Piloto McLaren, Sette Câmara acerta com DAMS para disputar temporada 2019 da Fórmula 2

(Foto: Marcel Merguizo)


Para ter mais chances de lutar pelo título da F2, na próxima temporada, e se tornar piloto titular na F1 em 2020, Sérgio Sette Câmara, 20 anos, trocou a equipe inglesa Carlin, por quem competiu este ano, pela francesa DAMS, campeã três vezes na GP2, antiga F2. E é já com a DAMS que Sérgio inicia, nesta quinta-feira, o primeiro dos três dias de testes no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi. A abertura do campeonato da F2 será dia 31 de março, no Circuito de Sakhir, em Barein.

A ótima participação na temporada de F2 que acabou domingo, na mesma pista dos Emirados Árabes Unidos, com oito pódios, quase o mesmo número do companheiro de Carlin, Lando Norris, 19 anos, nove, contratado pela McLaren, fez com que Sérgio recebesse convite de todos os times com histórico de sucesso na competição. Ele acabou optando pela DAMS.

- Estivemos próximos de acertar o contrato já no ano passado, mas a Carlin montou sua equipe e me ofereceu uma condição muito boa, razão de eu correr com eles este ano. Mas recentemente a DAMS retomou os contatos. Francois Sicard (chefe da equipe) me convidou para conhecer a sede, em Le Mans, e não há como não ficar impressionado. É tudo muito profissional, principalmente por a F2 ser uma categoria de formação. E eles disputam várias competições, estão sempre dentre os que lutam pelas vitórias e títulos. Acredito ter feito a escolha certa.

Dos 20 pilotos que participaram no mundial de F1 este ano e em 2019 estarão no grid, três passaram pela DAMS, Romain Grosjean, campeão da GP2, em 2011, Kevin Magnussen e Pierre Gasly. Na F2, nesta temporada, a DAMS correu com o inglês/tailandês Alexander Albon e o canadense Nicholas Latifi. Albon disputou o título com o inglês George Russell, da ART, até sábado, em Abu Dhabi. Russell foi campeão.

- A mudança da Carlin para a DAMS teve a ver também com a indicação da McLaren, diz o piloto.

Sérgio foi contratado como piloto de desenvolvimento e de testes do time inglês. Fará o trabalho ao mesmo tempo em que disputa a F2. O seu companheiro na DAMS será o canadense Nicholas Latifi, 23 anos, que vai para a quarta temporada na competição, sempre pela DAMS. Seu pai, Michael Latifi, é um grande empresário canadense. No ano passado, investiu 200 milhões de libras (R$ 100 milhões) para comprar parte da sociedade que foi de Ron Dennis no Grupo McLaren. Nicholas foi este ano piloto de testes da Racing Point Force India.

- Conhecia o Nicholas, claro, da F2, e agora conversamos bastante. É uma pessoa bem aberta, acredito que poderemos trabalhar bem juntos, como foi o caso com o Lando Norris este ano na Carlin. Eu nunca tive problemas com meus companheiros.

Já trabalha no novo time

As equipes de F2 permaneceram no Circuito Yas Marina para os testes. E Sérgio já se reuniu com o novo grupo.

- Tirei o molde do banco e realizamos várias reuniões, procurei antecipar tudo o que era possível, como conhecer um pouco seus métodos, o engenheiro que irá trabalhar comigo, para que exista já um mínimo de entrosamento nesse primeiro teste.

O piloto de Minas Gerais elogiou o grupo com quem competiu até domingo.

- Confesso que como eu correria ao lado do Lando Norris, inglês, e campeão com eles (Carlin) na F3, em 2017, tinha algum receio, mas nada disso aconteceu, me receberam e trataram muito bem, no mesmo nível do Lando, além de o carro ser rápido. Só tenho agradecimentos ao pessoal da Carlin.

Apesar de a ART ter feito o campeão, Russell, como a dupla da Carlin era a mais homogênea, acabou vencendo a disputa entre as equipes, com a ART em segundo e a DAMS em terceiro.

- Uma das minhas preocupações agora na DAMS, e comecei a trabalhar nisso nessas reuniões pré-testes, é a questão da comunicação, essencial em uma categoria como a F2, onde tudo tem de ser definido rápido e de maneira correta, pois o tempo de treino livre e classificação é bastante curto. Falha na comunicação gera problemas como o que tive agora em Abu Dhabi, quando na classificação pedi uma mudança no carro e fizeram outra coisa. Acabei largando em décimo, o que na F2 torna tudo muito mais difícil.

O piloto terminou em sexto, na classificação, com 164 pontos, enquanto a quarta colocação era possível. Russell somou 287 para ficar com o título.

- Se somarmos os pontos que perdi por causa de problemas com o equipamento dá para ver que poderia estar lutando no mínimo com o Lando pelo vice-campeonato, lembrou Sérgio. O jovem inglês fez 219 pontos.

Testar o carro da McLaren

O objetivo de Sérgio é lutar pela vitória nas 12 etapas da F2 e quando não possível somar o máximo de pontos, por conta do número grande de variáveis que interferem nesse tipo de competição monomarca em tudo e com o grid invertido, entre os oito primeiros, na segunda corrida do fim de semana. Cada etapa tem duas provas, uma no sábado e outra no domingo.

- Quanto melhor for a minha participação no campeonato maior será o estreitamento da relação com o pessoal da McLaren, como aconteceu com o Lando este ano. Eles deram até a chance de ele andar no treino livre. Espero que comigo aconteça o mesmo. Para isso vou estar sempre nos boxes da McLaren, participando das reuniões, me familiarizando com esse mundo da F1, bem mais complexo que o nosso da F2, além de trabalhar direto no simulador.

Essa questão do simulador foi uma das dificuldades de Sérgio este ano. A Carlin usa o simulador de propriedade de Lando Norris. Sua família é uma das mais ricas da Inglaterra e tem uma empresa que constrói simuladores avançados.

- Na DAMS o simulador é dentro da equipe, enquanto na Carlin fica em outro lugar. Senti falta de trabalhar no simulador e depois discutir com os engenheiros possíveis mudanças no acerto do carro, o que será possível agora na DAMS, pois passarei o dia na fábrica, vamos almoçar em grupo, refletir o que pode ser feito para melhorar a performance.

Liberdade de opção

A pergunta a Sérgio é inevitável: a McLaren terá dois pilotos novos em 2019, Lando Norris, estreante, e o espanhol Carlos Sainz Júnior, 24 anos, com quatro campeonatos de experiência. Eles substituem Fernando Alonso, que deixou a F1, e o belga Stoffel Vandoorne, dispensado por causa da baixa produção. É pouco provável que o diretor executivo do Grupo McLaren, o americano Zak Brown, vá mudar um de seus pilotos em 2020, por saber que 2019 será um ano de aprendizado e adaptação da nova dupla.

- Meu foco vai estar, essencialmente, na F2. Só posso pensar em passar para a F1 se tiver ainda mais sucesso agora na F2. Ter sido mais eficiente que o Lando na segunda fase do campeonato, este ano, chegar tantas vezes no pódio, largar na pole position, fizeram com que o paddock passasse a me ver com o outros olhos, percebi isso claramente. Os convites que recebi dos melhores times da F2 também atestam essa visão distinta que o meio tem de mim hoje, um piloto que está sempre dentre os que lutam pelos primeiros lugares.

Sérgio prosseguiu na resposta:

- Mas, claro, estou aqui para ser piloto de F1. Dando tudo certo comigo em 2019, como acredito, e se a McLaren não me garantir um carro, em 2020, tenho liberdade de procurar meus caminhos. Mas, repito, não penso nisso agora. Para ser candidato a uma vaga preciso, antes, fazer e bem feita a lição de casa na F2. Nesse sentido, mudar para a DAMS deverá me permitir realizar melhor o trabalho.

Globo Esporte

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