Streamings podem ser opção para esporte, mas pesam no bolso do torcedor

(Foto: Reprodução/Google)


Por Nicholas Araujo
Redação Blog do Esporte


As inúmeras mudanças em relação as transmissões de esportes, principalmente no Brasil, têm gerado um “boom” na criação de streamings de transmissão. Essas plataformas estão presentes 100% na internet e facilitam o acesso aos espectadores que buscam uma nova forma de ver e acompanhar o esporte neste período de pandemia, principalmente.

A criação dessas plataformas também é uma resposta as mudanças realizadas nas transmissões em TV aberta e fechada. A Rede Globo, por exemplo, deixou de exibir a Libertadores, não irá mais transmitir a Fórmula 1 a partir de 2021 e diminuiu consideravelmente as exibições dos jogos da seleção brasileira. Com isso, outras empresas entraram na disputa, querendo sua fatia na transmissão.

“No ponto de vista do marketing, a gente sempre tem que pensar no valor final entregue para o fã do esporte. Para qualquer tipo de benefício ou ponto negativo, a gente sempre tem que ter o fã do esporte no centro. Em relação ao streaming, sob essa ótica, eu acho que é positivo, porque o fã tem mais canais de acesso ao que ele quer ver de esporte, e isso é bom para o fã e para o mercado”, explica Luiz Paulo Moura, especialista em Gestão de Entretenimento e Marketing do Esporte do IAG, Escola de Negócios da PUC-Rio.

Moura deixa claro que o “monopólio” construído pela Rede Globo foi criado por seu mérito, já que o grupo mostrou um trabalho superior ao dos concorrentes durante muitos anos. A criação das plataformas de streamings é uma resposta as novas condições do mercado. “Por exemplo, a DAZN, canal de streaming focado exclusivamente no conteúdo esportivo, que enxergou a possibilidade de entrar via streaming no mercado brasileiro”, explica.

Libertadores

A Taça Libertadores é um grande exemplo de mudanças. A Globo pediu uma redução no valor cobrado pela Conmebol para a transmissão da competição, o que foi negado pela Confederação. Com isso, a entidade negociou o valor com outros interessados, sendo vendido para o SBT. Além disso, foi criado um streaming oficial da Conmebol (pago) para a transmissão dos jogos.

Transmissão da Libertadores criou impasse entre Globo e Conmebol (Foto: Reprodução)


“Esse movimento tem que ser suportado pelo mercado. Se por um lado ele está investindo dinheiro para adquirir esses direitos de forma exclusiva em televisão aberta, por outro lado, eles precisam conseguir o retorno desse investimento através da venda das cotas de patrocínio para anunciante referentes ao conteúdo Libertadores”, comenta Moura. No que podemos analisar da situação da emissora de Silvio Santos, foi necessário realizar cortes de funcionários e despesas para manter a competição continental na TV aberta.

Benefícios

Segundo o especialista, a criação desses streamings se torna um benefício para o torcedor, que tem mais opções para acompanhar as transmissões.

“O torcedor se beneficia diretamente porque ele tem mais canais, mais conteúdo, mais opções de acesso a esportes. Abre mais janelas para mais modalidades. Onde você tem mais produtos e mais distribuição, é um grande ponto positivo para o torcedor. E para o mercado também. Quanto mais players compradores de direitos atuando, melhor”.

Para Moura, a quantidade de players não é o ponto negativo da situação. Segundo o especialista, o que dificulta é os direitos esportivos fatiados em diferentes canais. “Isso traz uma dificuldade para o torcedor, que vai passar a acompanhar um produto único, por exemplo, o Brasileirão, em diferentes canais. Isso é uma consequência da dinâmica da venda de direitos. No final, para o Brasileirão é ruim que parte do produto seja passado em uma emissora e parte em outra. O importante, na verdade, é a unidade do produto, o padrão de qualidade da transmissão e da cobertura jornalística”.

Governo

Moura analisa que essa situação deveria ser resolvida pelas próprias empresas, sem a necessidade de intervenção do governo. “Acho que o governo deve ter uma política pública clara, voltado para atividade física, a parte de acesso esportivo na base, vendo o esporte como uma ferramenta de geração de saúde, inclusão social, de valores educacionais, todo o poder que o esporte tem de desenvolvimento humano. Mas em relação ao produto de alto rendimento, espetáculos esportivos midiáticos, eu acho que isso o mercado resolve bem”.

Futuro

Luiz frisa que cada vez mais o conteúdo esportivo, de qualidade, vai ser valorizado pelo espectador. “O esporte é um produto global, o que ultimamente causou isso é o próprio streaming, a internet, eles quebraram as barreiras geográficas. Os direitos esportivos vão estar cada vez mais valorizados, o esporte entra definitivamente na arena global, independentemente de onde a propriedade esportiva acontece”.

Além disso, o fã de esporte espera cada vez mais que ele seja protagonista e não apenas mais um espectador. “O fã do esporte quer ser protagonista, ele não quer ficar sentado, quer interagir. O fã vai deixar de ser uma audiência passiva e vai passar a fazer parte do espetáculo e isso irá mudar o ambiente esportivo. O mercado, as marcas e os detentores de direitos precisam estar atentos a isso, para saber de que forma você vai atingir o seu fã e qual experiência você vai gerar para eles”, finaliza.

Comentários