Por que a COVID-19 pode acelerar a entrada de investidores no futebol brasileiro?

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Estamos hoje em meio a um momento importante na história da humanidade, mas também do futebol brasileiro. A afirmação soa dramática, mas nem tanto se pensarmos que a COVID-19 pode ser o acelerador definitivo para muitas das mudanças estruturais com as quais o nosso futebol vem flertando há algum tempo.

O contexto atual envolve uma agenda positiva para a flexibilização dos modelos societários no futebol, graves crises de liquidez nos clubes, muito potencializadas pela COVID-19, que já gerou demissões e cortes de gastos drásticos, e histórica desvalorização do Real, de modo que, pela primeira vez, investidores institucionais, grandes clubes globais, venture capitals e até mesmo investidores-anjo podem vislumbrar novos caminhos neste setor. Apesar de todas as questões estruturais, o futebol é o conteúdo mais endemicamente enraizado na cultura brasileira, tomando boa parte da vida dos quase 150 milhões de torcedores, estimulando consumo, gerando aproximadamente 150 mil empregos e movimentando uma diversidade de indústrias em seu entorno.

Se antes do estouro da COVID-19 as alternativas trazidas pelo modelo "Clube-Empresa" e a presença de novos investidores já eram bastante atrativas aos olhos de muitos, após os problemas de liquidez hoje enfrentados, incluindo suspensão de pagamentos de patrocínios, direitos de transmissão, queda em até 50% no número de sócios-torcedores e eliminação da receita de bilheteria, projetamos que a ampla discussão sobre a regulamentação do "Clube-Empresa" tenda a se acelerar uma vez que o combate à COVID-19 esteja melhor endereçado. Com isso, o futebol brasileiro pode entrar em um período de grande ajuste estrutural, dentro do qual virar empresa não resultará em obrigatoriamente se tornar o PSG ou o Manchester City do Brasil, mas poderá garantir um cenário de maior saúde e estabilidade financeira que proporcionará melhorias a todos os envolvidos na cadeia no período pós-COVID e em seus desdobramentos.

O processo de abertura do mercado já começou: o bem sucedido caso de fusão do tradicional Bragantino com a Red Bull, que já em 2019 fez ótima campanha e conquistou o acesso à Série A do Brasileiro, tem forte viés de ineditismo e abre a porta para outras negociações deste tipo. Como o Red Bull, outros Clubes já estão organizados para a transição pro modelo corporativo, se preparando para receber investimentos e reestruturar suas operações em modelos mais eficientes e profissionais.

A oportunidade é clara para o investidor: o principal mercado exportador de futebol do mundo encontra-se em crise financeira e de gestão, ambas acentuadas pela COVID-19, que acelerou os problemas de liquidez dos Clubes brasileiros, com mercado consumidor subaproveitado e possibilidade de aceleração de receitas de direitos de transmissão no futuro, fazendo com que o valor de seus ativos esteja abaixo do patamar projetado. Do outro lado, o contexto político-legislativo apresenta perspectivas interessantes já no curto prazo.

Ao realizar negócios no Brasil, o investidor se deparará com um mercado de moeda enfraquecida e que possui amplas oportunidades de geração de receitas tradicionais, novas alternativas no ambiente digital e no relacionamento com marcas. Ao mesmo tempo, os baixos custos de manutenção da atividade esportiva, quando comparados aos mercados europeu e americano, e a vasta oferta de talentos no Brasil, criam um cenário atrativo para a prospecção de talentos, com potencial de revenda e utilização no mercado do futebol global.

Além de ser atrativo do ponto de vista de geração de valor para o novo investidor e acionistas, o país tem uma população absolutamente apaixonada pelo esporte, criando uma base sólida de consumidores e potenciais novos fãs para marcas estrangeiras em expansão.

Por tudo isso, a COVID-19 pode ser o acelerador definitivo para atrair capital novo e estruturar o principal conteúdo e entretenimento brasileiro em uma nova realidade profissional que permita a ele acessar o seu máximo potencial.

* Pedro Oliveira é sócio-fundador da OutField, uma consultoria focada nos negócios do esporte e do entretenimento. A empresa nasceu para que o esporte na América Latina, a começar pelo Brasil, alcance seu potencial e se aproxime da grandeza das indústrias americana e europeia, aproximando o mercado esportivo do entretenimento por meio da inovação.

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