Preso, Nuzman renuncia à presidência do COB para se dedicar à própria defesa

(Foto: Reuters)


Após 22 anos na presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman renunciou ao cargo nesta quarta-feira. Preso em Benfica, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o dirigente havia pedido afastamento no último fim de semana e agora encerra oficialmente seu vínculo com a entidade. A renúncia foi comunicada aos presidentes das confederações olímpicas brasileiras durante Assembleia Extraordinária na sede do COB, na Barra da Tijuca, através da leitura de uma carta assinada por Nuzman. No texto, Nuzman alega inocência e afirma que se dedicará inteiramente à própria defesa. O documento foi entregue por um dos advogados dele, Sergio Mazzillio, que fez uma defesa de seu cliente durante 20 minutos - sem aplausos no fim.

- Venho, pela presente, reiterar os termos de minha correspondência, datada de 6 de outubro de 2017, em especial a minha completa exoneração de qualquer responsabilidade pelos atos a mim injustamente imputados, os quais serão devidamente combatidos pelos meios legais adequados. Considerando-se, todavia, a necessidade de dedicar-me, integralmente, ao pleno exercício do meu direito de defesa, renuncio de modo irrefutável e irretratável ao cargo de Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, bem como ao de membro honorário de sua Assembléia Geral - diz o documento.

Na mesa da Assembléia Extraordinária Geral do COB estavam os presidentes Ronaldo Bittencourt (hipismo), Marco La Porta (triatlo), Alberto Maciel (taekwondo), Ricardo Machado (esgrima), Matheus Figueiredo (desportos no gelo) e Silvio Acácio Borges (judô), além do ex-vice/interino Paulo Wanderley, que agora assume definitivamente a presidência da entidade até o fim do mandato, em 2020. Haverá eleição apenas para a vice-presidência.

Presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Miguel Cagnoni revelou que o clima da Assembleia foi tranquilo e que foi instaurada uma comissão para a reformulação do atual estatuto do COB. Fazem parte desta comissão os presidentes das confederações de esgrima, Ricardo Machado; vela, Marco Aurélio de Sá Ribeiro; e atletismo, José Antonio Martins Fernandes; além do judoca Tiago Camilo, presidente da comissão de atletas.

Antes do início da sessão, ex- atletas, dirigentes e pessoas ligadas à Federação de Tênis de Estado do Rio de Janeiro protestaram na porta do COB. Os manifestantes cobraram direito de voto para os atletas e convocação de novas eleições na entidade.

Apesar da renúncia da presidência do COB, Nuzman permanece na presidência do Comitê Rio 2016. Uma manobra calculada, já que o escritório de Nélio Machado, um dos advogados de Nuzman, representa apenas os dirigentes vinculados à entidade. No pedido de prisão preventiva de Nuzman, inclusive, o MPF apresentou uma troca de e-mails na qual o dirigente autorizou o o pagamento de R$ 5,5 milhões ao escritório. Nélio Machado negou que se tratasse de uso de uma posição de poder em benefício próprio e afirmou estar trabalhando de graça.

Nuzman foi preso temporariamente na última quinta-feira por ser apontado como elemento central de conexão para o pagamento de propina do governo do Estado Do Rio de Janeiro para a compra de votos na eleição que definiria o Rio como sede olímpica de 2016. Nesta segunda, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, acatou um pedido do Ministério Público Federal (MPF) e decretou a prisão preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Juntamente com a Polícia Federal, o MPF conduziu a operação “Unfair Play”, braço da Lava Jato no Rio, que culminou também na prisão do braço-direito de Nuzman, Leonardo Griner, ex-diretor de operações do COB.

Os advogados de Nuzman então entraram com um novo pedido de habeas corpus, em caráter liminar, na madrugada desta terça-feira. No documento, eles pediram a liberdade imediata do dirigente, negando a participação dele em esquemas ilícitos ligados à Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. No entanto, o desembargador federal Abel Gomes pediu esclarecimentos às partes antes de tomar uma decisão.

Nuzman tornou-se alvo das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Francês por supostamente ter facilitado o contato entre Arthur Soares, empresário vinculado a operações ilícitas do ex-governador Sérgio Cabral, e Papa Massata Diack, filho do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack. Lamine, além de votante na eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), era figura de grande influência para outros votantes do bloco africano.

Em junho de 2008 o Rio de Janeiro foi anunciado oficialmente como cidade candidata a sede dos Jogos, ao lado de Chicago, Tóquio e Madri. Foi a primeira vez que passou da primeira fase do processo do COI, após duas eliminações. A Assembleia que definiu a sede foi realizada em outubro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca. Chicago e Tóquio foram as duas primeiras eliminadas na rodada de votação. Na final contra Madri, o Brasil venceu por 66 votos a 32.

Globo Esporte

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