Defesa de Marin pede a anulação do julgamento nos EUA e espera a decisão da justiça: "Entre 6 e 8 semanas"

(Foto: Reprodução)


Durou exatamente duas horas a audiência em que uma Corte de Apelação (segunda estância) em Nova York, analisou os argumentos apresentados pela equipe de advogados de José Maria Marin, que pede a anulação do julgamento em que foi condenado por 4 anos de prisão.

O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, foi julgado e considerado culpado de seis das sete acusações feitas pelo departamento de justiça americana e está preso em uma penitenciária de segurança mínima no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Dona Neusa, esposa de Marin, esteve presente na audiência em que foram expostos argumentos de defesa para anular as condenações. Os advogados do ex-presidente da CBF se dedicaram à trabalhar na ideia de que os crimes julgados teriam sido praticados no Brasil, onde não há prevista a lei de corrupção privada.

Por sua vez, a promotoria contra-argumentou destacando a quantidade de dinheiro ilegal envolvido nas práticas de Marin e o impacto disso nas instituições dos Estados Unidos.

Depois da audiência, um dos advogados de José Maria Marin, dr. Julio Barbosa, falou com exclusividade para a reportagem do GloboEsporte.com.

- Nós apresentamos nossa apelação no começo de outubro, o governo (promotoria) fez sua réplica, e no final de novembro os autos subiram. Hoje foi o julgamento da apelação, o que no Brasil seria correspondente à uma câmara com três juízes. Governo apresenta seus argumentos e a defesa também apresenta seus argumentos. Nós estamos pedindo a anulação do julgamento e não uma reforma da sentença. A apelação que fizemos está baseada naquilo que entendemos ser um cerceamento de defesa. São basicamente quatro pontos e o principal dele é que não foi possível seguir a lei brasileira. Em nosso entendimento, todos os fatos, ou 98% dos fatos descritos ocorreram fora dos Estados Unidos. No caso de José Maria Marin, esses casos aconteceram no Brasil, e a lei brasileira não prevê o crime de suborno comercial, chamando assim em uma tradução livre. Na verdade não existe o suborno privado, ou a corrupção privada, e isso não pôde ser arguido. E a importância disso é em relação à intenção do suposto autor do crime, é algo muito importante - explicou o advogado de José Maria Marin, Julio Barbosa.

A defesa já havia enviado um documento de 25 páginas com o pedido para que o julgamento fosse anulado. Nesta quinta-feira, estes argumentos escritos foram discutidos no tribunal, e a expectativa é de que ainda demore até dois meses para que ocorra uma decisão em relação ao apelo da defesa de Marin.

- A decisão pode vir em um dia, o que é improvável, em duas semanas ou em dois meses. Tendo em vista a complexidade do caso, o número de páginas que constitui o caso inteiro, são milhares de argumentos. E os argumentos hoje se limitaram à dois ou três tópicos por causa da limitação do tema, espero sendo otimista, entre 6 e 8 semanas, que haja uma decisão. Em função da decisão, veremos os próximos passos. Tudo além disso é meramente especulativo. (...) Os juízes fazem perguntas durante as exposições, tanto para defesa quanto para promotoria e não demonstram em expressão facial nenhum tipo de inclinação, mas dentro do contexto nós ficamos bastante satisfeitos - disse Barbosa.

O ex-dirigente da CBF tem 88 anos e chegou a apresentar problemas de saúde no ano passado, quando condenado no Tribunal do Brooklyn, em Nova York. Antes mandado para uma prisão considerada de péssimas condições no Brooklyn (MDC Brooklyn), foi enviado à uma presídio com melhor estrutura e considerado de segurança mínima, no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

- Ele é uma pessoa de 88 anos, e como alguém dessa idade, não são as mesmas condições de quem tem 40, ou 60 ou até 70 né?! Na medida em que o tempo passa, nós ficamos obviamente preocupados mas no geral ele está relativamente bem, consideradas as circunstâncias, e a mente dele está bastante lúcida. Isso é importante, e independente da liberação, nós estamos trabalhando para que ele seja liberado - disse o advogado.

Entenda o caso

Em dezembro de 2017, José Maria Marin foi considerado culpado de seis dos sete crimes pelos quais foi acusado pela promotoria da Justiça americana. São eles: organização criminosa (1x), fraude bancária (3x) e lavagem de dinheiro (2x). Eles estão ligados a Copa Libertadores da América, Copa do Brasil e Copa América e cometidos entre os anos 2012 e 2015, período em que Marin foi presidente da CBF. Na mesma ocasião, o cartola foi absolvido de acusação de lavagem de dinheiro relativa à Copa do Brasil.

Marin não esteve sozinho. Nesse mesmo julgamento, o júri popular formado na corte, em Nova York, também condenou o ex-presidente da CONMEBOL e da Associação Paraguaia de Futebol Juan Angel Napout por organização criminosa e fraude bancária.

Já em 2018, a Justiça americana condenou José Maria Marin a quatro anos de prisão. Além disso, Marin teve US$ 3,35 milhões (R$ 13,6 milhões, na cotação da época) imediatamente confiscados, além de uma multa de US$ 1,2 milhão (R$ 4,9 milhões).

A investigação feita pela justiça americana se tornou pública em maio de 2015, quando José Maria Marin e mais cinco dirigentes de futebol de outros países foram presos em um hotel na Suíça. À época, o dirigente brasileiro aceitou ser extraditado para os Estados Unidos e ficou de 2015 a dezembro de 2017 em prisão domiciliar, em seu apartamento de luxo, no prédio Trump Tower, em uma das áreas mais caras de Nova York.

Globo Esporte

Comentários