Abertura das Paralimpíadas celebra inclusão e incentiva pessoas com deficiência

(Foto: Getty Images)


Pela segunda vez na história, Tóquio teve a honra de declarar abertos os Jogos Paralímpicos. Primeira cidade a ter tal privilégio por ter sediado também o evento em 1964, a capital japonesa celebrou nesta terça-feira o início das Paralimpíadas de 2020. O evento vai até 5 de setembro.

Apesar de modesta em comparação a edições anteriores e sem público em virtude da pandemia de Covid-19, a festa emocionou ao homenagear o Afeganistão, ao promover reflexões sobre inclusão e igualdade e incentivar as conquistas de uma parcela tão expressiva da população mundial, mas ainda discriminada.

Todos nós temos asas

O enredo da parte artística teve como fio condutor a história de um avião de apenas uma asa. Na metáfora lúdica, a pequena aeronave tinha desistido de tentar voar. Ela se anima ao ver outros seis aviões com diferentes características/deficiências e ao deixar o "para aeroporto" e ver outros exemplos encorajadores. É incentivada a sonhar, realizar e alçar voo independentemente de suas aparentes limitações.

O cenário montado para a abertura das Paralimpíadas pôs em prática a acessibilidade em pequenos detalhes. A pira foi exposta em uma plataforma mais baixa do que na cerimônia das Olimpíadas, para que ficasse à altura dos olhos dos atletas, em grande parte cadeirantes. O deslocamento sobre rodas, inclusive, se mostrou possível pela presença de rampas.

A entrada dos Agitos, símbolos das Paralimpíadas, foi emocionante. Formados por balões vermelho, azul e verde gigantes, refletiram exatamente a ideia de sua essência, o conceito de "eu me movimento". Os 22 esportes do programa dos Jogos, incluindo os estreantes parabadminton e parataekwondo, foram representados em vídeo.

Também foi celebrada a campanha "#Wethe15", "Nós os 15", na tradução para o português. Ela lembra que 15% da população mundial, cerca de 1,2 bilhão de pessoas, têm algum tipo de deficiência e aspira ser o maior movimento de direitos humanos da história.

Afeganistão homenageado

A parada das nações, em que os membros das delegações desfilam no estádio, foi modesta, e muitas cadeiras ficaram vazias. Por causa da situação política do Afeganistão, tomado pelo Talibã, o país não vai mais disputar as Paralimpíadas de Tóquio. A bandeira do país, porém, esteve na abertura como homenagem aos atletas que não conseguiram deixar o país e em solidariedade a toda a população afegã.

A Nova Zelândia foi o único dos 162 países presentes nestas Paralimpíadas, com 32 atletas, a não participar da abertura por precaução contra a Covid-19. Voluntários foram responsáveis por conduzir o pavilhão no Estádio Olímpico e Paralímpico de Tóquio.

Se no desfile como um todo foi respeitada a ordem do alfabeto japonês, as três últimas delegações foram Estados Unidos, França e Japão. Os americanos receberão os Jogos em Los Angeles em 2028, os franceses sediarão o evento em Paris em 2024, e os japoneses encerraram a parada como os atuais anfitriões.

Mami Tani, do triatlo, e Koyo Iwabuchi, do tênis de mesa, foram os porta-bandeiras do Japão. É a maior delegação dos Jogos com 254 atletas com deficiência. Vale ressaltar o uso de máscaras por todas as delegações, sem exceção, diferentemente do que se viu nas Olimpíadas.

Outros países, como o Brasil, optaram por levar grupos reduzidos à festa. O Comitê Paralímpico Brasileiro selecionou Petrúcio Ferreira (atletismo) e Evelyn Oliveira (bocha) como porta-bandeiras, e Alberto Martins (diretor técnico do CPB) e Ana Carolina Alves (técnica da classe BC4 da bocha e staff de Evelyn) completaram o número mínimo exigido.

A alegria da dupla de atletas era evidente, e Petrúcio puxou uma dancinha animada para extravasar a emoção e foi tietado por um estrangeiro. Vale lembrar que o paraíbano é o atleta paralímpico mais rápido do mundo e ostenta o título de campeão paralímpico dos 100m na classe T47 na Rio 2016, além de bicampeão mundial nas edições de 2017 e 2019 e recordista mundial na distância.

Evelyn também foi medalha de ouro na Rio 2016 nas duplas mistas da bocha na categoria BC3 ao lado de Antônio Leme, o Tó - Evani da Silva foi reserva. Ao todo o Brasil terá 253 atletas competindo Tóquio, número menor apenas do que o dos anfitriões.

As diferenças que fortalecem

A abertura dos Jogos foi declarada oficialmente pelo imperador Naruhito, logo após discursos da presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Seiko Hashimoto, e do presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons.

- Nós agora vamos além das memórias dos Jogos Olímpicos para receber os Jogos Paralímpicos. (...) Todo mundo passou por enormes desafios na pandemia de Covid-19. Gostaria de expressar minha gratidão a todos, inclusive àqueles dos serviços médicos. Gostaria de agradecer a todos que trabalharam tão duro para que estes Jogos pudessem acontecer. Vamos continuar tomando todas as medidas de prevenção da Covid 19 - disse Hashimoto.

Andrew Parsons também reforçou os desafios impostos pela pandemia e reforçou a necessidade de união entre os povos e para usar as diferenças como fator de inclusão, não de discriminação.

- Não posso acreditar que finalmente estamos aqui. Mas graças aos esforços de muitos o evento mais transformativo do planeta está prestes a começar. Os Jogos certamente são uma plataforma de mudança, mas apenas a cada quatro anos não é suficiente. Cabe a todos e a cada um de nós fazer a sua parte para fazer uma sociedade mais inclusiva.

- Quando a humanidade deveria se unir contra a Covid-19 houve um desejo destrutivo de quebrar essa harmonia. Vendo o que nos une, focar nos fatores que nos diferenciam, alimenta a discriminação. Isso enfraquece o que queremos alcançar como raça humana. A diferença é uma força, não uma fraqueza. O mundo pós pandêmico deve abarcar uma sociedade onde as oportunidades existam para todos.

Na parte final da cerimônia finalmente o fogo paralímpico entrou no estádio nacional. Foram reunidas chamas acesas em cada uma das 47 prefeituras do Japão e em Stoke Mandeville, no Reino Unido, berço do movimento paralímpico.

Três grandes nomes do esporte paralimpíco carregam a tocha, passam para profissionais da saúde até chegar nos três atletas que acendem a pira paralímpica

Três trios conduziram as tochas dentro do estádio, com Yui Kamiji, do tênis em cadeira de rodas, Shunsuke Uchida, da bocha, e Karin Morisaki, do halterofilismo, sendo os responsáveis por acenderem, juntos, a pira paralímpica.

Globo Esporte

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