Ponto de Opinião: CBF busca unir o futebol mesmo com escândalos na entidade

(Foto: Rafael Ribeiro/CBF)


Mesmo em volta de polêmicas e problemas administrativos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) promoveu durante essa semana o seminário “Semana de Evolução do Futebol”, no intuito de discutir várias questões sobre o futuro do esporte. 

A abertura do encontro teve a participação do técnico Levir Culpi, do técnico da seleção brasileira Dunga e do técnico da Itália, Antonio Conte. Nesse primeiro momento, os profissionais abordaram as dificuldades de cada país no futebol e quais soluções poderiam ser aplicadas, além da valorização do trabalho do técnico de futebol. Culpi atribuiu a organização brasileira pelos fracassos recentes e Dunga cobrou uma maior valorização do trabalho do treinador. 

Essa instabilidade é grande nos clubes brasileiros atualmente, que procuram por soluções imediatas e não apenas pelo trabalho como um todo. Essas trocas vão se agravando em divisões inferiores e a tradição de cada equipe. Enquanto jogadores se mantêm no elenco e não são culpados pelo mau desempenho, o técnico é sempre questionado e acaba por vezes saindo do cargo.

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No segundo dia o tema central foi à arbitragem, uma das partes mais criticadas por parte das torcidas recentemente. Segundo o instrutor Fifa e membro da Comissão de Arbitragem da Conmebol, Wilson Seneme, a arbitragem é considerada uma “terceira equipe”, o trabalho de aperfeiçoamento desses profissionais “deve considerar os elementos necessário para a preparação dos atletas, como manutenção da forma física, apoio psicológico e condições adequadas de treinamento”.

O instrutor também apontou que o árbitro necessita de um conhecimento antecipado das situações, como a história das equipes, as características dos jogadores e o contexto da partida para que os erros sejam mínimos. Muitos clubes culpam a arbitragem por erros ou até mesmo “favorecimento” para o resultado final de cada partida. A discussão da utilização da televisão como um apoio à arbitragem ainda divide dirigentes dos clubes e diretores da CBF.

Profissionalização

Todavia, a profissão de árbitro ou mesmo do famoso “bandeirinha” não é uma profissão regulamentada no Brasil. Os profissionais que se dedicam a essa parte muitas vezes tem outros empregos ou colocam a arbitragem como um “complemento” a renda familiar. Não há uma lei específica ou implantada que dispõe os devidos direitos trabalhistas aos profissionais da arbitragem.

Esse argumento é reforçado pelo ex-arbitro e hoje comentarista de arbitragem Leonardo Gaciba, que participou do encontro. Ele comentou que mesmo sendo um reconhecimento difícil, a CBF deveria pensar em profissionalizar essa atividade. O presidente da Comissão de Arbitragem, Sérgio Corrêa, informou que o investimento para a profissionalização chegaria a R$ 60 milhões por ano.

Categorias de base

Outra discussão abordada na Semana foi à categoria de base, parte importante para a chegada de novos atletas aos times profissionais. O coordenador das categorias de base da CBF, Erasmo Damiani, destacou o trabalho dos atuais técnicos das seleções de base Rogério Micale (sub-20), Carlos Amadeu (sub-17) e Guilherme Dalla Déa (sub-15).

Outro palestrante importante dessa quinta-feira (28) foi Joaquim Milheiro, coordenador do projeto “Identidade Portugal”, que relatou sobre como os portugueses organizaram suas categorias de base junto aos clubes. “Nossa filosofia foi procurar os clubes, os profissionais que lá estavam para montar nossa equipe com profissionais que conhecem. Criamos um banco de dados com informações de jogadores brasileiros observados. Queremos deixar um legado. Tudo que estamos fazendo no sentido de organização, observação e estatísticas ficará na CBF”, diz.

Futuro

Apesar de todos esses temas levantados, uma solução rápida está muito longe de acontecer. A CBF passa por problemas administrativos e ainda não solucionou o vínculo com Del Nero, que é acusado de corrupção na Fifa. Em uma realidade mais próxima, clubes no patamar de Corinthians, Flamengo e Palmeiras acumulam inúmeras dívidas que anteriormente seriam cobradas pela Confederação com a ameaçada de rebaixamento, mas a impressão que dá é que o tema foi arquivado e colocado como “isso nunca aconteceu”. 

Nem entrarei muito no mérito da questão dos times modestos, desvalorizados pelos interesses dos grandes, como pudemos ver na mudança realizada para 2017, onde os estaduais devem ser enxugados. Essas medidas apontam que a CBF se preocupa apenas com o “alto escalão”. A Semana, mesmo com os pontos positivos que ela traz, “maqueia” os principais problemas do futebol brasileiro.

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