corinthians foi o único a quebrar esse domínio, ao bater o Chelsea em 2012.

Passeio do Real Madrid em Abu Dhabi

Dessas 12 edições, pode-se dizer que o título do Real Madrid em 2018 entrou no pódio dos mais tranquilos. Em 180 minutos, o time de Solari não se viu pressionado em nenhum momento. Foram sete gols marcados e dois sofridos (ainda assim, quando as partidas já estavam decididas) e a certeza que a disparidade entre os campeões europeus não reduziu nada.

- Obviamente, é muito difícil vir para cá, afinal você tem que vencer a Champions League. Mas, se fizer isso, ainda precisa vencer e tentar ganhar novamente. Obviamente, ganhamos nos últimos anos, mas estamos aqui com a mesma motivação, como vimos aqui. Queremos escrever a história novamente, acho que seremos os primeiros a conquistar três títulos em sequência - disse Kroos, maior campeão mundial de clubes, com cinco títulos, após a semifinal, destacando o discurso dos jogadores.

Poucas vezes foi tão fácil ganhar o Mundial nesse atual formato da Fifa. Talvez só as campanhas de Inter de Milão, em 2010, e Barcelona, de 2011, sejam comparáveis. Os italianos venceram o Seongnam, da Coreia do Sul, e o Mazembe, do Congo, ambos por 3 a 0, e levaram a taça sem qualquer drama. Com os catalães no ano seguinte, o placar foi ainda mais elástico: goleadas por 4 a 0 sobre Al-Sadd, do Catar, e Santos, e a coroação de uma geração impecável comandada por Guardiola.

É bem verdade que a eliminação precoce do River Plate facilitou bastante a vida do Real Madrid em Abu Dhabi. Antes de o campeonato começar, o time argentino era apontado como um forte candidato a destronar o Real Madrid, mas vacilou, sobretudo na defesa, em momentos decisivos contra o Al Ain na semifinal e acabou dando adeus à briga pelo título com a derrota nos pênaltis.

Mudanças à vista

O desequilíbrio, inclusive, é um dos motivos que deve levar a adotar um novo formato para o torneio. O contrato atual está em fase final, e foi criado um grupo de estudos para apresentar uma nova proposta no próximo encontro da entidade, em 14 de março de 2019, em Miami.

Na sua derradeira reunião, em outubro na Ruanda, a Fifa incluiu na pauta duas novas propostas para o Mundial de Clubes: todo ano ou a cada quatro. Em abril, numa reunião do conselho em Bogotá, a ideia era de um torneio com 24 clubes, sempre no ano anterior à Copa do Mundo, com 18 dias de duração. As mudanças voltaram a ser discutidas em junho, durante a Copa da Rússia, mas sem avanços.

Algumas confederações como a Conmebol pediram mais vagas. Outras, como a Uefa e as ligas europeias, também se manifestaram contra, mas motivos distintos. Diferentemente da Fifa, cujo faturamento vem quase todo da Copa do Mundo, a entidade que controla o futebol no Velho Continente lucra mais com seus torneios de clubes – especialmente a Liga dos Campeões. As mudanças seriam uma ameaça a sua principal atração.

Globo Esporte

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