Entrevista: Rubens Barrichello

Durante o 1° Barrichello Kart Day, evento realizado por Rubens Barrichello para passar um dia com a imprensa, o site da Revista RACING conversou com o competidor da Brawn GP sobre vários assuntos ligados à competição, desde sua atual fase até os planos para o futuro. Confira, abaixo, como foi esse bate-papo:


Qual palavra define sua atual fase na Fórmula 1?

Positiva. Ela não é fantástica porque ainda não estou em 1° lugar no campeonato, mas é muito positiva.


Qual é a diferença do Rubens de hoje para o que entrou na F1 em 1993?

Mais do que tudo, eu sinto uma evolução mental. Você acaba gastando menos energia com coisas pequenas, com coisas que não valem a pena. Mas, em relação a guiar, não mudou muito. É claro, você acaba tendo uma experiência a mais, lidando melhor com o acerto do carro, mas acho que a “tocada” em si é muito parecida com a de quando entrei na F1.


Você se considera um dos melhores acertadores da categoria?

Sim. Porque foi o que sempre fiz, desde o kart. Minha escola foi muito de acertos de carros e trabalhei muito em cima disso. Algumas vezes, a equipe nem mexia no kart e perguntava qual era a diferença. Então, eu fui muito testado nisso. Meu aprendizado foi ótimo nessa área. E, agora, há 17 anos trabalhando na F1, vale a experiência.


Você está 16 pontos atrás de Button no campeonato. Como irá encarar as últimas corridas?

Vou continuar indo para cima, como fiz em Spa. Poderia ter conseguido mais, mas de qualquer maneira tirei 2 pontos no campeonato, o que já foi positivo.


Existe algum receio de a equipe favorecer o Button?

Eu acho que, se fizessem isso, eles estariam perdendo em um total, porque a Red Bull não está longe no campeonato de construtores e favorecer algum piloto, agora, seria errado. Por isso, também posso dizer que é um momento favorável para mim. Em Valência, tive uma boa chance de tirar proveito e diminuir a diferença de pontos, porque dali para frente podia existir, sim, uma definição de primeiro piloto.


Como você vê esta atual fase do Button?

Olha, não tenho muita coisa para apontar. A fase dele não pode ser negativa, já que ele está 16 pontos à frente no campeonato. De certa forma, acho que muito se falou daquelas seis vitórias, mas não daria para continuar daquele jeito. Eu sempre achei que uma hora iria dar uma diminuída. Foi assim que aconteceu e temos de aproveitar ao máximo quando aparecem essas oportunidades. Ele é um grande piloto e estará sempre por cima.


Depois de sua vitória, em Valência, o Ross Brawn falou que quer você na equipe em 2009. Como está seu contato com essa e com as outras equipes?

Eu sou uma pessoa que, pelos 17 anos que estou na Fórmula 1, demoro um pouco mais para entrar e sair do autódromo, porque conheço muita gente, falo com muita gente. Tenho conversado com alguns dirigentes. O melhor para mim é que não demore muito tempo para definir algo. Foi um sofrimento desnecessário no ano passado ficar até janeiro sem fechar contrato. O importante é mostrar que eu tenho vontade. Fisicamente, estou em minha melhor fase. Se for para falar em números, digo que tenho 100% de certeza de que quero continuar competindo.


A Ferrari anunciou que o Felipe não corre mais até o fim do ano. Como você vê isso?

Eu espero que não seja verdade. Eu estava esperando muito que ele pudesse retornar no GP do Brasil. Ele está realmente ansioso para voltar a guiar, você sente isso ao conversar com ele. Ele se sente fisicamente bem. Então, se não puder guiar este ano, será uma pena muito grande.


Sobre o escândalo da Renault, como você vê a figura do Flavio Briatore hoje?

É muito difícil falar. Não é algo bom para a Fórmula 1. Alguém está querendo a cabeça do Briatore. Não é uma coisa que acontece normalmente. Até que me provem o contrário, acho impossível que alguém jogue o carro no muro para que outra pessoa da equipe possa ganhar a corrida. Mas acredito que a verdade possa vir à tona, porque, desta vez, temos todas as gravações de rádio. Então, indo buscar, pode aparecer a verdade.


Como você avalia o ritmo da Force India em Spa?

Existem duas provas com carga aerodinâmica baixa: Monza e Spa. Na Bélgica, a gente chegava a quase 330 km/h, depois da Eau Rouge. Eu acho que, como eles viram no inicio do campeonato que tinham um carro rápido com baixa carga aerodinâmica, conseguiram aperfeiçoar isso para duas provas. Assim, uma equipe que não tinha pontos e não andava tão na frente teve um carro sensacional em Spa. Em minha opinião, é isso que acontece. Depois de Monza, acho que podem até disputar a Q3, mas não dessa forma.


Você se imagina chegando ao GP do Brasil, vencendo e sendo campeão?

É algo um pouco distante ainda. Mas eu vivo em um dia a dia de positivismo. Às vezes, as pessoas me chamam de sonhador, mas aquele que não sonha não vive. Aquele que não sonha não almeja. E eu sonho grande, como sonhei em ter um carro que pudesse ser competitivo (devo dizer que ele é até mais competitivo do que eu imaginava). O importante é isso, é agradecer pelas coisas que eu tenho e poder, agora que estou em uma situação boa, ir para cima e tirar o melhor proveito possível.


Você acha que seu lado emotivo já o prejudicou em algum momento?

Eu acho que chorar no pódio é uma dádiva. Não é algo triste. Algumas pessoas têm vergonha de chorar. Mas eu tive de trabalhar muito minha emoção dentro do carro. Afinal de contas, tem hora que você fica emotivo porque tomou uma fechada, porque bateu, e, nesse sentido, consegui “zerar”. Foi um feito grande em minha carreira. Mas, como eu disse, não tenho vergonha de me sentir emotivo nas vitórias e em momentos emocionantes. Dentro do carro, porém, sou uma geladeira.


Você acha o KERS imprescindível hoje na Fórmula 1?

Não. Eu acho que existem pistas que favorecem demais o sistema, mas ainda penso que são aqueles 25 a 30 kg que você fica carregando a mais e que, em pistas de alta velocidade, não favorece tanto. O que tem sido bom para eles, hoje, é na largada e nas disputas. Estava muito difícil tentar ultrapassar aquela McLaren (de Kövalainen, em Spa). Era quase um Mach 5 (do Speed Racer): quando eu colocava de lado, ele apertava o botão e sumia na frente.


Quem você considera o melhor piloto da F1 hoje em dia?

Acho que o Alonso é o competidor mais completo da atualidade.


Você pretende virar dirigente, como fez o Gerhard Berger...

Não. Eu amo pilotar. A Fórmula 1 tem altos e baixos, aquela politicagem e uma série de coisas que eu não gosto. Eu tenho prazer mesmo é de guiar o carro e, quando isso acabar, pode ter certeza de que volto a morar no Brasil.


Você pretende correr por aqui?

No Brasil eu assisto muito a Stock Car. Falo bastante dela e acho uma categoria muito competitiva. Adoraria, um dia, testar o carro. Mas não penso que seja algo imediato. Tem quem me pergunte se eu estaria correndo lá em 2009 se não estivesse na F1. E minha resposta é “não”. Eu teria tirado um ano de folga na Disney. (risos)

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