Vettel falou, finalmente, sobre a nova e surpreendente Ferrari: "É outro animal"

(Foto: Reprodução)


Se a ordem da direção da Ferrari era para ninguém da equipe falar nada além do óbvio para a imprensa, no único contato com os jornalistas, nesta quarta-feira, Sebastian Vettel não obedeceu. No Circuito da Catalunha o piloto alemão conversou com os repórteres e mais uma vez realizou excelente treinamento com o surpreendente modelo SF70H, ao completar 139 voltas no traçado de 4.655 metros (647,0 quilômetros, mais de dois GPs) e registrar, com pneus macios, 1min19s952, segundo melhor do dia. O mais rápido foi Valtteri Bottas, com Mercedes W08 Hybrid, 1min19s705 (75 voltas), com pneus ultramacios.


Todos desejavam saber do tetracampeão do mundo, Vettel, o que pensa do carro que até agora tem sido a sensação da pré-temporada. Segunda-feira, sempre em Barcelona, Vettel deu 128 voltas (595,8 quilômetros) na pista catalã e também obteve o segundo tempo, 1min21s878, com pneus médios. A Pirelli distribuiu aos dez times todos os tipos da sua gama, cinco para asfalto seco, intermediários e os destinados a chuva mais intensa.

- Do ponto de vista do piloto, o carro é melhor em todos os aspectos. O freio é melhor, as curvas são melhores, você tem mais aderência. Em curvas de baixa velocidade, você tem maior aderência e menos efeito do downforce. E você tem mais aderência nos pneus. Funciona como uma aspirina, corrige praticamente tudo. É difícil comparar com 2016, é um animal diferente. - disse Vettel.

No segundo dia de testes, terça-feira, Kimi Raikkonen confirmou a confiabilidade e os dotes aparentes de velocidade do SF70H ao percorrer 108 vezes o traçado espanhol. Foi o mais rápido do dia, com pneus macios, 1min20s960. 

- Todo mundo tem muito trabalho pela frente. Tivemos três bons dias, poderia ter sido melhor, mas fizemos uma quantidade boa de voltas. Temos que melhorar em vários aspectos, mas o importante é que fizemos nosso trabalho. Nesse momento, temos uma lista longa de coisas para melhorar. A sensação é melhor que no ano passado. Mas todo mundo está dizendo isso. Eu não prestei muita atenção no que os outros estão fazendo, todos estão olhando para apenas uma volta, mas o mais importante é o que fazemos todos esses dias, o conjunto - garante Vettel.

Até agora, depois de três dias de testes, a Ferrari acumulou 375 voltas (128+108+139) no Circuito da Calunha, o equivalente a 1.745,6 quilômetros. Só lembrando, o GP da Espanha, a ser disputado na mesma pista, quinto do calendário, dia 14 de maio, terá 66 voltas. Outra referência é o número de quilômetros que um piloto percorre em um fim de semana completo de GP, em média 700 quilômetros. Isso quer dizer que a Ferrari já “disputou” 2,5 Gps inteiros, três sessões livres, a definição do grid e os 305 quilômetros da corrida. 

A Mercedes é quem mais treinou até agora. Entre Lewis Hamilton e Valtteri Bottas já tem 490 voltas (2.280 quilômetros), ou 3,25 Gps completos.

Que profundidade...

“Sim, demos tantas voltas, mas não foram suficientes, poderíamos ter feito mais”, disse Vettel, sempre muito breve nas respostas. A Ferrari o manteve nos boxes por algum tempo a fim de mudar o acerto do SF70H, procedimento normal, principalmente por ser um projeto completamente novo. “O carro é diferente do anterior, os pneus também. Temos muito trabalho pela frente, ainda.”

A amadora assessoria de imprensa da Ferrari programou o encontro com os jornalistas na área atrás dos boxes. Profissionais das muitas Tvs com os direitos da F1 e de outros veículos de comunicação tiveram de compartilhar um espaço bastante reduzido para ouvir Vettel. Fazer uma pergunta exigiria estar próximo do piloto, proeza impossível diante da aglomeração de câmaras.

“Esse regulamento permitiu aos carros serem mais velozes, estou me divertindo, em especial nas curvas de alta velocidade. Voltamos à época de dez anos atrás, mais ou menos”, comentou Vettel, sempre muito distante, não envolvido com o ambiente da entrevista.

A TV italiana lhe pergunta se tem uma ideia do potencial do SF70H. Resposta seca: “Não.” Emendou: “Andei dois dias no carro, a equipe teve três dias de experiência com ele, apenas, é impossível dizer. Podemos sempre olhar o tempo dos outros, mas temos de manter o foco em nós mesmos. O importante é que o carro está funcionando, não apresentou maiores problemas, desde o primeiro teste, em Fiorano, na semana passada.”

Escondendo o jogo

Enquanto para profissionais de outras escuderias a nova Ferrari emiti sinais de ter nascido bem, ser um monoposto rápido e equilibrado, para Vettel não dá para dizer nada disso, pelo que se pode entender das suas respostas. “Como falei, temos ainda muito o que fazer daqui para a frente. É cedo para falar algo sobre o carro.” 

É possível que o piloto que ganhou os campeonatos de 2010 a 2013 pela RBR tenha compreendido, para sua surpresa também, que o SF70H tem grande potencial. Se de fato o monoposto for mesmo eficiente, não é conclusivo, Vettel poderia estar reduzindo a expectativa gerada entre os fãs da Ferrari. Isso porque se depois, quando quase uma nova versão dos modelos atuais for apresentado pelas escuderias e o SF70H ficar para trás, a decepção não seria grande.

Não há dúvida de que o alemão desejou esfriar a empolgação que a própria imprensa italiana começa a alimentar com os promissores resultados dos testes, descontada a possibilidade de esses experimentos não serem por demais representativos.

A exemplo dos demais pilotos, Vettel afirmou que os pneus estão bem distintos este ano, não apenas nas dimensões, 6 centímetros mais largos na frente e 8 atrás. “Eles estão mais constantes (degradação bem menor).” Ao contrário do que foi solicitado a Pirelli em 2011, quando entrou na F1 – a produção de pneus de breve vida útil -, o pedido agora contempla a distribuição de pneus que permitam aos pilotos exigir tudo do equipamento e por muito mais tempo. “Está mais divertido pilotar.” O fato condicionará corridas distintas.

Por isso é necessário entender o máximo possível do comportamento do carro antes da abertura do mundial, dia 26 de março em Melbourne, na Austrália, lembrou o alemão. “Estamos a apenas três semanas e meia da primeira etapa. Temos de nos preparar ao máximo até lá.”

A primeira sessão de testes termina nesta quinta-feira. A segunda e última será também no Circuito da Catalunha, de terça-feira a sexta-feira. Depois disso os carros vão para a pista somente dia 24 de março, no primeiro dia de treinos livres do GP da Austrália, no Circuito Albert Park.
Muitas peças novas

Com a revisão conceitual do regulamento, pilotos e engenheiros estão aprendendo muita coisa a cada saída dos boxes. Já para o ensaio da próxima semana muitas peças novas serão testadas, algumas concebidas já a partir dos ensinamentos dos quatro primeiros dias de treinos. “Espero muitas mudanças no carro. Tenho conversado com nossos engenheiros, há vários novos componentes em produção”, disse Vettel. 

A imprensa alemã lhe pergunta qual o estágio do modelo SF70H em relação ao dos adversários. O piloto da Ferrari foi bastante objetivo: “Depois de um longo inverno, um sol como o de hoje é bem agradável”. 

A impressão de todos é que depois do fiasco absoluto do presidente da Fiat e da Ferrari, Sérgio Marchionne, no ano passado, quando afirmou que a equipe lutaria pelo título, a ordem agora é, possivelmente, não abrir a boca. A última resposta de Vettel reflete bem a provável proibição imposta pela direção da Ferrari. 

A saber, em 2016, Vettel e Raikkonen não foram candidatos a vencer o campeonato e não ganharam nenhuma etapa sequer, bem ao contrário do “garantido” por Marchionne. E ainda perderam o segundo lugar entre os construtores, obtido em 2015, para a Red Bull. 

O último dia de treinos será particular. “Organizamos 80 caminhões pipa para molhar o asfalto”, explicou Mario Isola, gerente do programa de F1 da Pirelli. “Os pilotos vão começar o teste com a pista bastante banhada, destinada a permitir que conheçam os novos pneus para chuva mais intensa. Com o andamento do teste, haverá menos água, para eles passarem para o intermediário. E, por fim, o asfalto secará, com o objetivo de deixarem os boxes com os slick (pista seca) e todos experimentem as três condições no mesmo treino, como pode acontecer numa corrida.”

A Ferrari designou apenas Raikkonen para o experimento, por ser o seu dia de acelerar o SF70H. A redução de aderência representará uma oportunidade para as escuderias entenderem melhor os projetos de 2017, no sentido de mensurar a capacidade máxima de gerar pressão aerodinâmica, acerto usado nessas condições. O teste começa às 5 horas, de Brasília, 9 horas em Barcelona.

Globo Esporte

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