Badalado, Dorival sofre para remontar Atlético-MG e repetir sucesso

  . Foto: Juliana Flister/Agif/Gazeta Press

Prestigiado por trabalhos anteriores, Dorival Júnior tem o desafio de remontar o Atlético-MG

A derrota de um time de massa por 2 a 1 diante do lanterna do Campeonato Paulista (Grêmio Prudente), na segunda fase da Copa do Brasil, colocaria em xeque o trabalho de muitos treinadores do futebol brasileiro. Não o de Dorival Júnior, técnico que goza de prestígio acumulado nos últimos anos suficiente para, mesmo com a cabeça quente pelo revés, ter tranquilidade para conceder uma entrevista exclusiva ao Terra. Na pauta, como ele planeja remontar o Atlético-MG para repetir o sucesso do Santos do primeiro semestre de 2010.

A tarefa, porém, não parece fácil. Se no Santos teve à disposição uma geração rara, com Neymar e Ganso, no time mineiro, para ficar em um exemplo, perdeu no começo deste ano sua dupla de ataque titular - Diego Tardelli e Obina, vendidos. Para piorar, quando já projetava Jobson e Guilherme para ocupar este vácuo, foi surpreendido com a saída do ex-botafoguense. Neste cenário, pensa primeiro em controlar a instabilidade para depois sonhar com novos feitos.

"Espero chegar à fase final da competição (Copa do Brasil) com o time um pouco mais estabilizado e mantendo uma regularidade para buscar, aí sim, o título", afirmou o treinador, que conquistou tranquilidade para atravessar esse momento de altos e baixos por dois fatores: a consistência nos trabalhos anteriores e a recuperação que tirou o Atlético-MG da condição de quase rebaixado para a permanência na Série A em 2010.

Profissional desde 2003, Dorival Júnior deixou saudades no Figueirense, Fortaleza e Sport, clubes pelos quais sagrou-se campeão estadual. Pelo São Caetano, então rebaixado no Campeonato Brasileiro, foi vice-campeão paulista em 2007, mesmo ano em que viveu altos e baixos no Cruzeiro. Mas foi depois de trabalhos elogiados no Coritiba (2008) e Vasco (campeão da Série B de 2009) que Dorival ganhou a chance de comandar o Santos e mudou seu patamar entre os técnicos do País.

Encantou o Brasil ao formar um time ofensivo campeão paulista e da Copa do Brasil, mas teve o trabalho interrompido quando não foi atendido em um pedido de punição a Neymar por indisciplina. Mesmo assim, ganhou status que faz seu nome ser lembrado até como futuro técnico da Seleção, condição de que tenta se afastar. "Não é minha pretensão neste momento, com toda a franqueza e sinceridade", disse o treinador.

Confira a entrevista na íntegra:

Terra: Dorival, muita gente hoje diz que você é o melhor técnico do Brasil, graças aos resultados alcançados nos últimos dois anos. Você é?
Dorival Júnior:
Não. Longe disso. Eu estou com sete anos de carreira apenas, e é muito pouco para que um treinador se consolide como um grande profissional. Eu acho que muita coisa ainda tem que ser melhorada e trabalhada. Tenho plena consciência disso. Acho que temos aí grandes nomes, nomes vivendo um grande momento também. Observo muito o trabalho de todos eles para que possa tirar o máximo possível, e a partir daí continuar montando aquilo que, para mim, seria uma carreira de um profissional que luta sempre pela melhora de suas condições.

Terra: Não sendo você, quem é o melhor técnico do Brasil hoje?
Dorival Júnior:
Difícil. Acho que nós temos grandes nomes aí. Temos grandes profissionais. Alguns despontando, outros já com uma carreira consolidada. Mas nós temos grandes nomes e, para mim, citar alguns deles seria até difícil. Eu vejo grandes profissionais como espelho para continuar melhorando e buscando uma consolidação da vida profissional.

Terra: A carreira é breve. Você projeta Seleção, por exemplo?
Dorival Júnior:
Não. Eu acho que o profissional tem que se preparar para fazer o melhor trabalho possível em um clube, e nos demais clubes em que ele venha a trabalhar. Acho que você não pode nunca ficar parado. A cada clube, você vive um momento diferente, a cada clube você vive novas situações que vão lhe testando ao longo de anos, para que um dia você tenha uma condição de abraçar ou dar um passo maior. Não é minha pretensão neste momento, com toda a franqueza e sinceridade. Eu apenas me preparo para ser um pouco melhor no ano seguinte daquilo que eu fui, independente de conseguir ou não títulos. Acho que um grande trabalho também não pode só ser mensurado pela conquista de títulos. Não é a todo o momento que as coisas vão acontecer. Acho que você tem que estar sempre melhorando a cada momento, porque a exigência de um profissional vem aumentando a cada instante, e você tem que sempre dar uma resposta.

Terra: Você não projetando Seleção, como você avalia o trabalho do Mano Menezes?
Dorival Júnior:
Muito bom pelo início. Eu acho que ele está buscando uma reformulação, possibilitando a alguns garotos aparecer, se consolidarem como craques e grandes jogadores. Alguns outros que merecem uma volta, como é o caso do Lúcio, que novamente vem tendo uma oportunidade, do Elano... Eu acho que ele tem um material muito bom nas mãos, e com certeza nós faremos aí não só uma boa Copa América, mas principalmente um grande Campeonato Mundial.

Terra: Você falou do seu trabalho a cada ano em cada clube. Como é o trabalho que o presidente Alexandre Kalil permite a você fazer no Atlético-MG?
Dorival Júnior:
Acho que me dá toda a liberdade possível. Nós estamos primeiro tentando estabilizar a nossa equipe, para depois busquemos aí um trabalho que abranja um pouco mais os departamentos de base. Acho que é mais do que necessário você ter um trabalho integrado, mas totalmente integrado, onde o garoto diminua um pouco esse período de maturação nessa passagem de base para o profissional. Acho que é com essa intenção que nós estamos a partir desse ano, mas principalmente focando o trabalho em cima do profissional, que é necessário você primeiro estabilizar a sua equipe, para que depois você possa buscar uma condição diferente dentro do próprio clube.

Terra: Mesmo com trabalho que é feito lá dentro, o Vanderlei Luxemburgo não conseguiu bons resultados - foi campeão mineiro, mas deixou o time na briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Como era o cenário no clube quando você chegou, e o que você acha, olhando de fora, que faltou para que ele alcançasse os resultados desejados?
Dorival Júnior:
Olha, é difícil analisar. Eu tenho que responder pelo momento em que eu cheguei. Tivemos aí uma boa recuperação (no Brasileiro), mas nada além disso. Nós estamos tentando uma remontagem desse elenco. Ele ainda carece em algumas posições. Estamos com algumas dificuldades, mas o trabalho é assim mesmo, e um pouco de paciência é necessário em um momento como esse, para que você possa estabilizar o quanto antes sua equipe.

Terra: O Atlético perdeu algumas peças importantes no setor ofensivo - Obina, Diego Souza, Diego Tardelli, agora o Jobson. Está faltando força ofensiva ao time para esse ano?
Dorival Júnior:
Olha, eu não fico lamentando, não fico aqui respondendo por aqueles que já saíram. Eu acho que a diretoria está trabalhando de uma maneira adequada pelas nossas necessidades, conhece mais do que ninguém as nossas prioridades. Eu acho que é tudo questão de tempo. A minha obrigação é trabalhar e fazer o melhor possível com o elenco que aqui está. Eu tenho certeza de que ainda podemos render ainda muito mais. Espero chegar à fase final da competição (Copa do Brasil) com o time um pouco mais estabilizado e mantendo uma regularidade para buscar, aí sim, o título.

Terra: Você falou ainda da sua chegada, vindo do Santos para o Atlético-MG. Aquela rusga com o Neymar foi superada? Ele até foi à TV, pediu desculpas e falou que você é um paizão... Para você, ponto final naquele problema todo?
Dorival Júnior:
Não, o problema já estava superado dentro do Santos mesmo. Não tinha necessidade. O meu problema foi que a diretoria não me deixou penalizar da forma como eu queria e que o atleta merecia. Agora, com o atleta, estava tudo resolvido, sem problema algum. E a vida segue. Eu sou um torcedor do Neymar porque é um garoto maravilhoso e um menino que com certeza vai ser um dos grandes jogadores do futebol mundial. Tudo isso é questão de tempo, e eu torço muito pra ele. Ele sabe disso.

Terra: Você foi procurado pelo São Paulo nesse intervalo entre Santos e Atlético-MG?
Dorival Júnior:
Não. Não fui procurado, só pelo Atlético-MG.

Terra: Aceitaria?
Dorival Júnior:
Não falo sobre hipótese, jamais. Lá hoje tem um grande profissional que, acima de tudo, é um grande amigo (Paulo César Carpegiani).

Terra: A gente estava falando agora há pouco das peças que o Atlético perdeu no ataque, a mais recente o Jobson. Por que ele rendeu tão pouco? Por que ele teve tão poucas chances?
Dorival Júnior:
Não, ele vinha tendo... Ele teve lesão no momento da pré-temporada, depois teve um probleminha nosso, interno, que foi resolvido. Ele era titular da equipe até semana passada, quando infelizmente acabou pedindo para sair. É uma situação inusitada, nos pegou de surpresa, mas nós temos que respeitar aquilo que o atleta pensa.

Terra: O que aconteceu nesse problema interno? Você pode comentar?
Dorival Júnior:
Interno, foi resolvido. Isso aí lá atrás, bem atrás. Ele se recuperou, trabalhou, buscou uma vaga. Foi titular da equipe, e no momento que era titular, acabou tendo essa atitude.

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