Apresentado, Ramírez cita projeto e fala sobra acerto: "O Inter chegou quando tinha que chegar"

(Foto: Ricardo Duarte/Divulgação Inter)


Ainda num espanhol que levará tempo até virar português fluente, Miguel Ángel Ramírez não fez rodeios para expor suas pretensões para o Inter. O treinador de 36 anos foi apresentado oficialmente pelo clube na tarde desta sexta-feira e voltou a falar em "dar espetáculo" para marcar época com uma equipe vencedora no Beira-Rio.

Este foi o tom de sua primeira declaração como técnico colorado, ao lado do presidente Alessandro Barcellos, do vice de futebol João Patrício Hermann e do executivo Paulo Bracks na sala de conferências do estádio. Em seguida, ele passou à entrevista coletiva, respondida com alguns "obrigado" a cada pergunta.

E aí logo ficou claro que o discurso é de ambição à altura do projeto apresentado ao treinador, procurado também por outras equipes do Brasil. O técnico citou as pessoas que trabalham no clube e disse que o Inter "chegou quando tinha que chegar".

– Creio que o Inter chegou quando tinha que chegar. Às vezes não sabemos bem por que dois pontos têm que se encontrar. O clube pediu que não saísse antes do final da temporada. E foi um clube que me deu tudo. Fiquei até dezembro e depois perguntei se era possível ouvir propostas. O Inter chegou no tempo que tinha que chegar. Além do clube, me interessa muito as pessoas. Creio que o Inter tem as pessoas diferentes. Naturalmente, a grandeza deste clube e com as pessoas adequadas, tempo oportuno e o projeto – disse o treinador.

Questionado sobre ser um técnico de apenas 36 anos no comando do Inter, o treinador citou os garotos que já têm atuado no elenco. E afirmou que olhar para a idade ou para uma suposta falta de experiência é um pensamento "limitante".

Esse pensamento limitante é o que nos faz não ter coragem para que Lucas Ribeiro, Pedro Henrique, Nonato, Praxedes não joguem. Porque não têm experiência. Como terão se não jogam? Nosso pensamento é diferente. Temos que ter bem posto para colocar os jovens no campo e o treinador no banco"

— Miguel Ángel Ramírez

Ramírez assinou contrato com o Inter até o final de 2022. O treinador chegou com mais três profissionais para a sua comissão técnica: o auxiliar Martín Anselmi, o preparador físico Cristóbal Fuentes e o analista de desempenho Luis Piedrahita.

Os gringos iniciam os trabalhos, de fato, com o grupo principal colorado na próxima segunda-feira. Até lá, seguirão uma rotina de observações e reuniões no CT do Parque Gigante.

> Confira mais trechos da entrevista:

Tempo para implementar trabalho

Vamos ter tempo. Vamos começar na segunda já com teste de Covid-19 e físicos para podermos separar após um período de descanso. Desde o primeiro dia, transmitindo uma mensagem com conteúdos. Há treinamento suficiente para construir. O Gauchão vai ajudar a ir competindo, ajustando, para tentar chegar às melhores condições à Libertadores, Brasileirão, sabendo que é algo novo, distinto, que vai precisar de tempo, que vai precisar da nossa habilidade como treinadores, porque os jogadores são suficientes para entender. Temos que ser ágeis para desenvolver o conteúdo.

Avaliação do elenco

Há partes e partes, de ir nos acomodando, o plantel a nós e nós ao plantel. Não posso dar números, porque precisamos estar com eles e ver o que vivenciam, as respostas individuais. A partir disso, tomar decisões junto ao clube. Necessitamos de um tempo de entendimento comum. Precisamos saber quem é capaz de evoluir e se adaptar e quem não. Mas é um trabalho conjunto. Creio que é uma aventura juntos. E creio que assim vai funcionar. Começamos na próxima semana e avaliando certos comportamentos das resposta que têm para tomar decisões desse nível

Preparação para trabalhar no Brasil

Demos um tempo, preparando, porque o Brasil era o destino final. Era o mais importante estar integrado ao idioma e à cultura do país. Neste sentido, saí da Espanha, estive na Grécia, no Catar, no Equador. Sou um cidadão do mundo. Eu gosto de experimentar culturas diferentes. Para o futebol, não sei se há uma forma de se preparar. Os anos, a experiência que vai somando dão bagagem de coisas para colocar na mochila. Mas o esporte é o mesmo, a bola é a mesma. Creio que estou preparado, e a comissão técnica está mais preparada que eu. Estamos preparados para esta aventura.

Paolo Guerrero

Com respeito a Paolo, resumo o dia que encontrei ele. Estava no trabalho de readaptação, nos cumprimentamos, disse que o queria ver logo em campo. E a resposta foi: “na segunda eu jogo”. Queremos jogadores com mentalidade assim. Queremos muito trabalhar com ele, é um profissional incrível, dizem os que trabalharam com ele. É um profissional que treina muito bem e quer dar tudo pelo Internacional e pela sua seleção. O que mais vou dizer? Muita vontade de começar a trabalhar com ele, que faça sentir-se o grande jogador que é.

Interesse em Gabriel Neves

Com respeito a Neves, creio que o executivo comentou que é um jogador que interessa não só ao Internacional, mas a outros clubes. Confesso que respirei um pouco quando soube que não jogaria contra nós na Libertadores passada, porque é um grande jogador. Mas temos uma equipe técnica que trabalha e vamos analisar as posições que precisamos reforçar e numa decisão conjunta, não é só o Miguel Ángel Ramírez. Veremos quem tem o perfil para trazer.

"Eu vi ao vivo o jogo contra o Barcelona, que fez o Inter campeão do mundo. Eu vi o vídeo do Beira-Rio cheio de gente, que me arrepiou. Tomara que o mais rápido possamos desfrutá-lo"

— Miguel Ángel Ramírez

Jejum de títulos

Não é tão fácil, como indicam os anos do clube sem ganhar. Só ganha um. Temos que analisar muitos fatores e nos levam por vários caminhos difrerntes. De início, tentaremos dar uma condição de otimismo e esperança a um grupo golpeado por tudo que aconteceu. Vamos tentar e tentar e tentar. O que aconteceu na última rodada, a bola não entrou, ou foi impedimento, mas se estivesse habilitado, seríamos campeões. Por isso é tão difícil ser campeão.

Futebol brasileiro e Beira-Rio

Eu vi ao vivo o jogo contra o Barcelona que fez o Inter campeão do mundo. Desde pequenos, aprendemos a seguir o futebol brasileiro. Clubes de outros continentes nunca estavam tanto na nossa vida como os brasileiros. E toda vez que chegava na Espanha, eram grande jogadores, que viraram nossos ídolos. Eu vi o vídeo do Beira-Rio cheio de gente, que me arrepiou, e tomara que o mais rápido possamos desfrutá-lo para ter certeza que valeu a pena vir aqui. Eu gosto muito de trabalhar, vir ao clube, conversar com as pessoas que me motivam. Quero muito conhecer coisas que ainda não sei.

Xenofobia e adaptação ao Brasil

É normal no ser humano ter um lado obscuro neste sentido. Venho de uma ilha muito próxima da África, e cada dia chegam mais imigrantes em busca de refúgio. E lá há pessoas que acham que são donas dessa ilha só por ter nascido lá e negarem quem chega. Eu sou um migrante também e sempre me senti acolhido em cada país que estive. Mas também tentei me integrar a cada país que estive. No Catar, aprendi árabe, tentei comer o que comem, fazer o que fazem, entender a cultura. No Uruguai e no Equador foi a mesma coisa. Aqui será o mesmo. Às vezes há pessoas que acham que são donas de algum lugar.

Globo Esporte

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