Naming Rights: Como esta prática vem mudando o futebol brasileiro?

Arena Corinthians pode receber naming rights em breve (Foto: Reprodução)


Por Nicholas Araujo
Redação Blog do Esporte


O Corinthians movimentou o mercado financeiro do futebol ao anunciar que está próximo do acordo do Naming Rights da Arena Corinthians. O assunto, até então esquecido, ressurgiu quando o presidente do clube, Andrés Sanchez, falou nas redes sociais que o clube está perto de fechar o acordo, mas que ainda falta alguns detalhes. O mandatário não anunciou qual empresa fechará o acordo.

A prática do Naming Rights ainda é pouco difundida dentro do futebol brasileiro. Ela consiste em um “direito de nominação” de um espaço ou local, para que tanto a empresa que fechou o acordo, quanto o dono do espaço ou do estádio possam explorar o local para seus respectivos eventos. “O contrato de Naming Rights de um estádio de futebol é aquele através do qual a entidade proprietária ou detentora dos direitos de exploração do estádio concede a um patrocinador o direito de ‘batizar’ aquele local por um determinado período de tempo", explica o advogado Fernando Abel.

A prática pode ocorrer em qualquer setor da economia, como entretenimento, espaço para recreação ou mesmo teatro. O Naming Rights é bastante difundido na Europa, onde estádios como o do Bayern de Munique (Allianz Arena), Arsenal (Emirates Stadium), Lyon (Groupama Stadium), Juventus (Allianz Stadium) e Manchester City (Eithad Stadium) são alguns dos exemplos. “Trata-se de uma estratégia de marketing que tem o objetivo de atrelar a arena de esporte, por conseguinte seus fiéis torcedores a determinada marca, estabelecendo assim uma relação de fidelização entre a marca e a paixão por determinado esporte”, explica o advogado Leandro Pinto.

Allianz Arena é a casa do Bayern de Munique (Foto: Reprodução)

Negócios

A negociação do Naming Rights envolve diversos aspectos, como jurídicos e financeiros, para o fechamento do negócio. “Sob o ponto de vista negocial, podemos destacar como principais o interesse financeiro do proprietário ou detentor dos direitos de exploração de um estádio de futebol em ceder o direito de exploração do nome do seu espaço, e o interesse mercadológico e publicitário do patrocinador em vincular a sua marca a este determinado espaço e clube de futebol”, explica Fernando.

Com isso, a negociação é bastante lenta e burocrática, pois envolve todos os setores de um evento esportivo, desde a formulação do contrato até a realização da partida ou do show com total estrutura e segurança. A negociação vai depender das partes e dos interesses em comum.

Benefícios

Partindo desde princípio de negociação, as partes envolvidas precisam entrar em um consenso sobre como o espaço será utilizado. Com a construção das chamadas “arenas multiuso”, um estádio de futebol passou a ser mais do que um espaço para evento esportivo. “As arenas podem ser adaptadas às novas vertentes do entretenimento, qual seja, tornar o estádio de futebol em uma arena multiuso, utilizada tanto para jogos de futebol, como também para a realização de grandes eventos, assim como vem ocorrendo no Brasil”, explica Leandro.

Isso acontece, por exemplo, com o estádio do Palmeiras (Allianz Parque), que recebe shows e eventos, além de jogos. Esta negociação também aconteceu com a Arena Fonte Nova, na Bahia, e a Arena Pernambuco, ambas administradas pela Itaipava. A Arena da Baixada, do Athletico Paranaense, é administrada pela Kyocera. No estádio de São Paulo temos o exemplo da Arena Eurobike, do Botafogo-SP, que recentemente anunciou a parceria e a reforma de parte do Estádio Santa Cruz, em Ribeirão Preto. “O aporte financeiro advindo de um contrato como este pode ser crucial para que um clube possa organizar as suas finanças, ou mesmo, dependendo da extensão do acordo, livrar-se das despesas relacionadas à manutenção do estádio pelo período de tempo em que durar o contrato”, comenta Fernando.

Allianz Parque é outro exemplo de naming rights (Foto: Reprodução)

Por que a prática não vinga no Brasil?

Por outro lado, a prática no Brasil ainda não é vista com bons olhos pela própria diretoria dos clubes e por alguns torcedores. “O fato de que o ambiente de negócios no Brasil é, por si só, bastante desafiador em virtude de aspectos como insegurança jurídica, sistema tributário dos mais complexos do mundo, excesso de intervenção estatal na economia, para destacar alguns fatores”, justifica Fernando.

Um exemplo disto é o próprio estádio do Corinthians, em Itaquera, que desde sua inauguração, para a Copa do Mundo de 2014, não consegue fechar um acordo de Naming Rights. Atualmente, como divulgado pela imprensa, o clube paulista deve em torno de R$ 500 milhões para a Caixa Econômica Federal, responsável pelo empréstimo para a construção da arena, dívida está que o clube tenta negociar. O clube também deve R$ 160 milhões para a construtora responsável pelo empreendimento.

Nos últimos dias, o presidente Andrés Sanchez comentou que o clube está quase fechando um acordo para o Naming Rights da arena, mas não divulgou o nome da empresa interessa. A imprensa fala na Hypera Pharma, a antiga Hipermarcas, que estaria fechando o acordo.

O valor do acordo deve ser de R$ 300 milhões a serem distribuídos em um prazo de 20 anos “bem como a adoção de gatilhos e travas financeiras que irão adicionar, ou mesmo diminuir o volume financeiro do contrato, de qualquer sorte, esse tipo de pacto é a materialização do negócio em que ambos ganham”, explica Leandro.

Palmeiras

No caso do Palmeiras, como explica Leandro, a situação é um pouco mais complexa. “O Palmeiras cedeu os direitos sobre o imóvel e permitiu que uma terceira empresa arcasse com a construção de seu estádio. Já no caso do Corinthians, houve financiamento direto ao clube, o qual detém uma autonomia sobre sua Arena”.

Neste caso, o Palmeiras tem seu direito sobre a arena, mas não é uma exclusividade. Caos haja necessidade da empresa responsável utilizar o local em dia de jogo, é bem mais provável que o Alviverde deverá buscar um outro estádio para mandar a sua partida do que jogar em casa.

CBF

A própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vende os direitos de suas competições para patrocinadores. É o caso do Campeonato Brasileiro da série A, vendido para a Assaí Atacadista, e a Copa do Brasil, que recebe o nome da empresa de eletrodomésticos Continental. “Tanto a CBF como as federações estaduais têm pleno interesse na saúde financeira dos times, sendo esse instituto apenas uma forma extra de receita, portanto, sempre bem-vinda”, comenta Leandro.

O sistema no Brasil ainda precisa ser mais bem gerenciado e entendido pelos clubes, principalmente para que os times possam ter uma saúde financeira mais tranquila com esse tipo de contrato. “Os contratos de Naming Rights não são, por si só, maus negócios para os clubes, muito pelo contrário. Dependendo de como for a negociação, grandes e duradouras parcerias, com potencial para durarem anos a fio, podem ser construídas, trazendo benefícios não só para a marca do patrocinador, mas, também, para os clubes, os quais, mais do que uma nova fonte de renda, podem vincular as suas marcas à grandes marcas nacionais ou internacionais”, conclui Fernando.

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