Com carisma, João Pedro dribla dificuldade no inglês e espera estrear na Premier League ainda nesta temporada

(Foto: Reprodução)


Aos dezoito anos, o João Pedro só quer jogar. Nessa idade, o amor pelo futebol ainda está fresco, a exemplo de qualquer menino à espera da hora do recreio para correr com os amigos rumo ao campo com uma bola debaixo do braço. Acontece que jovens com um talento muito acima da média rapidamente vão parar longe. Desde Dezembro, o campo onde ele se reúne com os novos amigos para bater bola é o do Watford, clube da primeira divisão inglesa, na região metropolitana de Londres. Ainda em processo de adaptação, o ex-atacante do Fluminense jogou apenas duas partidas oficiais pelo novo clube, ambas contra o Tranmere Rovers, pela Copa da Inglaterra. A primeira chance na Premier League ainda está por vir.

- Eu sempre sonhei em estar aqui. Acho que essa pandemia do coronavírus, querendo ou não, atrapalhou muito. Mas, como vai ter muito jogo nessa volta (9 partidas do Watford pela Premier League), vai aparecer uma oportunidade. Agora que os treinos voltaram, é trabalhar forte para, quando a oportunidade aparecer, eu poder aproveitar da melhor forma - disse João Pedro após a volta aos treinos dos clubes ingleses na última semana.

O Watford foi o clube com mais casos confirmados de Covid-19, após as duas baterias de testes impostas pela Premier League para a volta do futebol inglês. Três pessoas do clube testaram positivo, um deles o zagueiro Andrian Mariappa. O João Pedro fez o primeiro teste na última segunda-feira. Uma aventura para um garoto ainda sem carteira de motorista e engatinhando no inglês.

- Eles mandaram um taxi com um motorista de máscara, com luva e tudo. Me buscou, me levou lá. O treinador estava de máscara, o doutor também, me entregaram a roupa de treino. Aí, fui para uma outra cabine, onde já era o teste. A mulher começou a falar uns negócios que eu não entendi muito, mas pediu pra eu retirar a máscara. Aí, fez o exame na minha garganta e no nariz. Depois fui pra casa, esperar o resultado, que saiu no dia seguinte. Tava tudo bem - contou o João Pedro aos risos.

O bom humor para lembrar das desafios da língua inglesa não significa indiferença com a pandemia. Muito pelo contrário. O João Pedro está preocupado com os riscos de viver no país europeu com mais mortes por coronavírus, acima de 36 mil.

- Além da minha mãe, eu moro com a minha avó aqui, então fico ainda mais preocupado. Mas o clube demonstra que não se preocupa só com os jogadores, mas também com a nossa família. Antes de voltar a treinar, eles mandaram mensagem falando que só ia voltar se eles vissem que estava tudo 100%, que não tinha um grande perigo.

Ainda assim, o capitão do Watford, Troy Deeney, não foi treinar nesta semana, com medo de contrair a doença e passar para o filho de cinco meses que tem problemas respiratórios.

- O Troy é muito legal. Ele sempre brinca comigo quando estamos na academia. Vai para o supino e fala ‘'tenta pegar aí!’’, mas ele é muito forte, não tem como. Acho que ele tá certo de ficar em casa por causa do filho dele. Tem que se preocupar mesmo, porque se o filho dele acaba pegando é do grupo de risco. Então, como ele é o capitão, acho que o caminho é mais fácil pra se comunicar com o clube e pedir pra ficar em casa.

Contratado pelo Watford aos 16 anos, quando morava no Centro de Treinamentos do Fluminense, em Xerém, o João Pedro só pôde se mudar para Inglaterra após virar maior de idade. Nesse tempo, ele aprendeu a lidar com a espera. Foi um vestibular nesse longo processo para ganhar uma oportunidade na liga de futebol mais rica do mundo. A confiança de que isso pode acontecer ainda nessa temporada vem do trabalho e da boa relação com o chefe, o técnico Nigel Pearsol.

- Ele sempre tá brincando comigo, me incentivando: ‘’Vamo, João! Vamo, João’’. No Brasil, no Fluminense, tudo era mais fácil pra mim, né? A língua e eu já estava acostumado com o clube. Então, ele conversando comigo, mostrando que se importa, me dá aquela alegria de saber que estou sendo bem recebido aqui - conta João Pedro, que acabou escolhendo os melhores amigos no clube pela facilidade na comunicação.

- Tem o Gomes, mas, como ele é goleiro, nos treinos sempre que eu tenho alguma dúvida eu pergunto para o Domingos (Quina, meia português do Watford). Também tem o Pereyra (Roberto Pereyra, meio-campo), que é argentino, que virou meu parceirão, gosto dele bastante. Sempre me ajudou no que eu precisei.

Bom ambiente apesar da pressão que o Watford vive nessa temporada. O time está na décima sétima colocação no campeonato, com 27 pontos, mesma pontuação do primeiro time dentro da zona de rebaixamento, o Bournemouth. O João Pedro quer e sabe ajudar times nessa situação.

- São os momentos difíceis que separam os homens dos meninos. Eu sei porque vivi algumas fases dessas no Fluminense, e graças a Deus eu fui muito bem. Soube me colocar bem dentro de campo, e fora também. Então, acho que, se o professor e o Watford precisarem de mim, eu estarei preparado para ajudar.

Globo Esporte

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