Brasil quer seguir exemplo de Holanda e EUA para aperfeiçoar uso do VAR no Brasileirão

 (Foto: Alexandre Battibugli/FPF)


O árbitro de vídeo, ou VAR, na sigla em inglês, ainda é algo novo no Brasil. Utilizada pela primeira vez no país em competições oficiais nas quartas de final da Copa do Brasil no ano passado, a tecnologia só entrou na rotina de jogadores, torcedores e profissionais envolvidos com o futebol em 2019 - sendo utilizado nos principais torneios e na reta final dos campeonatos estaduais.

E será comum também na rotina de quem vai estar no Campeonato Brasileiro. Este ano, o VAR vai estar presente em todos os 380 jogos do Campeonato Brasileiro. E apesar das críticas que vem sofrendo, os árbitros de futebol acreditam que, com o tempo, a tecnologia será melhor assimilada por todos os envolvidos com o esporte.

- O árbitro precisa apitar esquecendo que tem o árbitro de vídeo lá atrás. Ele precisa conduzir o jogo da melhor maneira possível, deixar tempo de bola em jogo, e saber que, no momento em que ele precisar, em que ele for cometer um equívoco, o árbitro de vídeo vai estar lá para ampará-lo - afirmou Leonardo Gaciba, novo chefe de arbitragem da CBF.

Mas tem jogador e treinador que ainda não se acostumaram com o VAR.

- O chato é que você comemora e não sabe se foi gol depois - disse o atacante Luan, do Atlético-MG.

Levir Culpi, ex-técnico do Galo, comentou em tom de brincadeira.

- Você fica com medo de comemorar o gol. Você olha pro juiz, pro bandeira, pro banco...

Mas não são apenas os jogadores e treinadores que ainda não se acostumaram com o VAR. Pelas ruas, muito torcedor não sabe sequer o significado da sigla VAR.

- Não tenho a mínima ideia. O que que é isso? - disse um deles.

- VAR? Nunca ouvi falar - afirmou outro.

Mas para muito fã do futebol, o árbitro de vídeo tem sido um avanço para o futebol brasileiro.

- Acho que ele capta algumas falhas que o juiz ou o bandeirinha não percebem. Vale a pena - analisou um outro torcedor.

O VAR estreou em jogos oficiais na Copa da Holanda, em 2016. O protocolo da Fifa era o mesmo de hoje: a tecnologia deveria ser usada apenas para avaliar a marcação de pênaltis, impedimentos, lances de cartão vermelho e na identificação de jogadores punidos com cartão. Naquela ocasião, em um primeiro momento, o objetivo era dar experiência aos árbitros. Agora, em 2019, a preocupação é com a transparência.

- Acreditamos que para melhorar a arbitragem precisamos investir em transparência. No dia seguinte aos jogos, nós fazemos um clipe mostrando os áudios dos juízes e os replays das jogadas. Assim, tudo fica mais claro para as pessoas. Mas meu sonho é que isso seja em tempo real na televisão, durante os jogos. Isso será ótimo para o futebol - disse Gijs de Jong, secretário geral da Federação Holandesa de Futebol.

Nos Estados Unidos, o uso do vídeo para auxiliar o árbitro em ligas como a NBA (basquete) faz parte da cultura esportiva do país. Lá, o VAR foi bem aceito. A Major League Soccer (MLS) adotou a tecnologia em 2017 e, apesar dos progressos, segue aperfeiçoando o sistema.

- O VAR esta funcionando muito bem aqui nos Estados Unidos. Não é perfeito. Nunca será, mas tem feito um bom trabalho em resolver questões complicadas. Minha maior preocupação é que, às vezes, quando você observa um lance em câmera lenta, parece diferente de como aconteceu de fato. Acho que muitas vezes decisões são baseadas no que foi visto em câmera lenta. Isso precisa ser levado em consideração - disse Grant Wahl, jornalista da Sports Illustrated.

Atuando na MLS há oito temporadas, o brasileiro Felipe Campanholi, hoje no Vancouver Whitecaps, viveu a era pré-VAR. O jogador foi testemunha da implementação e consolidação da tecnologia do árbitro de vídeo em uma liga que hoje desfruta de seus benefícios.

- No começo foi bem difícil porque é necessário um tempo grande pra ter habilitação da jogada. Mas com o tempo eles estão melhorando muito e está sendo muito eficiente. O tempo para fazer a checagem é muito menor do que há dois anos atrás.

Hoje, o tempo em que os árbitros estão levando para confirmar uma decisão é uma das principais diferenças do uso do VAR no Brasil e no exterior. Na Liga dos Campeões, por exemplo, o juiz italiano Gianluca Rochi levou 47 segundos para confirmar o gol contra de Shaw no duelo entre Manchester United e Barcelona.

Por outro lado, o árbitro Flavio Rodrigues de Souza levou três minutos e doze segundos para anular o gol de Deyverson na semifinal do Campeonato Paulista entre Palmeiras e São Paulo.

- A premissa é de fazer as coisas corretas, quem merece, quem fez a coisa correta, o gol foi legal, é uma dimensão maior. Agora agilizar isso é um processo todo, é uma evolução - analisou o técnico Tite, em sua passagem pelos Estados Unidos.

A questão a partir de agora é que o protocolo da Fifa seja seguido à risca.

- A gente sabe que a regra do VAR prevê que o árbitro seja chamado em erros claros, mas temos visto que em muitos lances interpretativos o árbitro está sendo chamado. Acho que isso acaba confundindo a cabeça do telespectador e dos próprios árbitros - disse o ex-árbitro Sandro Meira Ricci, comentarista de arbitragem da TV Globo.

Globo Esporte

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