Ex-ginasta diz que fingia dor para escapar de abusos: "Era a forma de evitá-los"

(Foto: Reprodução)


Após o seu depoimento na Delegacia da Mulher, da Criança e do Adolescente (DDM) de São Bernardo do Campo, o ex-ginasta Lucas Altemeyer, 29, afirmou que precisou desenvolver uma estratégia para fugir dos assédios do ex-treinador da seleção brasileira masculina de ginástica Fernando de Carvalho Lopes. O técnico é alvo de processo que corre em segredo de Justiça desde 2016 - a ação foi ingressada pelos pais de um menor de 18 anos.

Altemeyer, que é hoje é artista de um circo canadense, trabalhou com Fernando de Carvalho Lopes quando era atleta do Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), clube particular de São Bernardo, entre 2003 e 2005. Ele era colega de Petrix Barbosa, que denunciou os atos do treinador. Ambos acabaram se distanciando quando há 13 anos o técnico o dispensou.

- Na época, eu tinha uma técnica para tentar [escapar do assédio]. No momento em que ele [Lopes] mal encostava perto do meu órgão genital eu fingia que tinha batido muito forte, caía no chão, colocava a mão nele [pênis] e ficava falando em voz alta: "Nossa, você bateu! Tá dando treino ou tá me machucando?". E ele assustava no momento, pedia desculpa e, quando eu retornava para o exercício, ele já me auxiliava de uma forma correta, sem precisar tocar. Com o passar dos dias ele me auxiliava corretamente, não tocava, mas depois de um tempo achava que eu tinha esquecido, tentava de novo e mais uma vez eu fingia de novo. Eu falava: "Meu, foi muito forte, toma cuidado". E era essa forma que eu achava para evitar que ele fizesse isso - disse.

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O Fantástico de domingo revelou que ao menos 40 ginastas e ex-ginastas disseram ter sofrido abusos de Lopes. Como desdobramento, o ex-treinador foi afastado do Mesc e vai perder outro cargo público, na Prefeitura de Diadema, que abrirá processo administrativo para exonerá-lo.

Na época em que trabalhou com o Fernando de Carvalho Lopes, Lucas Altemeyer era capitão da equipe. Ele relatou que chegou a repassar aos companheiros de treino a estratégia que desenvolveu para evitá-lo.

- Eu chegava nos meninos e falava "ou você fala com ele pra não tocar mais lá [pênis], que você não quer, ou finge que ele bateu também, faz uma cena". Porque eu queria proteger eles também e eu conseguia enxergar acontecendo durante o treino. Tanto é que eles [outros ginastas] vinham falar comigo. (...) E os meninos me escutavam em relação a isso. A gente tentava de uma forma mais como equipe de um ajudar o outro, em vez de pedir ajuda do Fernando no momento do exercício. Aí eu comecei a ajudar os meninos e eles me ajudavam. Era essa a forma que a gente achava para evitar que esses abusos acontecessem - complementou.

Depois de se calar por anos e omitir os fatos até mesmo de sua família, Altemeyer tomou coragem para prestar depoimento em São Bernardo após a reportagem de domingo na TV Globo. Hoje, ele acredita que quanto mais atletas que sofreram abusos se manifestarem, mais decente o ambiente se tornará. Principalmente na ginástica, que vive crise de credibilidade.

- Acho que é o certo a ser feito. Tenho fé que o pessoal vai atrás também e sai do buraco, sai da sua casa, e vai falar o que aconteceu. Porque ontem fomos nós que sofremos isso e amanhã pode ser meu filho, seu filho ou seu sobrinho - finalizou.

Globo Esporte

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