Coordenador médico da CBF acha inviável confinamento de atletas: "Ninguém nada em dinheiro"

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)


Enquanto o Brasil discute se é a hora ou não de afrouxar as medidas de isolamento social, o futebol caminha para a retomada após quase três meses de suspensão das competições no país. A CBF encomendou um protocolo médico a ser seguido pelos estados, que por sua vez têm a autonomia de acrescentar novos itens de segurança.

Quem está à frente das discussões é Jorge Pagura, coordenador médico da CBF, e que vem sendo requisitado para dialogar com os estados no intuito de afinar os protocolos. Na última quarta-feira, ele participou de uma videoconferência com árbitros paraibanos, convidado pela comissão estadual de arbitragem. E, na oportunidade, deixou evidente a dificuldade de seguir o exemplo adotado na Europa, especialmente no que se refere ao confinamento dos atletas.

– Essa ideia surgiu na Europa, só que por lá eles estão no fim da temporada. Mas é inviável aqui para o Brasil. Nós temos mais de mil jogos pela frente no país. Isso falando de competições profissionais. E como a gente faz? - perguntou.

Jorge Pagura foi além e disse que a questão dos testes para detectar a Covid-19 no mundo do futebol (não só os jogadores, mas todos os envolvidos numa partida) também é um problema a ser resolvido antes de se falar na volta das competições nacionais.

- Vamos dizer que eu isolo todo mundo, testo dois dias antes de cada partida: não temos dinheiro para isso, nem testes suficientes. Talvez no final do campeonato estadual, isso dê certo, mas acho que ninguém está nadando em dinheiro para fazer isso (Jorge Pagura, coordenador médico da CBF).
- Podemos pensar quanto tempo as delegações vão ficar isoladas... Ninguém vai querer. O nosso país é continental. Não dá para fazer isso. É muita coisa, muito time, tanto no masculino quanto no feminino. Assim, é melhor não se falar em futebol, porque não vai ter dinheiro para isso – concluiu o coordenador médico da CBF.

Aprender a conviver com a Covid-19

Na opinião de Jorge Pagura, o melhor que o mundo tem a fazer é aprender a conviver com o novo coronavírus. Ele acredita que, mesmo depois que a epidemia for controlada, as pessoas precisarão conviver com a Covid-19 por um longo tempo - pelo menos, até a criação de uma vacina. Alguns especialistas vêm alertando que pode ser uma doença endêmica, ou seja, sem a possibilidade de uma erradicação a curto prazo.

Pagura repetiu o que já havia dito em maio, que o rigor do protocolo fará do futebol uma das atividades mais seguras do mundo. Ainda assim, reforçou que nada terá 100% de segurança.

- Quando shoppings e parques estiverem abertos, não vai existir lugar mais seguro que os estádios de futebol. Mas não temos condições de fazer aqui o que se fez na Alemanha, na França... Vamos seguir o nosso protocolo e, infelizmente, vamos ter que conviver com a doença, porque vai virar uma endemia, como outras doenças que estamos tendo que conviver no Brasil. Segurança 100%, ninguém vai ter. Mas eu lembro: nós queremos fazer futebol quando tudo estiver liberado, não agora – garantiu o médico da CBF.

Por fim, mandando uma mensagem direta para os árbitros, Pagura sugeriu que todos se preparem para a retomada do futebol, que deve acontecer em breve já em alguns estados. A CBF, por enquanto, ainda não definiu o calendário para as competições nacionais - além da conclusão da Copa do Brasil, ainda há pela frente os campeonatos das séries A, B, C e D.

- Os árbitros vão ter que estar preparados para a volta do futebol. Isso só vai ser permitido quando as autoridades que possuem o conhecimento epidemiológico liberarem as atividades. O presidente Rogério Caboclo é muito claro na sua posição: ele não quer forçar exatamente nada, muito menos uma retomada do futebol durante uma pandemia. O que ele quer é que, assim que for liberado pelos municípios, o futebol volte com segurança - garantiu Pagura.

Globo Esporte

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