Sobreviventes do "assassinato" de técnicos, Levir e Marcelo Oliveira repassam carreiras

 (Foto: Reprodução/RPC)


Eles têm um vasto currículo recheados de títulos e com experiência no futebol que o fazem conhecer bem os bastidores do esporte. Também têm em comum a relação com dois estados: Minas e Paraná.

O mineiro Marcelo Oliveira é o atual técnico do Coritiba, onde teve seu primeiro grande destaque na carreira durante a campanha de 2011-12 e que lhe abriu as portas para a conquista do bicampeonato brasileiro com o Cruzeiro. O curitibano Levir Culpi construiu parte de sua história no Atlético-MG e Cruzeiro. Atualmente é dono de um restaurante de comida mineira na capital paranaense.

Entre vários quitutes da vasta e saborosa culinária mineira, os dois se reuniram para contar dos laços que os mantém como amigos, em uma entrevista exclusiva para a repórter Nadja Mauad, do Globo Esporte.

As memórias de amizade existem desde os tempos de jogadores - com elogios de ambas as partes -, mas também no pensamento consciente de que o futebol brasileiro esconde problemas que eles vivenciaram na pele.

Criador de frases, Levir Culpi define os dias de hoje no trabalho como "assassinato" de técnicos e se considera, ao lado de Marcelo Oliveira, como um dos sobreviventes da época.

- Estou completando 50 anos de carreira, tivemos muita sorte. Trabalhamos em times grandes, temos o mercado aberto nesses novos tempos que estão inventando o assassinato de técnicos. Acho que fizemos alguma coisa boa.

Levir Culpi passou por uma demissão no Santos neste ano, no mínimo, curiosa. Ele foi anunciado fora do time no dia 20 de agosto, mas a notícia foi desmentida pela diretoria do clube horas depois. Passados oito dias, após derrota de 2 a 1 do Santos para o São Paulo, ele acabou demitido. Marcelo Oliveira também teve uma demissão surpreendente em meio à final da Copa do Brasil de 2016, quando o Galo perdeu o primeiro jogo por 3 a 1 para o Grêmio, que acabou campeão.

- É difícil explicar assim, mas tem uma parte política que envolve e que é a parte suja do Brasil. A política no Brasil é desastrosa e provoca catástrofes, acompanhando no Brasileiro, que acha que acontece na gestão dos clubes? Ela é feita por políticos. Sinceramente não sei explicar (a demissão no Santos), não houve um motivo específico, mas consigo entender pelos anos de bola. Consigo entender a situação política dos dirigentes, pois eles são pressionados. Vai ter eleição no Santos, que são quatro chapas, então tem três chapas torcendo contra o time, porque se o time for bem, ele não elege, disse Levir.

A gestão dos clubes também preocupa o técnico Marcelo Oliveira, que vê uma migração não saudável de profissionais de outras para área para o futebol e com interesses que vão além da área. Para ele, a crise econômica modificou também os interessados em gerir o futebol.

- Uma coisa da política dos clubes que me incomoda também é que que o país está numa crise, mas no futebol circula muito dinheiro. Então migrou muita gente de outros setores que não tem nada a ver com o futebol e vieram comandar os clubes. Eles têm um interesse nesse aspecto econômico, interesse por vaidade ou querem ser políticos. Depois se candidatam a cargos políticos e isso é muito ruim. Ou é um apaixonado apenas.

- Desses aí, o único que tenho dó é do apaixonado. Ele gosta do clube, mas não sabe o que fazer, completa Levir.

O desmantelamento dos times a cada temporada também é parte de um problema vivenciado pelos técnicos nos dias de hoje. Expoentes de uma era do futebol brasileiro onde os jogadores se identificavam com uma equipe por quase toda a sua carreira, eles lamentam não poder contar com os mesmos times, que provocam a queda e a necessidade de uma reconstrução da equipe a cada ano.

- Os principais times brasileiros têm a capacidade de perder os seus times. O Cruzeiro foi dois anos campeão e, se mantesse o time, teria anos maravilhosos. Mas perdeu sete, oito jogadores e tem que formar um novo time, uma nova história em meio a jogos frequentes e decisivos, lembrou Marcelo Oliveira.

- O Vinicius Jr (jogador do Flamengo), por exemplo, a gente não conhece. Ele foi vendido antes de jogar profissionalmente. Para se ter uma estabilidade com um time é muito difícil, porque o mercado provoca isso. O agente de futebol é mais um problema, porque ele é mais uma pressão porque se jogador do agente não tiver jogando é culpa do técnico. Para se manter um time estabilizado no Brasil tem que ter muita sorte, completou Levir.

Dentro do cenário do futebol, Levir e Marcelo também revelam já não se preocupar mais com a repercussão das opiniões sobre eles na mídia. Ambos criticam a super exposição pelos quais os times passam, além do calendário que transforma os clássicos em jogos banais e também a necessidade de que analistas possuem de chamar atenção através de críticas raivosas.

- É uma overdose, um exagero de programas e jogos em todos os horários e todos os dias. Se não deixar repercutir um resultado de clássico perde um pouco a graça. Quando joga um Atletiba, por exemplo, se tiver um jogo só no outro domingo é legal, que mantém o futebol, mas joga na quarta e já perde a graça. Acho que isso pode tirar o interesse das pessoas porque fica vulgar. A gente é do meio, mas já passa direto pelos comentaristas, porque o próprio comentarista tem que chamar atenção, então o que ele faz: agride o técnico e isso magoa um pouco, afirmou Levir.

Globo Esporte

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