Protocolos da NFL contra COVID dificultam vida de não-vacinados

(Foto: Bryan Bennett/Getty Images)


Isaiah McKenzie voltava para o vestiário após mais um dia de treinamento com o Buffalo Bills quando recebeu uma carta da NFL. No papel timbrado, a liga informou que o wide receiver foi flagrado duas vezes sem usar máscara dentro do CT da equipe, o que violou os protocolos contra a COVID-19 estabelecidos meses antes.

O jogador sentiu o impacto no bolso: multa de US$ 14.650 (R$ 76.065 pela cotação atual do real) por ser reincidente. Dias depois, McKenzie retornou às redes sociais com uma foto do seu cartão de vacina comprovando ter tomado a primeira dose, com a legenda "para o bem maior".

Enquanto os Estados Unidos voltaram a ver um crescimento no número de casos de COVID, impulsionada pela parte da população que ainda não se vacinou (48% do país, segundo o "Our World in Data"), a NFL redobrou os esforços para combater o contágio dentro dos times. E a vida não ficou nada fácil para os atletas que optam por não se imunizarem.

Os protocolos

A NFL anunciou na última quinta-feira (30/8) os protocolos acordados com a NFLPA (sindicato dos jogadores) para o combater a COVID. Não há muitas mudanças em relação à pré-temporada, com a principal sendo que mesmo os jogadores que já tomaram as duas doses da vacina precisarão passar por testes semanais, ao invés um a cada duas semanas.

Os atletas que não se vacinaram ou tomaram apenas uma das doses continuarão passando por testes diários, incluindo em dias de folga. Eles precisarão usar máscara em locais fechados, como salas de reuniões e academia. Durante jogos fora de casa só poderão usar transportes dos times.

Um dos pontos mais polêmicos são os "contatos de alto risco". Todo jogador não-vacinado que tiver contato com alguém que teste positivo precisará ficar afastado por cinco dias mesmo que o resultado do seu exame seja negativo. Situação semelhante para um atleta imunizado acarretará apenas uma mudança para testes diários pelo mesma duração, mas sem afastamento.

A NFL chegou a declarar que gostaria que a vacinação fosse obrigatória para os jogadores. O presidente do sindicato dos atletas, no entanto, afirmou que não chegou a discutir esse ponto com a liga e que a hora para esse ultimato já teria passado. Mesmo sem a obrigação, algumas poucas vozes, mas barulhentas, não estão satisfeitas com o "cerco" aos não-vacinados.

Polêmica sobre "discriminação" de não-vacinados

Segundo a NFL, o índice de vacinação entre os jogadores é de 93%, podendo variar um pouco para cima e para baixo dependendo das movimentações que os times fazem de contratação e dispensa. Esses 7%, no entanto, tem feito suas vozes serem escutadas na internet.

Enquanto alguns se limitam a dizer que a decisão de se vacinar ou não é "pessoal", indicando que não se imunizaram, outros saem ao ataque. Cole Beasley é um desses exemplos de que não esconde o fato de não ter se vacinado.

O wide receiver do Buffalo Bills criticou abertamente os protocolos da NFL, acusando a liga de querer forçar os jogadores a se vacinarem só para faturar mais. Por não ser imunizado, Beasley acabou sendo afastado da equipe no mês de agosto por cinco dias após ter contato com treinador da equipe que testou positivo, como as regras determinam.

A lista de jogadores não para por aí. DeAndre Hopkins, wide receiver do Arizona Cardinals, postou em uma rede social afirmando ter sido colocado em uma posição em que pode prejudicar o time por não querer se vacinar, o que estaria fazendo com que considerasse a aposentadoria. Ele deletou o post pouco depois.

Kirk Cousins, quarterback do Minnesota Vikings, disse no início de agosto que ainda estava fazendo sua pesquisa sobre a vacina e chegou a afirmar que estaria considerando colocar uma barreira de acrílico entre ele e os outros QBs da equipe na sala de reuniões da posição. Mike Zimmer, treinador dos Vikings, já reclamou publicamente, sem citar nomes, dos jogadores do time que optaram por não se imunizarem.

Desvantagem dentro e fora de campo

Esses protocolos levantaram a questão na mídia dos EUA se os times iriam preterir jogadores não-vacinados em favor dos 100% imunizados. Abertamente as equipes não podem afirmar que um atleta acabou dispensado por esse motivo. Urban Meyer, técnico dos Jaguars, disse que o status de imunização foi considerado na hora de definir o elenco final da equipe para a temporada e agora é alvo de investigação da NFLPA.

O ge conversou com um agente que representa jogadores na NFL que afirmou que a primeira pergunta que recebe dos times quando ligam sobre um dos seus clientes é se o atleta em questão está imunizado. Ele também disse acreditar que a vacinação pode ser sim um ponto de desempate quando as equipes estão decidindo entre quem manter no elenco e quem cortar.

Apesar de proibido, as regras justificam esse critério ser usado de forma mesmo que velada. Casos recentes como o de Carson Wentz, quarterback dos Colts que precisou ser afastado por cinco dias após contato com alguém que testou positivo para COVID, mostram a desvantagem esportiva dos atletas não-vacinados.

Um dia após esse afastamento de Wentz, que também incluiu alguns outros jogadores do Indianapolis Colts, o GM da equipe disse em entrevista que "existem consequências para quem não se vacina". O executivo também ressaltou os benefícios da imunização.

- Ela pode te ajudar a não terminar no hospital em condição crítica. E ajuda a diminuir o contágio, essas coisas são positivas. Os caras que escolherem não se vacinar precisam entender que ainda são parte do time. É a decisão deles, mas eles ainda são parte do nosso time e precisam tomar conta do time - disse Chris Ballard.

Outro caso que esquentou a discussão sobre a vacinação entre jogadores foi o de Cam Newton. O quarterback foi dispensado pelo New England Patriots após perder a batalha pela titularidade contra o novato Mac Jones.

Bill Belichick, treinador dos Patriots, insistiu que o QB não ter se vacinado não foi fator, mas na semana anterior ele havia sido afastado por cinco dias pelo o que foi classificado como um "desentendimento sobre as regras de testes fora dos CTs da NFL".

Enquanto a opção por não se imunizar possa não ter sido diretamente o fator decisivo, cinco dias fora de treinamento abriu uma janela enorme para Mac Jones treinar entre os titulares e mostrar o que pode. Certamente não ajudou Newton, que no ano passado chegou a desfalcar os Patriots após contrair COVID.

A NFL é a liga esportiva mais rica do mundo e mostrou todo o seu poder ao conseguir realizar a temporada passada inteira, sem jogos cancelados e com Super Bowl acontecendo na data prevista. Isso não seria possível sem o pulso firme, que não foi aliviado para 2021.

Globo Esporte

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