Esporte veste a camisa da tecnologia

(Foto: Pixabay)


O Brasil é, definitivamente, o país do futebol e isso é inquestionável. Somos os torcedores fanáticos, as famílias que se reúnem na frente da TV e que, mesmo com cada um torcendo para um time diferente, vibram juntos com um bom clássico de domingo. A paixão do brasileiro pelo esporte está na sua essência e isso não é só com o futebol, apesar de ser o mais conhecido e praticado no Brasil, outras modalidades também agradam por aqui. Ainda que tenhamos o envolvimento com o esporte e saibamos da força e importância que tem na vida de muitos brasileiros, isso não fica muito evidente quando se trata de oportunidades.

Nos quatro cantos do país vemos todos os dias crianças e adolescentes jogando bola, mas a pergunta que fica é: quantos deles têm chances reais de se tornarem profissionais no esporte? Se pensarmos mais adiante, nem mesmo aquelas que estão inscritas em alguma escolinha conseguirão realizar seu sonho. Para equalizar esse sistema e tornar mais fácil a possibilidade de um atleta amador se tornar profissional nasceram as Sportstech.

Muitos sonhos morrem no meio do caminho e aqueles que tinham total potencial começam a se ver sem muitas opções, então o que resta é desistir. Poucos seguem em meio a tanta burocracia e processos antiquados. Nosso campeão mundial Cafu é um exemplo que esse método precisa ser aprimorado. Ainda no início da carreira foi recusado 14 vezes em peneiras dos principais clubes da capital paulista como Corinthians, Palmeiras e, só no São Paulo, foram quatro vezes.

Pensando apenas no futebol, no Brasil, existem 70 mil atletas federados, já na França, por exemplo, são mais de 2 milhões. Levando em consideração que o país europeu é três vezes menor que o nosso, podemos concluir que conseguimos manter viva a chama do amor pelo esporte, mas não conseguimos criar a ponte entre os que querem ser profissionais e as oportunidades.

A tecnologia trouxe avanços em todos os segmentos, inclusive o de esportes, plataformas como a Tero surgiram como um meio de conectar aqueles que querem viver do esporte a clubes. A startup não é a única sportstech do país. Hoje existem cerca de 62 empresas de tecnologia voltadas para esportes registradas e atuantes e isso é prova de que investir no nicho é uma boa aposta. Apesar do número, esse mercado está em um crescimento acelerado muito mais fora do Brasil do que aqui. Atualmente temos quatro mil sportstech em todo o mundo.

Nos EUA, na Europa e também na China, esse já é um mercado bem mais maduro, na mira de grandes investidores globais. O nicho está sendo avaliado em U$ 8,6 bilhões e o número deve triplicar nos próximos cinco anos. Não temos como fugir da grande transformação que a tecnologia tem trazido para o mercado de modo geral. Cada setor tem experimentado o impacto que o digital tem causado e no esporte não será diferente. O mundo esportivo e o tech tem ensaiado se fundir com propósitos variados, como as sportstech que foram criadas para proporcionar treinamentos de qualidade e alta performance para seus usuários, outras como streaming de campeonatos de futebol e, até mesmo hardwares para serem colocados nas chuteiras dos atletas para identificar desempenho em campo, quantos toques na bola e precisão de passes.

O próprio VAR (Video Assistant Referee), já usado aqui no Brasil, incômodo para alguns, principalmente para os que preferem a velha escola do futebol, é uma tecnologia que veio para dar suporte e criar mais precisão nas partidas quanto às decisões dos árbitros. Ainda que com a resistência de muitos de dentro do próprio esporte como clubes, diretores e, inclusive, os torcedores, o avanço tecnológico no setor já é uma realidade e precisa seguir em ascensão.

O mercado para as sportstech no Brasil ainda tem muito campo para ser explorado, é cheio de possibilidades. Ainda surgirão diversas ideias para startups do segmento e isso vai ser muito rico para o esporte. Apesar de cada uma vir com uma proposta diferente, todas servirão ao esporte como um todo, promoverão mudanças, avanços significativos e definitivos, que vão reverberar nos próximos anos e transformar o esporte no Brasil e o mercado para esse tipo de empresa.

* Bruno Pessoa é CEO e cofundador da Tero, plataforma digital que conecta atletas brasileiros a oportunidades de carreira.

Comentários