Presidente da FPF-PE recua após criticar Mirassol na Série A, mas diz: "Continua um clube sem camisa"
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| (Foto: Rafael Vieira/AGIF) |
Oito meses após causar polêmica ao afirmar que o Mirassol não tinha perfil de time de Série A, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF-PE), Evandro Carvalho, mudou de ideia. Hoje, com o clube paulista vivendo ótimo momento no Brasileiro, o cartola confessa: surpreendeu-se com o desempenho do time comandado por Rafael Guanaes.
O Mirassol é atualmente o quinto colocado do Brasileirão, com 28 pontos. Invicto há nove partidas, está a um ponto de entrar no seleto grupo das quatro melhores equipes da elite do Brasil. Atuando dentro de casa, no estádio Maião, ainda não perdeu, por exemplo.
Evandro citou essa mudança de perspectiva em entrevista ao portal LeiaJá, nesta terça-feira. Procurado pelo ge, confirmou a declaração e se estendeu.
"Aquela frase refletiu o momento do clube, naquele momento não era equipe de Série A. O que o Mirassol tinha na época? Disputou alguma Série A? Alguma competição internacional? Não. Hoje, ele é (de Série A). É simples. Não tem dificuldade não", afirmou.
O presidente da FPF-PE, todavia, carrega um contraponto ao próprio argumento, ponderando que as métricas que definem o tamanho de um clube não deveriam ser aplicadas só por critérios técnicos, como desempenho esportivo, mas também por consideração ao contexto.
— O Mirassol não é uma equipe, do ponto de vista comercial, econômico-financeiro, não é de Série A. Nem é de Série B. Tecnicamente, do ponto de vista desportivo, está à altura dos clubes da Série A. Mas você considera o tamanho de um clube o seu histórico, o lado comercial, o que ele agrega de visibilidade, evidente que a equipe do Mirassol não fica no nível de Fortaleza, Bahia, etc — contextualiza.
"Me surpreendeu pela qualidade, competitividade. Mas continua sendo um clube sem camisa, sem tradição, sem história. E não é plausível pensar que em 30, 40 anos, vai se comprovar em clube de camisa", ressalta.
Evandro, nesse ínterim, resgata o modelo de Campeonato Brasileiro organizado pelo ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para defender a tese de que o futebol deveria ter "critérios de classificação" não somente ligados à conquista de pontos. Teixeira comandou a confederação entre 1989 e 2012, sendo o mais longevo dirigente a ocupar o cargo de chefe máximo do esporte nacional.
—Eu tenho um conceito: pode haver espaço para clubes sem camisa, mas não pode deixar de haver espaço na Série A para clubes de camisa. Eu tenho um conceito que já foi vigente e praticamente unanimidade no Brasil, de Ricardo Teixeira, que era um conceito de que existia "steps", critérios de classificação — justifica.
— Evidente que clubes menores, vamos chamar assim, clubes empresas que possuem, que têm como atividade fim o futebol, elas devem também ter o espaço. Mas que esse espaço não retire a participação dos grandes clubes — acrescenta o presidente da FPF-PE.
Evandro Carvalho destaca, ainda, que no modelo atual, é justo o Mirassol disputar a Série A e também acrescenta projeção pessoal de que deve o Leão deve terminar o campeonato no top-10. O cartola revela estar acompanhando alguns jogos do clube e cita Reinaldo, ex-Sport e São Paulo.
O lateral é o artilheiro do Mira no Brasileirão, com sete gols marcados.
— O nosso futebol mostrando que produz bons jogadores, como Reinaldo, que jogou no Sport e saiu xingado. Só acho que a gente peca quando a gente copiou muito a Europa e só vale ponto. E o futebol brasileiro não é feito disso. Setenta por cento é desempenho e 30% representatividade. A CBF é engessada e não conseguimos encontrar alternativas que Ricardo Teixeira criou. Muita gente não tem coragem de dizer, mas eu tenho — encerra o mandatário da Federação Pernambucana.
Globo Esporte
