Com quatro meses de atraso salarial, futebol feminino vive drama ainda maior no Fluminense

(Foto: Mailson Santana/Fluminense)


Não são só os homens que sofrem com os atrasos salariais no futebol do Fluminense. Na verdade, o drama ainda maior está no time feminino. Com valores e visibilidade menores, as mulheres alcançaram o quarto mês sem pagamento. O último depósito feito foi referente ao mês de agosto.

Em contato com o GloboEsporte.com, as jogadoras divulgaram carta aberta para cobrar providências da diretoria (leia abaixo). Nos depoimentos, há relatos de atletas em dificuldades, com contas e aluguéis atrasados. Algumas vieram de outros estados para reforçar o time e ainda não receberam o primeiro pagamento do clube, apesar de a temporada já ter terminado.

O problema não está apenas no time feminino. O Fluminense como um todo convive com atrasos desde 2017. As mulheres do futebol estão enquadradas na categoria de bolsistas, um vínculo não profissional. Assim como alguns atletas dos esportes olímpicos e em Xerém, no futebol de base. A reportagem apurou que o valor referente à folha delas (que inclui o elenco principal e algumas atletas da base) é de cerca de R$ 30 mil por mês.

Procurado pela reportagem, o Fluminense salientou que todas as atletas são amadoras e bolsistas, e por isso estão sem receber pela mesma quantidade de tempo de outros atletas remunerados na mesma categoria (veja a resposta completa abaixo). Na sexta-feira, o GloboEsporte.com informou sobre os atrasos do time masculino e de outros funcionários. Segundo o presidente Mário Bittencourt, as folhas em atraso serão regularizadas na próxima semana.

Saldo positivo em campo

O ano se encaminha para o fim negativo nas finanças, mas positivo dentro de campo. Esta foi a primeira temporada do futebol feminino do Fluminense, que fez boa avaliação. O clube chegou às finais do Campeonato Carioca tanto do sub-18, com derrota para o Vasco, como no profissional, que ficou com o Flamengo.

Nos torneios nacionais, o desempenho também foi considerado satisfatório. Na Série A2 do Campeonato Brasileiro, a segunda divisão, a equipe caiu nas oitavas de final para o Grêmio. No Brasileirão sub-18, chegou até a segunda fase.

O time feminino do Fluminense é fruto da parceria do clube com o projeto Daminhas da Bola, da Baixada Fluminense, liderada por Thaissan Passos. Ela é técnica tanto da equipe principal quanto da de base do Tricolor. O elenco começou a temporada em Laranjeiras, mas se mudou para o Centro de Treinamentos do Tigres-RJ, em Xerém. É lá onde deve acontecer a pré-temporada para 2020. No futuro, o Flu tem nos planos ampliar o CT de Xerém para alocar, além das categorias inferiores, também o futebol feminino.

Confira a carta na íntegra

"Nós realmente não queríamos ter que chegar a isso, expor esse tipo de situação, mas é que já está insustentável.

Hoje viver do futebol feminino, principalmente aqui no Rio, é impossível. Já estamos há 4 meses sem receber, desde agosto até agora, com meninas passando por dificuldades, sem conseguir pagar aluguel, meninas que vieram de outros estados e até hoje não conseguiram receber nem um salário, meninas que infelizmente não tem outra renda e contam com esse dinheiro para sobreviver ... O que nos deixa mais chateadas é que são muitas promessas de melhorias, só que nunca andam para frente, é triste ver que a situação da nossa modalidade (principalmente o futebol feminino carioca) está dessa maneira, a mídia diz em ascensão, só para a mídia mesmo... Sabemos que a situação do FLUMINENSE não está das melhores, mas o problema é o descaso com nossa modalidade, todas as vezes que é liberado algum dinheiro pra acertar contas nós não entramos nem na fila, tanto é que já completou esses 4 meses de salário atrasado... Sabe o que é pior, é que para mídia está tudo lindo e maravilhoso, porque afinal de contas vocês têm a camisa, certo? Errado, NÓS QUEREMOS RESPEITO!!!

Trabalhamos duro desde janeiro, fizemos a melhor campanha do Rio no campeonato brasileiro A2 e a segunda melhor campanha do estadual, conseguindo assim o vice campeonato. MESMO DIANTE DE TANTAS DIFICULDADES, NÓS HONRAMOS A CAMISA DO FLUMINENSE e no seu primeiro ano de futebol feminino fizemos ótimas campanhas, porém o problema com o futebol feminino parece nunca ter fim.

Como foi dito antes, não queríamos que chegasse a esse ponto, mas tivemos que desabafar e lutar pela nossa causa, PORQUE CONTINUAR ASSIM NÃO DÁ MAIS...

NÓS NÃO ACEITAMOS MAIS JOGAR APENAS POR UMA CAMISA DE CLUBE, OU POR UMA BOLA, NÓS QUEREMOS SER VALORIZADAS E PRINCIPALMENTE QUEREMOS RESPEITO!!!".

Resposta do Fluminense

"O Fluminense Football Club esclarece que as atletas do seu time de futebol feminino são, em sua totalidade, amadoras e bolsistas. As jogadoras recebem suas bolsas ao mesmo tempo de todos os outros bolsistas do clube e, portanto, estão sujeitas ao mesmo período de atraso. De nenhuma forma estão sendo preteridas em relação aos outros.

Além das bolsas, as atletas recebem plano de saúde, plano dentário, vale-transporte e alimentação nos treinos.

O clube reafirma que segue trabalhando para resolver todas as questões financeiras o mais rápido possível".

Globo Esporte

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