Nory admite erro em ato racista de 2015 e fala em se desconstruir: "Me envergonho bastante"

(Foto: Ricardo Bufolin / Panamerica Press / CBG)


Cinco anos depois, Arthur Nory decidiu falar abertamente sobre o ato racista que cometeu em 2015. O atual campeão mundial da barra fixa admitiu o erro por considerar na época uma brincadeira ou piadas as injúrias raciais a Angelo Assumpção, então colega de seleção brasileira e do Esporte Clube Pinheiros. Envergonhado, o ginasta de 26 anos contou que está tentando se desconstruir e se tornar uma pessoa melhor.

- Estou aqui para quebrar o silêncio para um assunto que tem de ser tratado com atenção. Eu me envergonho bastante. Tinha duas escolhas: continuar achando que era uma brincadeira ou buscar aprender com aquilo. Isso não pode se repetir, principalmente no esporte, onde você acaba se tornando uma referência para os outros. É importante você ser um exemplo bom. E que esse exemplo que aconteceu comigo lá atrás não seja para ser seguido, seja um exemplo para ser olhado, tratado e orientado para desconstruir tudo isso que existe nessas bolhas. A primeira coisa é reconhecer. Foi quando entendi a gravidade. Procurei o Angelo em três momentos para pedir perdão. É direito dele me perdoar ou não, e é obrigação minha aprender com meu erro, buscar conhecimento, me tornar uma pessoa melhor e principalmente me desconstruir - disse Arthur, em um vídeo postado em suas redes sociais.

Nory e Angelo estavam em um período de treinamento da seleção brasileira em Portugal, quando o atual campeão mundial da barra fixa e os ginastas Fellipe Arakawa e Henrique Flores cometeram as injúrias raciais. O vídeo vazou na internet. "Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca… Quando ele estraga é de que cor? (risos)”, pergunta Arthur Nory, com Angelo constrangido próximo a ele. “Preto!”, respondem os outros. “O saquinho do supermercado é branco. E o do lixo? É preto!”.

O caso voltou aos noticiários durante a reportagem do Esporte Espetacular que denunciou abusos morais e injúrias raciais identificados pelo Pinheiros na sua equipe de ginástica. Apenas Angelo, vítima na situação, foi punido com a demissão. Nory, que não teve relação com os novos casos denunciados por Angelo, já havia admitido o erro no caso de 2015.

- Não foi uma brincadeira. Foi uma atitude repugnante inaceitável que hoje não pode acontecer mais. A gente não pode ser conivente com uma situação como essa - disse o ginasta ao Esporte Espetacular.

Medalhista de bronze no solo das Olimpíadas do Rio de Janeiro, Nory se prepara para disputar os Jogos de Tóquio. Em sua caminha, espera aprender com seus erros.

- Errei e quero me tornar melhor. Há 5 anos, eu trazia à tona através de uma rede social uma imbecilidade, achando que era uma simples brincadeira engraçada. A rotina de anos, coloca a gente numa bolha. Numa maldita bolha. A gente acaba sendo “educado” a coisas sem perceber. Expus um amigo, uma amizade de 15 anos numa total falta de noção. Os anos passaram, e a falta de entendimento junto à ideia do “é melhor ficar calado”, andaram um tempo comigo. Às vezes a gente demora pra fazer muita coisa na vida. Tô aqui porque já passou da hora de me expor pelas minhas próprias palavras, que não são as melhores, mas são as que eu tô construindo. Ou melhor, desconstruindo. Um ato de preconceito só precisa de uma oportunidade pra acontecer. Enquanto a gente tiver medo de assumir a ignorância, qualquer um de nós pode estar machucando alguém, mesmo sem perceber. Passo a passo, eu quero ser um cara melhor.

Globo Esporte

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