Isaquias nega que medalhas tenham trazido mais patrocínio: "Igual a 2013"

(Foto: Reprodução)


Isaquias Queiroz fez história na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Sua modalidade, a canoagem velocidade, nunca tinha conquistado uma medalha olímpica. Na época com 22 anos, ele abocanhou três, sendo uma de bronze no C1 200m e duas de prata, uma sozinho no C1 1000m e outra com Erlon de Souza no C2 1000m. Dessa forma, se tornou o atleta brasileiro a subir mais vezes ao pódio em uma única edição dos Jogos Olímpicos. Apesar da importância histórica e esportiva do feito, isso não significou a chegada de mais patrocinadores ao jovem esportista.

- Mantive os pés no chão, porque sabia que esse negócio de: "ah, ganhou a medalha olímpica, a sua vida vai mudar" não era verdade. Mudou em relação a reconhecimento, a estar na rua e o pessoal saber quem eu sou, às vezes confundem um pouco da modalidade, a canoagem com o remo, mas em relação a patrocinadores eu continuei a mesma coisa. Estou igual a 2013. Em relação a essas coisas de vir um rio de patrocinadores, não é exatamente como o pessoal pensa. Lógico que a gente quer ter uma condição boa, mas para mim o importante é estar aqui treinando junto com meu treinador, com a minha equipe, e para mim o importante é ganhar medalha como sempre fiz e como continuo fazendo - comentou em entrevista ao GloboEsporte.com em Lagoa Santa, onde mora e treina com o restante da seleção brasileira e seu técnico Jesús Morlán.

Apesar disso, ele se mantém confiante para a chegada de mais patrocinadores até a Olimpíada de Tóquio, em 2020.

- Vou continuar treinando, continuar lutando, fazendo meu trabalho, e uma hora os patrocinadores vêm. Faz pouco tempo que passou a Olimpíada, e como a canoagem não é tão visualizada assim, demora mesmo. Mas acho que até 2020 podem vir mais patrocinadores. Espero que venha, mas para isso preciso estar demonstrando dia a dia meu trabalho na água para todo mundo estar acreditando no meu potencial e na canoagem - opinou Isaquias.

Atualmente, Isaquias recebe da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), que tem como principal patrocinador o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), e conta com o apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB), do Ministério do Esporte e do clube que defende, o Paulistano. Na Rio 2016, ele teve outros patrocinadores, como Samsung e GE, mas os contratos acabaram e não foram renovados. De acordo com ele, existe a possibilidade de renovação com a Petrobras, que também o ajudou nos Jogos Olímpicos.

Erlon de Souza, que foi parceiro de Isaquias Queiroz e com ele conquistou a medalha de prata olímpica no C2 1000m na Lagoa Rodrigo de Freitas, fez coro. O canoísta, contudo, lamentou a situação e disse que esperava sim receber mais apoio.

- É a mesma situação, estamos na mesma, temos os mesmos patrocinadores. Meio que fiz uma fantasia na minha cabeça que, medalhando, tendo bons resultados, poderia ter aí bom retorno de patrocínio e tudo o mais. Mas foi meio que uma ilusão nessa parte. Eu creio que todos os atletas pensam a mesma coisa que, participando de uma Olimpíada, pode ter uma mudança, principalmente sendo medalhista, e a gente não viu essa mudança. Não vimos nada diferente - falou o esportista, que também competiu nos Jogos de Londres, em 2012.

Ao menos no que diz respeito à CBCa, os dois atletas estão bastante satisfeitos. Afinal, com a renovação do BNDES como patrocinador, a entidade segue dando, juntamente com o COB, boas condições para os atletas em termos de treinamentos e competições. O CT de Lagoa Santa segue firme e forte. O espanhol Jesús Morlán, que luta contra um câncer, mas é considerado talvez o principal responsável pela evolução da modalidade no país, segue no cargo.

Isaquias, por exemplo, embarca em breve para a disputa do Mundial Júnior em Bascov, na Romênia, no fim de julho. Em agosto, eles dois e Maico Ferreira, atleta que foi integrado recentemente à seleção brasileira, vão competir no Mundial Sênior. Até agora, já estiveram também em uma etapa da Copa do Mundo na Hungria, onde Queiroz foi prata, e no Sul-Americano em Paipa, na Colômbia.

- Cara, o nosso relacionamento com a confederação melhorou muito. Vemos que eles estão mais próximos da gente, o relacionamento é ótimo. Temos visto que o presidente tem se preocupado com o rendimento do treinamento. Tem nos dado um bom suporte - explicou Erlon.

- Em questão da CBCa, está muito melhor que os primeiros anos quando o BNDES entrou. O BNDES renovou, o que já é um ponto positivo pra nós da modalidade, para segurar a gente em relação aos campeonatos que vem pela frente. Então acho que em relação a isso a CBCa está sendo bastante atenciosa pra gente. Continuei com o mesmo salário, não caiu nada, continuo recebendo, estou até vendo um patrocinador particular com o BNDES pra mim. Estou bem tranquilo com a CBCa e com o João (Tomasini, o presidente). João foi na Bahia, conversou comigo em relação à renovação com o BNDES, me deixou ciente de tudo, estamos com uma relação ótima e melhor do que era inclusive - completou Isaquias.

Isaquias diz que o que mais mudou após a conquista das três medalhas olímpicas foi o assédio do público. Às vezes, conta ele, gostaria de ter uma pista privativa para pegar voos ao invés de ter que ir até o Aeroporto de Confins, onde embarca para viagens nacionais e internacionais.

- Para mim, como não estava muito acostumado com assédio, às vezes ficava um pouco chato, todo mundo sabe que sou meio esquentadinho às vezes, às vezes estou de cabeça quente, e aí alguma pessoa vem tirar foto, não sabe o que está acontecendo, aí sou um pouco grosso, na hora de tirar foto, às vezes (risos) - falou.

Erlon, por sua vez, admite que o assédio a Isaquias é maior, já que ele conquistou três medalhas, e afirma que gosta bastante do reconhecimento das pessoas nas ruas.

- Assim, o que aconteceu com o Isaquias é normal. Ganhar três medalhas e não ter o reconhecimento, não ser reconhecido por onde passa é impossível. É tudo mérito dele, é claro. Eu ajudei, mas ele ganhou três medalhas. Tive minha parte sim, mas nada comparado ao que ele teve e vem tendo. Mas fico feliz com esse carinho. É bom ser reconhecido. Gosto desse calor, das pessoas terem acompanhado meu trabalho - concluiu.

Globo Esporte

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