CBV muda vôlei de praia após decepção em Tóquio e críticas de Alison

(Foto: REUTERS/John Sibley)


A primeira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia não foi um marco apenas para os atletas que retomaram as atividades após a decepção nas Olimpíadas de Tóquio, onde pela primeira vez o Brasil não medalhou na história da modalidade em Jogos Olímpicos. O torneio realizado na Urca, Rio de Janeiro, durante o último final de semana foi também simbólico para a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), que está com novo comando a frente do vôlei de praia.

Campeão mundial e medalhista olímpico em Barcelona 1992, quando a modalidade entrou como exibição, Guilherme Marques chega para implementar novas ideias e injetar ânimo à modalidade no Brasil. O país que sempre foi referência no esporte vem perdendo força no cenário internacional ano após ano - no último Mundial, em 2019, os brasileiros pela primeira vez na história também ficaram fora do pódio.

Vale lembrar que Alison Mamute, duas vezes medalhista olímpico, desabafou justamente sobre este desgaste na gestão da modalidade após eliminação precoce em Tóquio, ao lado de Álvaro Filho.

- O mundo descobriu que é um esporte barato e que traz medalha, e o Brasil está parado no tempo, estamos parados na década de 1990. Não são só oito etapas. A gente tem que evoluir, a gente tem que ter mais circuito, mais atletas, temos que incentivar. Nossos técnicos estão indo para quadra ou para outros países. Está uma merda? Não, não está uma merda. Mas precisamos abrir os olhos - disse ainda no Japão.

As primeiras mudanças

Em três semanas de gestão, a primeira mudança prática do ex-atleta e também engenheiro foi no calendário do Circuito Nacional. Disputado nos últimos anos em temporadas compartilhadas, a exemplo de 2020/2021, o campeonato será agora anual. Segundo Guilherme, essa mudança deve beneficiar novos investimentos.

- Sou formado em engenharia, gosto de ver as coisas de uma forma mais prática. E apesar de estar só começando minha gestão, já consigo enxergar que mudar o calendário é necessário para fecharmos melhores contratos com patrocinadores. É sempre mais fácil negociar quando se tem um calendário anual, geralmente o planejamento financeiro de grandes empresas é fechado anualmente e não com o recorte que tínhamos - explicou.

Essa mudança já tem impacto no calendário de 2021, que terá uma segunda temporada de apenas cinco etapas. E aí sim, a partir de 2022, o torneio será disputado em dez edições por ano, com cinco delas no primeiro semestre e outras cinco no segundo.

- Essa mudança é importante também para as categorias de base. Como vou definir, por exemplo, o ano de nascimento dos atletas da categoria sub-21, se esse tempo não é tratado como uma unidade? Nossa ideia está justamente em ter também um olhar cuidadoso para a renovação da modalidade. Vamos organizar melhor o calendário e fazer com que os finalistas da base também somem pontos e tenham oportunidades no profissional - explicou.

Com mais tempo, Guilherme buscará outras alternativas para promover uma melhor relação com os profissionais e a modalidade de uma forma geral. Uma delas deve ser achar uma forma de inibir as mudanças constantes das duplas, muitas vezes prejudiciais para o engajamento e a identificação com o público e com os patrocinadores.

A exemplo disso, dos oito atletas que disputaram os Jogos de Tóquio, cinco deles jogaram na última semana a primeira etapa do Circuito Nacional com novas duplas. Só Ágatha/Duda confirmou que deve manter o projeto até o final de 2021. Essa "dança das cadeiras" é histórica na modalidade.

Diálogo com os atletas

Outro ponto importante que a nova gestão do vôlei de praia precisará ter cuidado diz respeito ao "diálogo com os atletas". Alison também em Tóquio criticou a falta de participação dos esportistas nas tomadas de decisão da CBV.

- O Brasil ganhou ouro em 2016 e não mudou nada. O Circuito seguiu o mesmo, do mesmo jeito, mesmo número de etapas, só esperando Alison e Bruno, como era com Ricardo e Emanuel. Quando comecei, nos anos 1990, eram 24 etapas. O que eu quero dizer é para mudar o sistema. Brasil e EUA não dominam mais. Por que isso acontece? Temos que conversar e debater sobre isso, até hoje não perguntaram a nossa opinião - disse Alison.

Para esta primeira etapa do Circuito Nacional, por exemplo, atletas foram contra algumas mudanças que seriam implementadas e chegaram a cogitar um boicote. No entanto, em conversas com a Confederação Brasileira de Voleibol um acordo foi estabelecido sobre a redução de 24 para 20 duplas participantes do torneio.

Apesar da etapa ter acontecido com menos times, estabeleceu-se que as quatro duplas que disputaram o classificatório e perderam também receberiam a premiação. Não dimunindo assim o número equipes beneficiadas financeiramente pelo torneio, como já acontece historicamente.

Vale destacar também que o local onde têm acontecido os jogos do campeonato, na base militar da Urca, no Rio de Janeiro, oferece uma área reduzida para a realização do torneio. E, com menos quadras, esse seria o principal motivo para a diminuição no número de duplas.

Para as próximas etapas, a CBV ficou de rever a possibilidade de incluir novamente as 24 duplas no torneio.

Globo Esporte

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