Apuração que investigou interferência da CBF no tapetão não ouviu entidade

(Foto: Reprodução)


A CBF não foi ouvida no inquérito aberto para apurar se houve interferência da entidade em pelo menos uma decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O procedimento ouviu apenas Paulo Schmitt, procurador-geral e alvo da denúncia, e o auditor Washington Rodrigues, que pediu a abertura da apuração.

Segundo o corregedor do órgão, Ronaldo Piacente, nenhum deles confirmou que houve assédio por parte da entidade para influenciar em qualquer sessão. O corregedor foi indicado para o cargo por Marco Polo Del Nero. Ele nega, diz que foi apenas "apoiado".

A informação do arquivamento foi publicada na tarde de quarta-feira pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Blog. Segundo Piacente, a CBF não precisou ser ouvida porque o autor da denúncia disse que não levaria o caso adiante.

"Não vi motivos para ouvir a CBF após saber que o próprio autor não queria continuar com a ação", disse o corregedor.

O inquérito foi aberto após matérias da ESPN revelarem que Paulo Schmitt conversava sobre as decisões do tribunal com membros da CBF, entre eles o presidente Marco Polo Del Nero e o diretor-jurídico Carlos Eugênio Lopes. Numa das conversas por email, o procurador diz textualmente que Washington (auditor) foi "alertado sobre a repúdia da CBF".

"O relator, Dr. Washington Rodrigues, apesar de alertado sobre a repúdia da CBF, entendeu que 'não foi nada demais', uma vergonha a meu ver", diz o procurador em mensagem, anunciando que tentaria reverter a decisão no Pleno, a segunda instância do tribunal.

Pelos princípios jurídicos, o auditor deveria ser livre para agir conforme seu próprio entendimento. Sem pressões. Mas não foi o que os emails mostraram. Por ter absolvido o clube em questão, o Atlético-MG, a CBF se mostra indignada:

"Qual a origem desse auditor fazedor de média?", pergunta o diretor Carlos Eugênio Lopes.

Os participantes da conversa ainda combinam uma forma de "anular" o referido auditor.

Corregedor é candidato à presidência do STJD

Ronaldo Piacente, atual corregedor, é candidato à sucessão de Caio César Vieira Rocha à presidência do STJD. A mesma reportagem da ESPN revelou que ele foi indicado para o órgão por Marco Polo Del Nero, embora ocupe a vaga de indicação da Associação Nacional dos Árbitros (ANAF).

Questionado se o fato de ter sido indicado por Marco Polo o deixava na situação de suspeito para julgar caso de interesse da CBF, ele disse:

"Não fui indicado, apenas apoiado".

Até o momento, Piacente é o único candidato à presidência do órgão. A eleição será no dia 14 de julho. Na mesma sessão, se dará a escolha do procurador-geral. Paulo Schmitt, que ocupa a vaga há dez anos, desistiu de disputar mais uma eleição. Após as matérias que mostravam a pressão exercida por ele nas decisões dos auditores, doze dos principais clubes do país pediram a saída dele do cargo.

Schmitt se desgastou nos últimos anos após denúncias de que ele teria relações indevidas com membros da CBF e de outras entidades esportivas.

Antes dos e-mails serem revelados, a ESPN já havia publicado reportagem mostrando que o procurador foi investigado por ter recebido e tentado negociar ingressos da CBF durante a Copa do Mundo. Em outras matérias, o jornalista Lúcio de Castro, no UOL, mostrou como ele ganhou seis licitações para a assessoria jurídica da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).

ESPN

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