Repórter relata tensão no meio da torcida do Palmeiras: "Estávamos encurralados"

(Foto: Reprodução)


De férias, estive nesta noite de 26 de abril no Campeón del Siglo. Como o estádio do Peñarol fica longe do centro de Montevidéu, me juntei a alguns amigos em um comboio de ônibus e vans organizados por palmeirenses. Foi com esta mesma van – agora escoltada por policiais – que conseguimos retornar para o local onde estamos hospedados. Apenas duas horas depois da partida.


Partida marcada por uma virada épica do Palmeiras, que fez três gols no segundo tempo depois de levar 2 a 0 antes do intervalo. Mas, infelizmente, marcada também por duas batalhas entre os lados rivais após o apito final: uma entre os jogadores no campo (sobre a qual eu fui ter detalhes bem depois) e outra na arquibancada.

A da arquibancada eu vi de perto. Minha primeira reação foi óbvia: tentar encontrar algum abrigo em que pudesse me proteger dos objetos atirados. Agora, horas depois da confusão, posso afirmar: escapamos todos de uma tragédia.

Até porque não havia policiais na divisa entre nós, visitantes, e os uruguaios localizados no setor mais popular do estádio. Quem fazia a segurança eram poucos funcionários particulares (de coletes laranjas), claramente despreparados para conter uma briga do tamanho da que ocorreu.

O confronto começou depois de uma terceira bomba arremessada pelos torcedores do Peñarol, que já haviam lançado outras duas no primeiro tempo. Uma delas, ainda no início do jogo, só assustou. A segunda, no 2 a 0, motivou a torcida organizada do Palmeiras a tentar passar do cerco pela primeira vez, sem sucesso.

Quando o árbitro encerrou a partida, a terceira bomba explodiu e muita coisa começou a voar. Uma parte das barreiras que separavam os dois lados foi forçada e se abriu.

Os brasileiros foram para cima, mas um contra-ataque uruguaio acabou forçando um recuo. Os uruguaios tentavam avançar pelo espaço aberto junto ao alambrado do campo, mas foram contidos pela organizada do Palmeiras, que se dividiu em duas frentes ao notar que a torcida do Peñarol tinha conseguido pular outra parte da barreira, esta mais próxima da entrada visitante e, suponho, fora do alcance das câmeras de televisão.

Foi o momento mais tenso. Estávamos encurralados. Senhores, jovens e algumas crianças. Muita correria, pedras, pedaços de pau e barras de ferro surgiram de todos os lados.

A polícia demorou a ter autorização para agir. Até lá, quem segurou a investida dos torcedores do Peñarol e os afastou nas duas frentes foi a organizada do Palmeiras. Aqui não se trata de um relato com juízo de valor, negativo ou positivo, muito menos de apologia à violência. Fato é que, qualquer que fosse a motivação, uma enorme tragédia foi evitada, pois não existia qualquer saída para os cerca de dois mil brasileiros.

Vi pessoas machucadas. Vi pessoas com mancha de sangue na roupa. Vi um adolescente ser atingido por algo (uma pedra?) e começar a sangrar. Vi o pai dele tentando tranquilizá-lo, dizendo que "não tinha acontecido nada". Vi o medo.

Quando a polícia decidiu aparecer e tudo se acalmou, ainda foi preciso esperar mais do que o habitual como visitante.

O clima ainda era de tensão (algumas pessoas vomitaram, outras passaram mal), e todos sabíamos da necessidade de mandar notícias para nossos parentes no Brasil. Pouquíssimas pessoas tinham sinal de internet. Até nisso houve solidariedade entre palmeirenses: pessoas roteavam o sinal para que todos pudessem tranquilizar suas famílias.

Os portões foram abertos a 1h06. Minutos depois, escoltados, ônibus, vans e carros com palmeirenses (grande parte deles "comuns", alguns com ferimentos leves) finalmente puderam voltar em segurança para o centro de Montevidéu, em uma noite linda, mas triste para o futebol.

Globo Esporte

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