Além de medalhas, Olimpíadas são uma grande vitrine para debate sobre o corpo dos atletas

Goleira Bárbara foi alvo de críticas por sua forma física (Foto: Reprodução)


Por Nicholas Araujo
Redação Blog do Esporte


As Olimpíadas de Tóquio foram palco de um dos assuntos menos falados entre os atletas, mas que é muito importante quando falamos de rendimento e alta performance. Além do corpo, o atleta precisa estar com saúde mental em dia ou então não estará 100% para encarar o peso dos Jogos Olímpicos e outras competições.

Além do fato envolvendo a ginasta Simone Biles, que comentamos aqui no Blog do Esporte, outro assunto que estourou nos Jogos foi o corpo físico de algumas atletas. A goleira brasileira Bárbara, por exmplo, foi um dos grandes alvos dos críticos, que falaram que a atleta estava acima do peso para defender o gol do Brasil.

Bárbara respondeu as críticas, algumas de forma agressiva, e chegou a criticar uma atleta paralímpica por um comentário nas redes sociais. De acordo com psicanalista Lelah Monteiro, esse comportamento está dentro dos torcedores pelo próprio comportamento e, na maioria das vezes, pela própria mídia.

“Vou te dizer que a própria mídia, os closes que dão. Eu tenho acompanhado isso nas Olimpíadas. Muitas vezes a câmera não está na bola, mas, infelizmente, está no bumbum da atleta. A própria mídia vende, as pessoas compram e as pessoas querem ser notícias, então é um ciclo vicioso, é um padrão cultural estabelecido”, disse.

Uma outra polêmica que ocorreu no começo dos Jogos foi com seleção de handebol da Noruega, que se recusou a se apresentar de biquini, e foi multada por descumprir o uniforme oficial. Houve quem apoiasse e quem criticasse as atletas. Segundo Lelah, esses julgamentos são péssimos para os atletas.

"Isso acaba com a sua saúde mental, a pessoas não vão aguentando. A gente viu isso, não só com a Simone Biles, mas outros atletas que não dão conta porque não conseguem responder a tudo isso, não conseguem seguir esses padrões”.

Pandemia

A psicanalista também aponta que a pandemia foi um dos fatores mais importantes para esse descontrole emocional. “A pandemia intensificou tudo e os atletas são pessoas comuns, só estão nos Jogos neste momento, mas estão sofrendo. Os atletas sentiram muito, muitos clubes ficaram fechados, seus treinos foram prejudicados, o equilíbrio mental que se dá pela socialização não tiveram, a incerteza se teria Olimpíada”.

Além disso, alguns atletas acabaram desistindo dos Jogos, pelo cuidado com a saúde ou com medo de como seria a convivência na Vila Olímpica. Essas desistências, por exemplo, levaram as tenistas Luisa Stefani e Laura Pigossi para Tóquio, pois as atletas não tinham vaga garantida. Elas só conseguiram disputar os Jogos pelas desistências das duplas classificadas.

Intolerância

Lelah também aponta que, menos sem a pandemia, estamos vivendo uma época de intolerância. Este foi o caso, por exemplo, da eliminação da seleção feminina de futebol, que foi criticada por não conquistar uma medalha para o Brasil.

“Isso tem a ver com a expectativa. Quantas medalhas as pessoas fizeram, somos ainda o país do futebol, falaram tanto que o futebol feminino é melhor e não dá resultado. Esse ano foi o ano das mulheres, as mulheres que levaram mais medalhas. Por que uma seleção tão comentada, tão popular, não levou uma medalha? Tem sim essa intolerância pelo histórico de cobrança”, comenta.

Olimpíada

Assim, quando falamos de Olimpíadas, também falamos de um papel social importante. Para Lelah, os Jogos são uma ótima oportunidade para se falar sobre a saúde mental dos atletas.

“O debate sempre ajuda. Podemos ver, nas Olímpiadas, que em algumas modalidades as pessoas têm padrões diferentes. Se formos olhar as modalidades variam muito, entre os esportes, variam pelo tipo de raça, só a gente olhar os atletas. Quando nós temos uma saúde mental melhor, nós julgamos menos”.

Por fim, a psicanalista dá uma dica valiosa para esses tempos de incerteza. “Vamos colocar a terapia, a atividade física, o não julgamento, o desenvolvimento pessoal como uma premissa de se viver melhor, uma forma até de nós, pós pandemia, considerarmos que esses são pilares importantes da saúde de todo o ser humano”.

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