Medalhistas na gestão: Yohansson Nascimento, eleito vice, se junta a Mizael Conrado na direção do CPB

(Foto: Reprodução)


Sem concorrentes, o atual presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, foi reeleito por aclamação na última segunda-feira. A grande surpresa foi a escolha de Yohansson Nascimento para o posto de vice-presidente. Mesmo com o índice garantido para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, o ex-velocista anunciou a aposentadoria em outubro para concorrer ao cargo com Ivaldo Brandão Vieira, que tentava a reeleição. Em um colégio eleitoral composto por 20 delegados com direito a voto, Yohansson conquistou 15 votos. Pela primeira vez, o CPB terá presidente e vice que foram medalhistas paralímpicos.

A decisão de desistir da quarta Paralímpiada não foi fácil, mas a chance de retribuir tudo aquilo que conquistou nas pistas e apresentar o esporte para pessoas com deficiência são motivações fortes para o multimedalhista.

- Essa tomada de decisão foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que decidir na minha vida. Tenho um desejo antigo de poder proporcionar aos outros atletas, às pessoas com deficiência, tudo aquilo que o esporte me deu. Mudou minha vida! Deu orgulho aos meus pais, a minha cidade e ao meu país. Então, eu vejo como se fosse uma obrigação minha abrir as portas para outras pessoas também sentirem esse prazer de iniciar no esporte e ganhar medalhas - afirmou Yohansson.

Dono de 6 medalhas paralímpicas, 11 mundiais e 8 parapan-americanas, o alagoano espera aplicar na gestão do CPB aquilo que apreendeu nas pistas. Um caminho percorrido anteriormente por Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de cinco, que exerceu a função de vice-presidente e secretário-geral da entidade durante as gestões de Andrew Parsons (2009 a 2017).

- A minha experiência como um ex-atleta vai ser importante desde o início. Ajudar o atleta a saber o que precisa para começar no esporte paralímpico, qual é a modalidade que ele quer, quem ele precisa procurar e com quais associações pode contar - disse Yohansson.

Yohansson descobriu o paradesporto em 2005. Na época, ele ficou intrigado quando foi abordado por uma treinadora dentro de um ônibus quando voltava do dentista. As dúvidas que pipocaram na cabeça dele não são as mesmas de quem está entrando no paradesporto hoje em dia. O movimento paralímpico brasileiro ganhou notoriedade pelos resultados alcançados e pelo Jogos Paralímpicos realizados no Rio de Janeiro em 2016.

- Não é só apresentar o esporte, mas mostrar quais são os caminhos que o atleta tem que trilhar. O quanto ele precisa treinar? Quais são as posturas como atleta que eu tenho que seguir? Nessa parte, pode ter certeza que eu vou agregar muito ao movimento - completou o vice-presidente eleito.

No sentido de renovar as seleções e formar uma base, a gestão atual criou iniciativas como o Centro de Formação Esportiva. O projeto, desenvolvido nas instalações do CT Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, contava (até a paralisação por conta da pandemia de Covid-19) com a participação de mais de 500 crianças em idade escolar. Reeleito, Mizael Conrado quer expandir os trabalhos direcionados à detecção e aprimoramento de jovens atletas com deficiência.

Em entrevista ao ge, Mizael afirmou que expandirá e descentralizará os programas lançados e desenvolvidos durante o primeiro mandato.

- Foram criados programas novos e sustentáveis para inverter a lógica, até então vigente, no movimento paralímpico nacional. Mantivemos a ideia fixa estabelecida no nosso Planejamento Estratégico, confeccionado em 2017 com os gestores de todas as áreas do Comitê, segundo o qual a missão deste Comitê é: “Promover o esporte paralímpico, da iniciação ao alto rendimento, e a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade” - afirmou o presidente.

Tóquio 2021

Em março, quando o Comitê Organizador e o Comitê Olímpico Internacional anunciaram o adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, Yohansson estava no auge de sua preparação. Em novembro, no Mundial de Atletismo Paralímpico de Dubai, ele tinha feito a melhor marca de sua vida nos 100m (classe T47), 10s69.

- Quando tudo começou a fechar veio aquela incógnita de saber se os Jogos Paralímpicos iam acontecer ou não. Eu vinha trabalhando comigo: "O sonho não acabou, só foi adiado".

Na verdade, o sonho mudou. Doze anos depois de entrar em um Estádio Olímpico pela primeira vez, em Pequim 2008, Yohansson ocupará um assento nas arquibancadas. Agora, a maior preocupação dele é que a oportunidade de treinamento seja a mesma entre todos os competidores.

- Eu tenho certeza que o mundo todo está trabalhando bastante para que a vacina saia logo. O CPB vai adotar as melhores medidas possíveis para segurança do atleta. Dar condições para os atletas treinarem para o próximo ano e ir para Tóquio nas melhores condições para o atleta não se sentir prejudicado de alguma forma com tudo isso que aconteceu - comentou o medalhista, que toma posse no dia 4 de janeiro de 2021.

Seguindo o protocolo sanitário elaborado pelo Governo do Estado de São Paulo, as atividades no CT Paralímpico seguem bem restritas. Apenas os atletas da natação, atletismo e tênis de mesa frequentam o espaço. Todos passam por câmaras de desinfecção e realizam testes do tipo PCR semanalmente. Por enquanto, apenas um atleta testou positivo desde a reabertura em 1º de julho.

Como a quantidade de atletas paralímpicos vulneráveis ao coronavírus é muito alta, em modalidades como a bocha a porcentagem de pessoas no grupo de risco pode chegar até 90%, o presidente Mizael Conrado mantém a opinião dada em agosto de que a vacina é fundamental para a realização da competição.

- Ainda acredito que, se não houver vacina a tempo, dificilmente nós teremos Jogos Paralímpicos em agosto do ano que vem. Estamos vendo aí que o processo de vacinação é bem complexo. Sem contar que ainda precisam ser realizados todos os processos de qualificação, ou seja, de preenchimento de vaga e de classificação dos atletas.

A cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos está agendada para o dia 24 de agosto de 2021. Ao todo, serão disputados 539 eventos de 22 modalidades. A modalidade com maior número de eventos individuais será o atletismo, com finais em todas as sessões, totalizando 167 provas valendo medalha.

Globo Esporte

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