Em 2010, Corinthians lutará contra a "maldição do centenário"

Quando o Corinthians foi fundado no bairro paulistano do Bom Retiro em 1° de setembro de 1910, pelo menos 50 clubes já existiam no Brasil. Parte deles sucumbiu à profissionalização do futebol, e alguns nem existem mais - casos de Santos Dumont-BA, Cattete-RJ, Minas Gerais-SP e Perez-PE. Porém, uma boa parte resistiu, e viveu nos últimos anos uma expectativa que os corintianos vivem agora: a da comemoração do centenário de fundação.

Em geral, o aniversário de 100 anos dos clubes é marcado por um ano de festas. Dirigentes prometem grandes times, títulos, grandes resultados. Alguns conseguem e se consagram na história das equipes. Outros dão o passo maior que a perna e marcam o ano com campanhas menos regulares. Como este segundo caso é um tanto quanto recorrente, costuma-se vincular os centenários dos clubes a uma espécie de "maldição", e que gera alguma preocupação nos torcedores.

O roteiro do Corinthians é semelhante ao que já foi visto antes: de olho no título inédito da Copa Libertadores, a diretoria projeta um time com nomes como Ronaldo, Roberto Carlos, Iarley, Tcheco e Danilo para 2010. Se dará certo, só o dia 1° de setembro de 2010 irá dizer. Por aqui, o Terra relembra outros centenários - de sucessos e fracassos - de alguns dos principais clubes brasileiros.

Fracassos

O primeiro grande centenário de clube do Brasil foi comemorado pelo Flamengo em 1995. Na época, o presidente Kleber Leite prometeu colocar um grande time em campo, com nomes como Romário, Sávio, Edmundo, Branco, Charles Guerreiro, Mazinho, entre outros. Cumpriu, mas aquela temporada foi considerada um grande insucesso, e o ano terminou com apenas um título na galeria do Flamengo: a Taça Guanabara.

No Campeonato Brasileiro, o time somou 24 pontos em 23 jogos e ficou bem próximo das últimas posições. Na Copa do Brasil, foi semifinalista.

O caso foi semelhante ao do Coritiba em 2009. No Campeonato Paranaense, o time perdeu o título para o Atlético-PR e o vice para o J. Malucelli, atual Corinthians Paranaense. Na Copa do Brasil, assim como o Flamengo de 1995, foi semifinalista, vendendo caro a vaga na final para o Inter.

A expectativa para o Campeonato Brasileiro era grande e os resultados do primeiro semestre eram um tanto quanto convincentes, mas o bom time formado para o centenário, com Carlinhos Paraíba, Pedro Ken, Marcelinho Paraíba, Ariel e Marcos Aurélio, foi surpreendido e sucumbiu para a Série B, decepcionando a torcida e a diretoria.

"Nosso objetivo (para 2009) era fazer uma campanha para aspirar à Libertadores, uma competição internacional. Quase conseguimos a final da Copa do Brasil, pelo menos. Fizemos uma campanha como nunca fizemos, e paradoxalmente caímos no Campeonato Brasileiro", explicou Jair Cirino, presidente do clube.

"Você tem que programar o centenário, tem que comemorar intensamente. Lamentavelmente caímos, mas vamos nos reerguer no próximo ano", prometeu o dirigente.

Com o fim das comemorações do centenário do Coritiba, Cirino reconheceu que, como já aconteceu antes com outros clubes, o ano de festa de sua equipe não foi dos mais felizes.

"O que me impressiona é que todos os clubes que comemoraram 100 anos não tiveram um bom desempenho. Não sei qual é o motivo, não vejo uma razão. Mas é fato que isso se verificou em quase todos os clubes que comemoram festivamente a data", disse o presidente do Coritiba - sem, porém, acreditar em maldição do centenário.

"Não existe isso, mas vem acontecendo. De repente, é mera coincidência. Centenário é algo bendito. Só uma grande equipe pode comemorar 100 anos", analisou.

Sucessos

Quem também se recusa a acreditar em "maldição do centenário" é Mauro Galvão. Em 1998, no ano em que o Vasco completou 100 anos, o então zagueiro foi titular na conquista da Copa Libertadores pelo clube - justamente o plano corintiano para 2010. Para o hoje diretor de futebol do Vitória, o baixo aproveitamento dos times no ano de festa é uma "coincidência".

"Não sei por que acontece. É mais uma estatística. Provavelmente a imprensa conseguiu esse tipo de pesquisa. Não saberia explicar o porquê. Talvez seja uma coincidência. Não sei, nunca acreditei nessas coisa", explicou Mauro Galvão.

A temporada de sucessos do Vasco começou no ano anterior, com o título do Campeonato Brasileiro de 1997 conquistado sobre o Palmeiras. Em 1998, além da Libertadores, o Vasco ainda faturou o Campeonato Carioca.

A base daqueles times até hoje está no imaginário cruzmaltino: Carlos Germano; Vagner (ou Válber), Mauro Galvão, Odvan e Felipe; Luisinho, Nasa, Pedrinho e Juninho; Donizete e Luizão (ou Edmundo e Evair, em 1997). O técnico era Antônio Lopes.

"Houve um planejamento em relação a formar um bom time. Em 97, começamos esse time que culminou com a conquista da Libertadores de 98. Mas ninguém poderia prever que ia se formar um time tão forte como acabou acontecendo", explicou Mauro Galvão.

"A direção talvez quisesse formar um grupo forte, talvez pelo ano do centenário. Eu cheguei em 1997, e talvez entre eles já houvesse uma conversa de investir um pouco mais. Depois, dentro de campo, é que o time acabou se encaixando", encerrou.

Curiosamente, o time que revelou Mauro Galvão para o futebol também teve motivos para comemorar no centenário. Em 2009, com um elenco equilibrado e sem dar saltos astronômicos no futebol, o Inter se mostrou ambicioso e organizado. Resultado: foi campeão gaúcho, vice-campeão da Copa do Brasil e vice-campeão brasileiro.

Projeção

Planejamento é necessário, e o Corinthians sabe disso. Quem assiste ao ano de festa do time (e do Noroeste de Bauru, que completará seus 100 anos na mesma data), vê responsabilidade na diretoria e nos jogadores que representarão o clube. No entanto, aconselha que os corintianos não se pressionem tanto em busca de um ano vitorioso.

"Acho que o clube tem que se preparar, se estruturar, para fazer sempre bem os anos. É claro que seria interessante ter um bom ano no centenário, mas a data vai chegar de qualquer forma. Vai ser um evento que vai acontecer de qualquer jeito. Eu não me preocuparia tanto com isso, e sim com a formação do time", avaliou Mauro Galvão.

A opinião é parecida com a de Jair Cirino, do Coritiba. O dirigente, no entanto, prefere ser menos incisivo e apenas confia nas decisões que serão tomadas no Parque São Jorge.

"Eu me abstenho. O Corinthians tem uma grande direção, tem um grande presidente. Espero que tenha muito sucesso nesse ano de festa e que possa fazer bons jogos com o Coritiba se eles acontecerem", esquiva-se Cirino.

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