"Estou pronto para o melhor da minha vida", diz Fratus sobre a Rio-2016

(Foto: Satiro Sodré/SS Press)


Chamado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) para dar uma palestra na última sexta-feira (22), o ex-jogador de vôlei Giba, 39, levou à sede da entidade as três medalhas olímpicas que obteve durante a carreira. Exibiu as láureas na frente da plateia e fez com que elas circulassem entre o público, composto majoritariamente por atletas que haviam se classificado para a Rio-2016. Quando chegaram ao nadador Bruno Fratus, 27, ele se deteve no ouro de Atenas-2004. Esfregou o objeto em silêncio por alguns instantes como se quisesse retirar bons fluídos dali. A menos de quatro meses dos Jogos Olímpicos deste ano, a maior esperança de pódio individual das piscinas brasileiras tem motivos de sobra para ver diante de si a grande chance da carreira.

“Eu nunca estive tão bem fisicamente, emocionalmente ou mentalmente. O Bruno de hoje dá um pau desgraçado no Bruno de quatro anos atrás. Estou bem confiante que estou na melhor forma de todo o ciclo”, disse Fratus em entrevista ao UOL Esporte. “Estou pronto para fazer destes Jogos a melhor e maior competição da minha vida. É esse o empenho que eu estou colocando na preparação”, completou.

Fratus foi o quarto colocado dos 50 m livre em Londres-2012. Nadou a prova em 21s61 e ficou a dois centésimos do compatriota Cesar Cielo, 29, que obteve o bronze – o francês Florent Manaudou completou o percurso em 21s37 para faturar o ouro olímpico.

“Eu sou atleta há dez anos. Vou estar com 27 anos na Olimpíada, e na próxima eu vou ter 31. Não teria problema nenhum se eu fosse campeão olímpico nestes Jogos, nadasse a prova mais rápida da minha carreira e porventura não conseguisse manter os resultados. Se o resultado desta Olimpíada for o que eu venho buscando em dez anos de natação profissional e depois disso eu venha a cair, não vou ficar lutando contra”, disse Fratus.

Até hoje, o único ouro olímpico da natação brasileira saiu justamente dos 50 m livre. O feito foi obtido por Cesar Cielo, 29, em Pequim-2008. Depois disso, o paulista dominou a prova em âmbito nacional até o ano passado, quando foi destronado por Fratus no Troféu Maria Lenk.

Aquele resultado corroborou um processo de evolução de Fratus, mas foi uma espécie de virada no jogo. Depois do Maria Lenk de 2015, o nadador engatou bons tempos. Conquistou a medalha de bronze nos 50 m livre do Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia) com 21s55 e nadou a prova em 21s37 na primeira seletiva brasileira, em Palhoça (SC).

A evolução de desempenho entre as duas provas tem a ver com um processo de reconstrução do nado de Fratus. O velocista treina em Auburn (Estados Unidos) com Brett Hawke, mentor de Cielo no ouro olímpico de 2008. O técnico tem trabalhado para mudar totalmente a biomecânica de largada do brasileiro.

“Em Palhoça eu consegui executar bem a largada. Fez uma baita diferença na minha prova. A gente continua trabalhando e evoluindo, buscando uma constância nessa saída. O plano não é chegar ao Rio fazendo dez saídas perfeitas a cada dez, mas melhorar. Se eu fazia 50%, cada saída pode ser 80% ou 90%. Buscamos a eficiência nessa saída para chegar ao Rio a ponto de não ficar dependendo de um acerto. É chegar lá e fazer”, explicou Fratus.

Nadador sofre com dor nas costas e lamenta resultado deste ano

Fratus nadou os 50 m livre em 21s74 e conquistou o Troféu Maria Lenk de 2016. Além disso, ratificou uma das vagas brasileiras para a prova nos Jogos Olímpicos – cada país pode inscrever até dois atletas por disputa individual, e Ítalo Duarte será o outro representante nacional.

A reação de Fratus depois da prova, contudo, diz muito sobre o nadador. Ainda na área da piscina do Estádio Aquático Olímpico, questionado acerca da prova que havia acabado de vencer, ele foi enfático: “Foi horrível”.

“Tenho lidado há duas ou três semanas com um desconforto na lombar, apesar de estar trabalhando com todo suporte médico da CBDA [Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos] e do COB. Eu andei dando uma travadinha antes da competição”, relatou Fratus. “Quando você usa, acaba gastando um pouco. Fiz um movimento esquisito no treino, pegou de mal jeito, e eu ainda dormi errado por cima. Ficou meio chato para tirar. É uma série de contraturas, mas a gente está trabalhando para que isso não volte e que não aconteça mais”, adicionou.

O tempo de Fratus no Maria Lenk foi o sexto melhor da temporada. Entretanto, ficou aquém dos 21s37 que ele havia registrado em Palhoça (segunda melhor marca do planeta em 2015).

O futuro: Fratus voltará a treinar nos EUA e descarta nadar revezamento

Além de tratar a contratura nas costas, Fratus voltará a treinar em Auburn durante a fase final de preparação para os Jogos Olímpicos. A ideia do brasileiro é disputar apenas algumas competições nos Estados Unidos até a Rio-2016, mas esse cronograma ainda não foi fechado. Não haverá ações especiais – treino em altitude ou viagens para países com condições específicas de clima, por exemplo.

A preparação de Fratus para os Jogos Olímpicos será exclusivamente voltada aos 50 m livre. O nadador não pretende nem treinar os 100 m livre – ele fez parte do revezamento que conquistou o quarto lugar do 4x100 m livre em Kazan-2015.

“Acho que há muito tempo o 4x100 m livre do Brasil não faz tanto sentido. Você tem quatro nadadores de 100 metros. Você não tem dois de 100 metros, um de 200 metros e um de 50 metros. Não consigo lembrar a última vez em que o revezamento fez tanto sentido. Com isso sendo dito, minha prova é a de 50 m livre. Foi a prova em que eu me classifiquei. Vou focar nisso. É natural que seja isso”, avisou Fratus.

“Eu estou para fazer isso há muito tempo. Não treino para os 100 m livre, não gosto de nadar os 100 m livre. Não é algo que me dá prazer de competir. Lógico, eu adoro estar no revezamento e quero ajudar minha equipe. Quero estar com os moleques no fervor do momento, competir e ajudar. Mas eu acho que eu tenho, se não nada, muito pouco a acrescentar a esse time. Eles estão muito bem do jeito que estão”, completou o nadador.

O fato de ter descartado o revezamento, porém, não encerra a ideia de “equipe” para Fratus. O nadador ainda espera ter uma contribuição para o todo da natação brasileira na Rio-2016.

“Eu não chego lá, nado meus 50 m livre e vou embora. Eu sou parte do time e quero que todo mundo se dê bem. Quero que todo mundo esteja no auge da motivação em todos os dias, bem, em forma. Encho o saco dos caras quando vejo alguém comendo errado no refeitório ou fazendo bagunça no hotel até tarde da noite. Eu boto todo mundo para dormir. Quero ajudar o time. Não quero nadar minha prova, tirar foto e ir embora”, avisou.

UOL Esporte

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