Ex-diretor relata ameaças de morte após GP de Abu Dhabi

(Foto: Bryn Lennon/Getty Images)


Mais de sete meses após uma das maiores polêmicas da história recente da F1, o ex-diretor de provas da Federação Internacional do Automobilismo (FIA) Michael Masi quebrou o silêncio e falou sobre os ataques que recebeu devido ao desfecho do GP de Abu Dhabi de 2021 - que coroou Max Verstappen como campeão mundial mas foi considerado um "erro humano" em relatório da entidade. O australiano disse ter recebido ameaças de morte e detalhou o abalo psicológico causado no episódio.

- Houve alguns dias sombrios. Eu me senti o homem mais odiado do mundo. Recebi ameaças de morte. As pessoas diziam que iriam atrás de mim e da minha família. Foi chocante. Racista, abusivo, vil, eles me chamaram de todos os nomes existentes debaixo do sol. E continuam chegando. Não apenas no meu Facebook, mas também no meu LinkedIn, que deveria ser uma plataforma profissional para negócios - revelou.

Masi foi criticado por uma série de decisões questionáveis ao longo da temporada 2021, marcada pela antológica rivalidade entre Verstappen e Lewis Hamilton. Mas a "cereja do bolo" foi o não-cumprimento do regulamento esportivo a partir da entrada do safety car acionado pela batida de Nicholas Latifi no GP de Abu Dhabi, última etapa do ano, a cinco voltas para o fim da prova.

Apenas cinco carros - que separavam o líder Hamilton e Verstappen - retardatários receberam permissão para se realinharem no grid, quando a regra diz que todos devem fazê-lo. Além disso, o carro de segurança deixou a pista uma volta antes do indicado pelas regras após o reposicionamento dos atrasados, o que faria a prova terminar em bandeira amarela, com o piloto da Mercedes na frente.

Com isso, o holandês da RBR, que havia trocado seus pneus, ganhou fôlego e espaço para dar o bote no heptacampeão e ultrapassá-lo na última volta da prova. A Mercedes chegou a protocolar dois protestos e ameaçou apelar à Corte Arbitral do Esporte (CAS), mas desistiu do caso.

No começo de 2022, a FIA, já sob gestão de Mohammed Ben Sulayem, trabalhou na formulação de um inquérito sobre a prova. O relatório final considerou o desfecho da corrida como um "erro humano", mas isentou Masi de intencionalidade, considerando a pressão sobre o cargo, a livre interpretação das regras e o acúmulo de funções como alguns dos fatores. O título de Verstappen foi mantido.

Masi foi imediatamente afastado do cargo, que hoje é dividido com os diretores Niels Wittich e Eduardo Freitas (com suporte do veterano Herbie Blash), e decidiu deixar a entidade em julho. Porém, sua retirada da F1 não amenizou os ataques e o impacto psicológico segundo o australiano, que voltou a morar em seu país natal depois de retirar-se da FIA:

- Eu não queria falar com ninguém, nem mesmo com família e amigos. Eu só conversei com minha família mais próxima, mas muito brevemente. Tive um impacto físico também, mas foi mais mental. Eu só queria estar em uma bolha. Eu só queria ficar sozinho, o que foi muito desafiador. Mas toda a experiência me tornou uma pessoa muito mais forte.

Masi era vice-diretor de provas na FIA até a morte do experiente titular, Charlie Whiting, às vésperas do GP da Austrália de 2019.

O australiano assumiu o cargo no qual permaneceu por três anos, acumulando ainda a função de Delegado de Segurança e chefe esportivo da comissão de monopostos da entidade, substituído nela em janeiro por Peter Bayer (este, por sua vez, deixou o posto em julho, dando lugar à ex-assessora da Mercedes, Shaila-Ann Rao).

Outras polêmicas

Masi foi criticado por Sebastian Vettel no GP da Bélgica por ter liberado os carros debaixo de muita chuva, ocasionando o forte acidente de Lando Norris que suspendeu a classificação.

Outra decisão polêmica tomada pelos comissários, comandados pelo australiano, foi a isenção à uma manobra de Verstappen, que espalhou o carro sobre Hamilton no GP de São Paulo e tirou o rival da pista.

Globo Esporte

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