Em eleição nesta quinta, TJD-RJ vai eleger primeira mulher presidente e renovar maioria de auditores

(Foto: Elise Duque - TJD-RJ)


O Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro elege nesta quinta-feira nova diretoria com mudanças de boa parte dos auditores e, provavelmente, com candidatura única. Renata Mansur, atual auditora, do Pleno do TJD caminha para ser conduzida à presidência da casa. Será a primeira mulher a presidir tribunal desportivo no Rio de Janeiro. Ela vai substituir Marcelo Jucá, que completa dois mandatos consecutivos - dois anos cada, quatro no total.
A eleição será transmitida pelo YouTube da Ferj, às 19h, e será feita via aplicativo de vídeo com os demais auditores indicados para assumir cargos no TJD. Além da presidência, serão renovados também cargos da maioria dos auditores da casa (cerca de 80%), todos em fim de mandato. Assim como a procuradoria geral, hoje de André Valentim.

Candidata única até o fim desta quinta-feira, Renata Mansur é formada pela UFRJ, mestrando pela PUC-SP, advogada (tem escritório que atende principalmente áreas cível e empresarial) e professora universitária. Indicada por representantes de árbitros de futebol para a eleição, ela é filha do ex-presidente do TJD José Teixeira e começou na área desportiva em 1999 como auditora de comissão disciplinar de vôlei. Passou por tribunais de atletismo e Futebol 7 também até ser convidada em 2008 como primeira mulher no TJD.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, Renata vê sua possível chegada à presidência do TJD como sinal de "abertura de caminhos" no meio esportivo para as mulheres.

- Existe machismo grande (na área). Algo que foi trazido de que a área jurídica desportiva não é lugar para mulher. Isso foi sendo desmistificado ao longo dos últimos anos. Quando cheguei, em 2008, não tinha mulher nenhuma. Eu fui a primeira no TJD. Em 2012 ou 2013 começaram a vir mulheres para o tribunal do futebol. Agora posso ser a primeira na história na presidência de tribunal desportivo. Acho que é uma conquista da minha trajetória. Da minha competência, da minha expertise no tema e também vejo vontade do tribunal, pois até agora não tem outro candidato - comentou Renata Mansur.

"Julgamos com coração na mão"

O ano de 2020 foi marcado por série de discussões que saíram do campo e dos arbitrais de clubes para os tribunais esportivos. Questionada sobre como viu a participação do TJD neste processo e como projeta eventual presidência, Renata destacou que o momento é de renovação.

- É uma fase de renovação obrigatória. Os auditores no Pleno podem ficar oito anos. Só vão ficar três, o restante vai mudar. Então vai ser uma renovação depois de oito anos. Quero imprimir o empoderamento técnico nas decisões do TJD. Vivemos movimento de se tirar poder dele (do TJD), tanto no âmbito legislativo quanto político - disse Renata.

A candidata vê o TJD como melhor caminho para a competência de questões disciplinares do futebol e é "totalmente contra" à criação de tribunais privados, previstos em projetos de lei, que poderiam substituir os esportivos.

Renata Mansur foi uma das auditoras que participou do julgamento da Cabofriense e do Nova Iguaçu, mantidos na Série A após sessão do Pleno na última terça-feira. Ao mesmo tempo que deferiu o pedido dos clubes, ela lamentou a decisão, pois não atendeu ao resultado do campo, que previa rebaixamento à dupla.

- Julgamos com o coração na mão. Só podemos julgar alguma coisa quando alguém em contrário. Mas não havia. Eles (clubes) fizeram pedido (pelo não rebaixamento). Quem era a outra parte? Não tinha. Não houve jeito. Demos procedência e vai caber agora à procuradoria defender interesses garantidos dos torcedores. Que, no caso, é do resultado do campo - disse.

A ação de André Valentim, que pediu a transmissão da final da Taça Rio pela Fla TV, depois do Fluminense ganhar o mando de campo em sorteio, também foi caso atípico, entendeu Renata. Ela lembra que era questão contratual de direito de transmissão e envolvia Medida Provisória assinada pelo governo federal. O tribunal, reforça, "não tem nada a ver com contratos, mas a procuradoria também tem caráter de zelar pelos interesses difusos".

- Num primeiro momento o Fluminense não disse que transmitiria. No segundo momento, o Fluminense disse que tinha a Flu TV. Pronto. Era assunto encerrado. Depois veio uma sequência de erros. O relator deu uma liminar que não precisava, o caso já estava resolvido. O Fluminense ia transmitir - lembrou.

Questionada sobre críticas que o tribunal recebeu recentemente, como a feita pelo presidente do Fluminense, Mário Bittencourt - no Instagram, cobrou posicionamento de André Valentim, chamando de "procurador rubro-negro" -, Renata Mansur comentou:

- Este episódio não é saudável. Tem que ter respeito. Cada um na sua ponta. Houve excesso de vários lados. Não vou julgar ninguém. O Valentim não estava torcendo para ninguém.

Em 2014, depois de vitória do Flamengo sobre o Vasco na final, vazaram nas redes sociais fotos de Renata comemorando o título sobre o rival. À época, ela lamentou a associação e lembrou que fazia julgamentos técnicos no ambiente jurídico desportivo.

Globo Esporte

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